A inquietação das férias.



Estão a chegar. Instala-se o sentimento que estamos mesmo a precisar delas, que já não aguentamos mais. 11 meses de sofrimento, responsabilidades, contrariedades, trocados pela ilusão de duas ou três semanas de férias. 

Que importa? 

Nestes 15 dias vivemos o que vemos no Facebook nos outros 350 dias das nossas vidas. Temos direito a tudo. Tudo o que estiver ao nosso alcance. Pouco interessa, desde que voltemos para casa com satisfação. Queremos lá saber se o barco era nosso, alugado, de um amigo, de borracha, ou se era uma simples câmara de ar. 
O que precisamos é de qualquer coisinha que nos aguente mais uns quantos meses antes de voltar a entrar em derretimento.

Convenhamos, as férias serão uma das maiores mentiras de sempre. 

Se o último dia de trabalho, apesar de opressivo, é muito bom, bem como todos os dias de férias, o primeiro dia que regressamos ao trabalho é tão mau, mas tão mau, que faz pensar se tudo isto das férias vale mesmo a pena. 

O primeiro dia de trabalho após as férias.

É mau, muito mau, porque é o momento é que realizamos que de facto somos prisioneiros de uma responsabilidade,  que pode até ser motivação. Mas não deixa de ser prisão.
É o momento em que percebemos que vamos ter que doar mais 11 meses da nossa existência para podermos ser livres. Livres a prazo, mas livres. 

Antes livres que em paz sujeitos.

Grita a alma, pois isto é estar em paz sujeito. Mesmo apesar de gostar do trabalho. Eu, em particular, gosto muito do meu trabalho. Do que não gosto são destes ciclos ilusórios, impostos por um conceito de sociedade pós revolução industrial. 

Com o passar dos anos confesso-me muito mais admirador do conceito de em vez de me ter de desligar, para poder continuar, não me chegar a ligar por completo.
Não me ligar por completo poupa imensa energia. Estamos prontos para arrancar se for preciso, mas temos sempre em mente uma eco lógica energética, de baixo envolvimento em assuntos ou que não controlamos, ou que simplesmente não valem a pena controlar, ou o que seja. 

A ilusão, ou inquietação das férias.

A ilusão, ou inquietação das férias, prende-se com uma questão tão simples como má gestão energética. Gostar de viajar entendo. É um enorme dispêndio, financeiro, energético e emocional, talvez por isso não considere férias. É mais um workshop pessoal. E para isso terei sempre tempo e energia. Dinheiro é que já não sei. 

Agora as férias, as férias, trocava-as por um pouco de paz, séria, franca, rigorosa, todos os dias da minha vida, sem entregar energia desnecessária ao desnecessário, e estar desligado onze meses, para num somatório de stress estar apenas ligado 15 dias por ano, aí sim. Aí seria feliz, porque aí estaria de férias sempre. E este é um conceito que me agrada. Agrada-me muito mais do que ter que responder a um e-mail agora.







Comentários