Coimbra, 5 de Abril, 1943.



"A imaginação nutre-se do real. Não se inventa nada. A Mariana do Amor de Perdição, a maior figura de Camilo, era possivelmente vizinha do grande homem. Mas o génio criador distendeu-lhe as virtudes naturais. E o doméstico e apagado caso particular passou a irradiar uma luz universal.
Os problemas morais que se levantam em arte só podem ter soluções negativas. É impossível impor a um artista qualquer coisa de comparável ao segredo profissional. 
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De resto, em coisas de uma natureza tão subtil, seria bom precisar que espécie de atentado há quando um artista parte da aparência temporal do modelo para evidência intemporal da criação. Verificar de que maneira ecoam na sinfonia elaborada os chocalhos do rebanho, é como pólen que a brisa tira de uma flor. Parece um roubo, e vai ser um milagre." 

De Miguel Torga, a quem prefiro chamar carinhosamente Adolfo, seu nome próprio. 
Um dos textos mais esclarecido e, ao mesmo tempo, poético que já li sobre criatividade.
A realidade pura e dura embrulhada com um laço em cetim. Obrigado Adolfo. 


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