100 maneiras de cozinhar ovos por Rosa Maria.


















Esta é a segunda estação de uma pretensa trilogia de posts. Pretensa, porque a programação está sempre condicionada aos directos. E posso garantir que matéria para directos não tem faltado. Mas isso fica para a Sic Notícias, por aqui fala-se de comida. Fala-se de um projecto de batatas fritas, ovos e o tal post a aparecer em breve: Porco. Variantes bacon, presunto, fiambre e salsichas.
O ovo oferece uma curiosa justaposição com a essência de L.A.E. O primeiro aparenta uma enorme simplicidade: uma gema e uma clara. Quando trabalhadas em conjunto, podem ter centenas de utilizações. Só a gema por si também e as claras idem. Sendo todos os resultados, sem excepção, excepcionais.
Já L.A.E aparenta uma enorme complexidade, que quando trabalhada no cérebro do caro leitor, se transforma numa espécie de junk food primitiva. Sendo todos os resultados, sem excepção, excepcionais na clarividência que trazem ao facto de L.A.E ser um básico.
No entanto, mesmo um básico como L.A.E tem tanto prazer, como o próximo, na gema crua sobre o tártaro, que faço questão que seja desmanchada por mim. Gosto, também, da loucura de finalizar o à Brás com claras em castelo. Doido pelo método carbonara e estrelados com bom presunto pata negra. Tivesse eu capacidade para aceitar mais colesterol, mais formas, que L.A.E adora, de comer ovos seriam descritas.
Os ovos são matéria dos mais duros testes aos chef’s de cozinha. O seu poder de se transformarem em centenas de coisas, cria centenas de acidentes à espera de acontecerem. Por cá, não estamos a estrelar mal os ovos, cozer, que mais coisa menos coisa, é cozer. E o pequeno grande clássico: Ovo de codorniz pickle.
E após uma lenta subida, é uma descida vertiginosa ao deserto. Vejo muitas omeletas e ovos mexidos. É mau? Não. Nestas duas técnicas é quase impossível falhar. Mas, quando levadas ao extremo, são dois pedaços de céu da boca. Na omeleta simples, à séria, o que mais aprecio é uma espécie de creme que fica no centro. E nos ovos mexidos (misturados na frigideira) é a sua textura, o ar que fica incorporado na coisa. L.A.E pede desculpa, mas vai ter que ir tomar um duche de água fria.
É claro que nada disto se vê por aí, quanto mais, algo de mais inventivo. E este resume um problema de base. Do ponto de vista da concepção, o que mais se vê são frustradas tentativas de fazer coisas diferentes. Sem estrutura, cultura ou técnica que lhes valha. Por outro lado, passamos completamente ao lado de um mundo de técnicas que a nossa extensa cultura gastronómica nos ensina quase graça.
Com tantas receitas e alquimias, quase cientificamente comprovadas, porque não investir primeiro em fazer todos os clássicos de forma imaculada? Esta filosofia traria dois benefícios. 1. Treino técnico. 2. Base técnica é patamar essencial para a criação coerente, estruturada e inegavelmente brilhante, pois as bases estão lá.
Façam um enorme favor a L.A.E, mas em vosso benefício. Investiguem formas clássicas de fazer ovos, escalfados com casca, sem casca, estrelados, etc. Comprem meia dúzia deles. Vá....um euro. E enjoy yourself. Treinem. Provavelmente farei o mesmo. A minha técnica será de mediana para baixo.
E isto deixa-nos na Rosa Maria e as 100 maneiras de cozinhar ovos. Podem encomendar via net. O que é de desconfiar, pois o livro custa um euro. A coisa parece improvável quando penso na palavra: portes. Porém, poderão fazer como o tanso do L.A.E e comprar o livro na loja A Vida Portuguesa, pelo dobro ou o triplo. De certeza que eles também pagaram portes de envio.
O livro é na verdade engraçado como objecto kitsch e ao que parece Rosa Maria foi uma importante figura do receituário português. Tenho a desculpa de ser novo e ignorante, por isso, o que vi e li do livro é uma espécie de índex, onde se contabilizam à força 100 receitas de ovos. Sem muito amor, sem grande detalhe técnico. Uma espécie de canal porno que só emite filmes suecos dos anos 70, 24 horas por dia.
Não vale os portes, sem querem aprender a cozinhar ovos. Agora, vale até ao último cêntimo, quando comprado por um tanso, que pretende fazer a partir do livro um pretenso post engraçado.
Mil vezes na pele de Rosa Maria que fez um um pequeno Kama Sutra com ovos, do que na pele de L.A.E que faz deste blog uma pequena Selecção do Readers Digest, votada a estar aberta nas piadas de caserna, numa casa de banho perto de si.



Comentários

  1. Aluno da EFTH que ficou fã do blog21 de janeiro de 2010 às 02:35

    L.A.E. vem alterar a resposta à clássica pergunta "não sabes cozinhar, mas pelo menos sabes estrelar um ovo? "
    Solteiros desajeitados que vivem sozinhos não mais responderão "Sim" após esta leitura

    abraços

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  2. Caro Aluno da EFTH, no meio deste vendaval de roupa suja, é bom ler um comentário focado. Mas mais do que isso, se da confusão ficar um bom leitor do blog, já é muito bom. Obrigado

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  3. Caro L.

    Como já lhe disse obrigado pela prenda e pelas palavras escritas...

    e como gentileza gera gentileza segue uma simples gema , nada mais , no link , a melhor que já comi por estas banda abaixo do equador, preparada magistralmente pela Chef Roberta Sudbrack ...


    http://www.bemparana.com.br/vossoblogdecomida/index.php/2008/10/19/aspargos-em-gema-caipira-por-roberta-sudbrack/

    uma pequena retribuição, para vc e para todos os confrades, afinal de contas isto aqui está a ficar com cara de confraria...

    abraços tropicais

    Pedro Botelho

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  4. Sem duvida alguém que esta nos melhores momentos de competição e da avaliação da Gastronomia Mundial, a grande Escola Francesa com o lirismo da Cozinha Italiana.
    Quando for á Itália será destino obrigatório.

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  5. Após ler o comentário do Pedro, L.A.E saltou do sofá e foi às compras. Se tiver quorum de ingredientes, ataco a ideia. Obrigado caro confrade. Só nos falta um símbolo e reuniões secretas.

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  6. Luis,

    um florzinha de sal por cima ... para arrematar ...
    só para não dizer que não falei das flores...

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  7. O ovo!
    Realmente pode ser trabalhado de várias maneiras mas são poucas as formas de saber bem. Estrelado em exagero é um não, não. Escalfá-lo a mais é um não, não. O cozido não fere o sabor pois, acho que neste caso ninguém se engana apesar dos 5 minutos a mais. Mas, se falarmos de uma boa omelete, na minha experiência, também é um não, não (nem sempre se pode confiar num chefe de cozinha, nada como tentar em casa fazer o ideal, cremoso por dentro). Em busca do melhor, não confies muito nos outros para cozinhar o ovo a teu gosto.

    Saudações

    P.E.

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  8. Caro P.E entrada directa na confraria do Ovo. Venham daí mais comentários.

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