Peço desculpa pelo Francês.

Acho graça à Maria Filomena Mónica, eu e para aí mais uma meia dúzia que lêem as suas traduções do francês em notas de rodapé, como se algum membro daquela meia dúzia não soubesse francês. Por vezes, chego mesmo a perguntar-me se é mesmo graça que acho ou se me provoca uma certa confusão. Com ela, num registo mais biográfico, ando sempre cá e lá, cá e lá. Entre a admiração por uma pessoa com uma cultura elevadíssima e refinada. E a arrogante, a que considera objectivamente o outro como um burro ou inculto. Suponho que lhe assiste o direito, mas creio que não fica bem. Eu que sou um inculto e burro, e que apenas sei francês para pertencer àquele restrito grupo, penso sempre se a Maria Filomena Mónica acharia graça que o Ronaldo estivesse a seu lado a fazer malabarismos com a bola dizendo a alto e bom som:
- Vamos Mónica, e este truque fazes?
E nisto manda a bola do pé direito para trás das costas, parando-a no pescoço, fazendo-a rolar pelas costas e perna direita abaixo, finalizando com um toque de calcanhar que projecta o esférico na direcção das suas mãos.
- Tu, nem para um penalti!

São coisas. Gosto da palavra coisas, porque cabe lá muita coisa. Coisas e pessoas que fazem parte do nosso mundo. Foi-lhes concedido o direito de estar neste mundo. Como tal têm direito de pagar bilhete para entrar no Peggy Guggenheim e passarem na sala onde está o "Attirement of the Bride (La Toilette de la mariée)" do Max Ernst e nem sequer olharem para ele.
Eu também penso para mim que é uma situação bizarra, estranha, se calhar fruto de uma baixa propensão para aquilo que se designou fazer, mas daí a considerar-me superior, ou os outros inferiores é mais complicado, porque juntos fazemos esta pasta chamada humanidade. Quem é que me diz que o passante não é um neurocirurgião que já salvou centenas de vidas? Ou um varredor de ruas? Que merece o mesmíssimo  respeito que o neurocirurgião ou Maria Filomena Mónica.
Aceitar a diferença é um acto de humildade e é transversal ao conhecimento, cultura, riqueza ou linhagem.

In as Memórias de tardes bem passadas com lavradores de botas de cano, sujos de lama até às orelhas, com as mãos encrostadas de terra, no Café o Cordeiro, na Fajã de Cima, onde acaba a cidade e começa o campo.



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