Leonardo da Vinci entre tachos e panelas















O que é que o mestre Leonardo da Vinci tem em comum com cozinha, para além do facto de ter de se alimentar, como todos nós? Nada, dirão os macaquinhos mais desinteressados na árvore genealógica gastronómica, L.A.E incluído.
Pelo menos, até ler as "Notas de Cozinha de Leonardo da Vinci"
Que o homem era um génio, quase todos nós concordamos. Que ele estendeu a sua genialidade à cozinha, e com assinalável mestria, poucos sabemos.
O normal é que génios, como o Cristiano Ronaldo a dar toques de cabeça, ou o Einstein a fazer contas de cabeça, nem um ovo saibam estrelar. Bolas, nem um ovo devem comer como as pessoas normais, quanto mais saber como cozinhar?
Mas com Leonardo tudo foi diferente. Ele mostra bastante profundidade sobre este tema e muitos outros. Diria até, numa politica geradora de comentários, que a sua carreira como inventor e até como pintor, parece não atingir o nível de profundidade (técnica e criativa) com que ele investiga e trabalha a cozinha.
Referindo-me ao inventor, apesar da genialidade, foram poucas as coisas que chegaram a ver a luz dos seus dias. Como pintor, L.A.E prefere não comentar. Mas, quem lê o desespero do mecenas em tentar que a "Última Ceia" se concretize, tem o direito de colocar algumas interrogações. A descrição soa mais a banquetes constantes com amigos, à procura da refeição ideal para retratar. Talvez pagando favores e dívidas, num restaurante que não era o seu e sempre com elevado nível de displicência artística. No fim, sobraram umas sardinhas (julgo), pão e uma personagem que já deu azo a muitos livros.
Sobre a "Última Ceia" tudo dito, L.A.E preferiria uma efémera refeição cozinhada pelo mestre, do que ter uma parede lá de casa pintada com o dito quadro desvanecido.
Este episódio do mural em desaparecimento é um dos mais deliciosos das notas de cozinha de Leonardo da Vinci, mas maneira geral é tudo sem espinhas, num livro originalmente baptizado pelo mestre como: Codex Romanoff. O homem era dado a Codex's. José Rodrigues dos Santos, se estiveres a ler, não te ponhas com ideias.
O livro é surpreendente da primeira à última garfada e mal dá para parar entre elas. Só talvez para mastigar alguns pormenores intrigantes.
É de aplaudir de pé (vá o exercício faz bem), a profundidade com que ele se dedicou à causa gastronómica. Não se pense que inventou umas receitas, umas fórmulas mágicas, ou umas pinceladas por encomenda, como no caso do Mona Lisa. Ele fala sobre tudo: ingredientes, frescura, caça, utensílios, conservação, arquitectura de cozinha, inventos especiais para confeccionar, apresentações faraónicas, serviço, maneiras à mesa "...Nem deve pegar fogo ao vizinho enquanto se encontra à mesa." (lá fora, tudo bem!), comida, confecção, digestão, em tudo o raio do homem tem uma opinião. Parece L.A.E, a diferença é que L.V foi um génio, o outro, um estafermo.
Apesar de já ter lido o livro há algum tempo, numa péssima tradução, não posso deixar de me deter sobre a busca e transporte do gelo das altas montanhas, para refrigeração e para fazer gelados. O frigorífico já existe há séculos. Só o milagre de carregar no botão e se acender uma luz é que aparece mais recentemente.
Penso muito sinceramente, que se nesta altura, por volta do ano de 1500, (andávamos nós a matar índios e a infectar índias) tivesse acontecido um fenómeno de contágio e sistematização da cozinha italiana, esta teria facilmente o epíteto de berço da civilização gastronómica. Pelo menos os Franceses sistematizaram a cozinha um pouco mais tarde.
Como ainda não recebi o tal mail com o pedido de patrocínio ao blog, hoje em dia vejo as notas de da Vinci à venda por todo o lado. Vós que amais a causa da mesa, comprai o livro. Vós mereceis saborear este arcaico da literatura gastronómica.
Supostamente inventor da máquina de fazer esparguete, Leonardo foi-se despojando de todos os seus bens, acabando por morrer na casa de um amigo a quem ofereceu o Mona Lisa. A única coisa da qual não se desfez foi da tal, suposta, máquina de fazer esparguete. Podia estar senil, mas não era estúpido. Antes de tudo, uma boa massa. O resto que se lixe.




Fatiadora de ovos.

Comentários

  1. Caro Luis ,
    alguns anos atrás por uma razão mais do que especial fui a Terceira com a intenção de devolver as cinzas de minha mãe Cristina Botelho ao mar que ela tanto amava ,
    trouxe na bagagem de volta de tudo um pouco , desde (acredite ) um alguidar de alcatra (!?),um passe vite , que aqui não temos e livros e mais livros de receitas ,louças de São Miguel ,etc,etc, mas entre tudo isto encontrei por acaso uma pequena preciosidade , uma revista chamada Egoista em uma edição dedicada à gastronomia ...com textos maravilhosos ...e no meio deles um exatamente sobre esta historia do Leonardo Davinci ,(o livro ainda não tinha sido lançado..) deliciosa entre outras coisas parece que ele inventou o guardanapo ao amarrar um coelho no pé das cadeiras ...kkk
    como sabes estou no meio do nada ou melhor no meio do tudo , a Floresta amazonica , mas prometo na minha folga , lá em Fortaleza onde moro ,procurar na minha pequena biblioteca mais informações sobre a revista

    Viva leonardo da Vinci .

    abraços

    Pedro Botelho

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  2. "deve-se limpar a faca a uma pele de coelho, dependura na cadeira"
    citei de cor
    divinal!!

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  3. Minha querida e sábia mãe, na sua simplicidade de pouco estudo, já me dizia:_ Não há canto, em todos os cantos q se possa conhecer, que inspire qqr ser a criar, desvendar e descobrir; que não seja o centro de uma cozinha..ou os lados, ou nos guardados....(se bem q ela era uma *bom garfo*, além de que adorava cozinhar!
    Mas foi das palavras dela que me lembrei ao ler este teu texto, e a imaginar *nosso* genio a fuçar as panelas...e trocar a Mona Lisa, por um cordador de macarrão!!!!!!! Hummpfftt!
    amei!!
    (esta outra MonaLis@)

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