Pastéis de Bacalhau o pequeno almoço dos Astronautas Portugueses. (Se existissem astronautas portugueses)


A nave espacial seguia quase à velocidade da luz para Chorioactis, onde um grupo formado por intrépidos cientistas, astronautas, engenheiros, chef´s com estrelas Michelin e chefes de estado de países relativamente pequenos, como o Luxemburgo ou San Marino, com a excepção do Vaticano. Tinham arrancado da Terra depois de um almoço comemorativo na Ponte Vasco da Gama, onde Portugal bateu, mais uma vez, o recorde do mundo para a mesa mais comprida. Tinha sido feijoada com couve.
O programa espacial português existia há quase trinta anos, dentro de umas caixas na Torre do Tombo, e tinha sido activado por uns estranhos sinais que vinham do planeta, Chorioactis, que se encontrava fora da via láctea. Este sinal indicava, claramente, a existência de vida em Chorioactis, possivelmente na forma de cogumelos ou trufas.
Ao preço que a trufa anda, o programa espacial: trufa na rapaqueca, era um elevado desígnio nacional. Ultrapassar a última fronteira para fazer uns ovos estrelados com trufa, ou mesmo uma massa tartufada.
Tanto o era que a há cerca de 30 anos o Chefe da Polícia Judiciária chegou a ser requisitado pelo Ministro Aeroespacial para dar o nome ao programa (trufa na rapaqueca), depois de ter baptizado, com sucesso, inúmeras operações policiais. Quem não se recorda do “Sopra que é um apito” ou “O olho oculto”?
A nave, construída nos estaleiros de Viana, com o reaproveitamento do navio de luxo Atlântida que o Governo dos Açores não quis comprar, já tinha passado Júpiter, apesar do trânsito ter estado parado, como sempre no caminho de Santiago, ao pé do Campo Grande. O comandante era um homem sério e experimentado e a tripulação a mais competente que se tinham encontrado em Portugal. Todos eles fizeram um prolongado estágio na NASA e na ESA a Agência Espacial Europeia. Cada um sabia exatamente o que fazer perante qualquer cenário, desafio ou imprevisto.
O responsável para a área alimentar dirige-se agora ao comandante para fazer um ponto de situação:
- Meu Comandante.
- À vontade. Responde o comandante enquanto trinca um pastel de bacalhau.
- Meu Comandante a situação é grave. Muito grave.
- Então diga lá.
- Meu Comandante já só temos mais 240 dúzias de pastéis de bacalhau.
- O quê? Como é que é possível?

Diz-se que no espaço o som não propaga porque estamos no vácuo. Quem disse isso nunca esteve a meio caminho de Chorioactis só com 240 dúzias de pastéis de bacalhau. Dentro da nave viu-se, claramente, as palavras a reverberam, acabando por embaterem num asteróide e voltarem para trás:
-?levíssop é euq é omoC

- Mas 240 ao todo?
- Meu comandante 240 dúzias de pastéis de bacalhau congelados.
- E hoje, já se tinham frito pastéis?
- Sim, 17 dúzias.
- Ou seja, ao todos temos 257 dúzias de pastéis de bacalhau. Sendo que 17 delas já estão fritas. E o pastel que eu estava a comer, entra nessas contas?
- Meu comandante 16 dúzias e oito pastéis então.
O comandante pôs-se a fazer contas de cabeça:
- 256 dúzias e oito pastéis. 256 dúzias e oito pastéis…..
Passado algum tempo, a tripulação já em pânico pergunta em coro:
- Então meu comandante? Que fazemos?
- Bom…..pelas minhas contas não vai dar. Vamos ter que voltar para trás para apanhar mais umas quantas dúzias de pastéis de bacalhau.


P.S - Amanhã não perca. "O primeiro pastel de bacalhau no espaço"

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