As duas gordinhas de L.A.E



Vivemos numa altura em que o estatuto de Chef celebridade só se atinge protagonizando um programa de televisão. Para tal, nem é preciso saber cozinhar, basta ter um palminho de cara e dizer umas coisas em argentino. O turbante é opcional. Convém ser diferente em alguma coisa.

É claro que para muitos, cozinhar é uma premissa essencial. Mas será assim tão essencial para fazer um bom programa de televisão sobre comida?

Conheceria alguém o Jamie Oliver se não tivesse um programa? Não é que seja mau rapaz, mas a cozinha dele é bastante mediana. Sim, L.A.E fala de boca cheia. Porém as ideias de alguns programas são boas e interessantes.

O 15, o School Dinners e o Food revolution são bons conceitos. O primeiro fez cozinheiros profissionais de gente que não sabia distinguir uma cebola de uma batata. E são muitos mais a não distinguir do que se imagina. O segundo tentou trazer uma dieta mais saudável nas escolas inglesas. E o terceiro e mais utópico, revolucionar a alimentação na América.

Porém, L.A.E sabe distinguir lagosta de delícias do mar, o que não parece complicado. Estes são programas de entretenimento no limiar de reality show, quando um bom programa de culinária ensina receitas, técnicas, preparações. Ensina a fazer compras e a retirar o que de melhor têm os ingredientes.

E em vez de ver o Beverly Hills 90210, como qualquer adolescente decente, L.A.E via e perdia-se pelas Two Fat Ladies. Um programa da BBC 2 com a autoria de duas senhoras bem adornadas; Clarissa Dickson Wrigth e Jennifer Paterson. Estes 300 quilos, divididos por quatro pernas, dava mais ou menos 75 quilos por roda, no sidecar no qual se deslocavam por toda a Inglaterra para fazer o programa em casas ou cenários magníficos.

Elas não eram só gordas, também não eram para o novo. Principalmente a Jennifer. Os planos técnicos das mãos, mais facilmente davam um vídeo demonstrativo de um problema clínico, agravado com a idade, do que um programa de cozinha.

Mas o extraordinário sentido de humor e algumas das receitas compensava largamente esse aspecto. Que se lixe se a Jeniffer não consegue desossar um frango em 18 segundos. Ela, em 18 segundos, consegue fazer mais pelo sentido de humor de uma pessoa que qualquer frango pode vir a fazer. Mesmo na medicinal forma de canja.

Apesar de estar no limiar de uma sitcom, tal é a química entre as duas, as receitas e técnicas era muito interessantes. Ambas mostravam um profundo conhecimento gastronómico. Muitos truques, guarda L.A.E das gordas. Uma espécie de Avó e Mãe gastronómica que nunca tive.

Outra sentimento presente neste triângulo familiar Jennifer, Clarissa e L.A.E é a nossa incompreensão sobre a espécie: vegetarianos. O humor cortante, muitas vezes em situações de algum formalismo, foi registado em várias cenas da série.

Mas a verdade é que ultrapassados os embaraços, continuo sem perceber muito bem o que é isso do vegetarianismo. Mas como L.A.E não percebe muitas e muitas coisas. Neste caso, a ignorância é uma espécie benção.

Quem causa alguns desentendimentos familiares entre nós é a palavra dieta. As gordas ouviram falar, mas não sabem o que é. Já L.A.E rege-se por outros valores. Sendo que quando é para ser à séria, é à séria que vai ser. E ninguém é mais sério que estas senhoras. L.A.E lembra-se um episódio, em que usam tanta manteiga para fazer um spatchcock, que consegui ficar enjoado durante 3 ou 4 programas.

O que repare-se, não é fácil para uma criatura que é capaz de comer molho holandês à colher como se fosse um iogurte magro.

A avó Jennifer morreu em 1998, mas viverá para sempre em DVD. Diz que há sítios online que vendem. (Aliás, inventam tudo. Qualquer dia ainda se lembram criar um sítio onde possa colocar online estes miseráveis relatos.)

Outra referência incontornável da TV é Gordon Ramsey. Se Jennifer e Clarissa, são simpáticas mães e avós, já o Gordon é o maior filha da puta que pisou a face da terra. Pelo menos pensarão assim alguns dos intervenientes nos seus programas.

Nunca vi figura tão assertiva na minha vida. L.A.E não se vai alongar por dois motivos:

1. Já escrevi um post sobre o Gordon. Não me lembro se bom ou mau. Apostaria no mau.

2. Seria quase pornográfico descrever o quanto gosto deste filho da puta. Sei que está ao nível do blog, mas preferia poupar-me a mais este ridículo.

L.A.E chega ao cúmulo do veadismo ao dizer que gosta mais do Gordon do que a Nigela, o que para quem tem, vá um olhinho na cara, mesmo com muitas dioptrias é uma escolha fácil. Bolas, a Nigela é boa como o milho. (A personagem das séries antigas, ela agora está bem gordinha)

Mas mesmo assim, comemos o que vemos. E o que vemos nas séries antigas é coisa digna de uma Playfood. Mas para um esquisitinho, no limiar da misoginia, como L.A.E ela cozinha bastante mal. Mas não no sentido técnico inexistente, mas no sentido em que o conceito do programa é mesmo cabular.

De tanto cabular e comer porcarias, está gorda que nem um texugo e por isso é alvo de chacota do Gordon, do Jamie, do James Martin e o Ainsley Harriot.

O Ainsley Harriot é um preto simpático, que não cozinha nada de especial, tem ar de paneleirote, (É casado), e tem uma energia contagiante. L.A.E viu pela primeira vez um programa dele num canal perdido lá para os fundos da TV Cabo, há muitos anos atrás. Ele andava pelo mundo inteiro e fazia churrascos. É essa a memória.

Anos mais tarde, não muitos mais, disse-o porque fica bem aumentar a densidade cronológica da história, reencontro-o no Ready Steady Coock que me marcou para sempre.

Um apresentador: Ainsley Harriot (L.A.E já tinha avisado que ele não sabia cozinhar), dois chef’s, 30 minutos para cozinhar uma data de pratos, confeccionados a partir de sacos de 8 euros que os convidados traziam.

Um programa com uns 70% de tempo focado na comida, planos de comida, troca de ideias e desafios. Coisa muito ligeira, mas carregada de insight pratico. Programas diários, que via na BBC Prime à tarde. Religiosamente. Partindo logo de seguida para uma rápida sessão de compras e de cozinha, tentando fazer o mesmo em casa.

Um dos chef’s que participava neste programa era o James Martin, que ganhou vida própria e viaja por França, num invejável Porsche Cayenne e um atrelado totalmente equipado a nível de cozinha.

O programa é de veras interessante e também com alto foco na escolha, compra ou caça de ingredientes frescos e confeccioná-los, quando o tempo permite, no exterior.

Se é de França que tudo nasce, é lá que este post morre, não podendo fechar sem deixar nota de 3 excelentes documentários sobre a cozinha francesa:

L’invention de la cuisine com Olivier Roellinger, Michel Troisgros e Gérald Passédat, todos realizados por Paul Lacoste.

Isto para acabar com uma referência séria, que ameaça desacretidar este blog enquanto bordel de esquina onde se fala sobre comida.















































Comentários

  1. Estou parvo... vi quase tudo o que tu falas.. até o gajo dos churrascos (uma vez fe-lo no topo do Cristo Rei no Rio.. estava um nevoeiro que não se via nada - hilariante).
    quanto ás 2 fat ladies só posso dizer que mais que uma vez cobri a minha mesa de cozinha com uma massa pacientemente esticada á mão (em todo o tamanho da mesa) para fazer o magnifico strudell que elas mostraram num programa.
    Relembro que todos os episódios eram sempre bem finalizado pelo inseparável GIN & T

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  2. Caro Papa, assim se vê que frequentamos a mesma diocese. Que belas memórias. Tenho os DVD's das Fat. E muita mais tralha claro. Que belo jantar se avizinha.

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  3. O Ainsley não é mau de todo – lembro-me de episódio na Grécia em que ele foi convidado para um casamento e fez lá uma sobremesa espectacular, ou do atum que ele grelhou, ali mesmo, num porto qualquer em África do Sul. Foi com ele que aprendi a grelhar, como deve ser, o nosso atum.

    Há pouco tempo comprei um livro dele por 3£, nada mau. Os portes custaram mais.

    Das gordinhas, também tenho saudades. Aquelas malucas faziam comida que dava para alimentar um batalhão do exercício – episódio 6 da segunda série.

    O Jamie tem o mérito de ter feito com que muita gente se interessasse pelo mundo da comida. Foi ele e a Bimby!

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  4. Sem dúvida caro Jordão. O Jamie tem feito um trabalho incrível nessa área. O Gordon Ramsey já tinha feito quase tudo, mas a uma escala bem menor. Por isso, não lhe tiro o mérito. Pelo contrário, tiro-lhe o chapéu. E à Bimby também, mesmo apesar de estar proibida de entrar lá em casa.

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  5. LA e confrades,
    olhem só o que encontrei , uma entrevista com o Chef René Redzepi ,o novo numero 1 do mundo ...
    parece que a liga entre arte, técnica moderna e terroir vai ser a pegada que o mundo da gastronomia representado em Londres sentiu.

    http://www.youtube.com/watch?v=M8J73KJe9Ik
    abraços

    Pedro Botelho

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  6. apesar de um péssimo exemplo de caipirinha curte a gorda a cantar o mamãe eu quero!

    http://www.youtube.com/watch?v=UHLHAfZ7nSI

    S.

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  7. Anonimo,

    reenvia por favor ...nao abriu ...mas já estou a imaginar a cena ...

    por falar em cena por onde andará o nosso LA ?

    abraços

    Pedro Botelho

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  8. Ausente por motivos de investigação científica/alimentar. De volta em força e preparando-se para fazer uma intensa ronda pelos melhores restaurantes de Paris. Dicas?

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