O único mal da Dora ter deixado de cantar e trabalhar no McDonalds é ter deixado de usar mini saia e saltos altos.


O preconceito é uma coisa terrível, infiltra-se como a água. Só damos por ela quando sai, e não quando entra.
Perto dos pequenos derrames, lamento, os pretos, os gordos e outros que tais ocupam um lugar relativo na minha lista de preocupações e já têm muita gente atenta às situações de injustiça e desigualdade, pronta a atirar-se da ponte. Ou seja, causas, praticamente perdidas, mas mais ou menos bem entregues.
Os preconceitos pequeninos, mesquinhos e quase invisíveis apoquentam-me muito mais.
Este é mais um caso nítido, que vem assim como que embrulhado em forma de notícia.
"Dora ganhou duas vezes o Festival da Canção e agora trabalha no McDonalds."
Porra, qual é o mal de trabalhar no McDonalds? Não é um trabalho assim no limiar do honesto?
Qual o problema deste jornalista com as pessoas que trabalham no McDonalds? São mesmo muito estúpidos e como tal só conseguem trabalho a virar hambúrgueres? Ou é só o jornalista que os está a chamar de burros? Não sei. Eu cá com notícias estúpidas não me entendo muito bem. Entendo-me melhor com gente honesta que trabalha para pagar as suas contas.
Mas não fica por aqui minha ideia de jornalismo fast food.
Qual é a cena do outro mundo em ganhar o Festival da Eurovisão, e que torne notícia o facto de um vencedor trabalhar agora no Rei dos Frangos?
Não me parece assim tão transcendente ganhar um Festival da Canção, ou dois como no caso, e um porradão de anos depois estar a fazer cachorros num atrelado qualquer. Aqui volta a entrar o preconceito e de pantufa.
Se for o Figo, reformado, que comprou um restaurante e foi visto a servir um frango da Guia ao Fernando Mendes tudo bem, para além do Fernando Mendes ser gordo. Já se for a Dora a servir-nos um Big Mac é notícia no jornal. O Figo serve porque quer, a Dora serve porque precisa.
Vá gente mesquinha.
Dora, os teus Cheeseburguers são os melhores que já provei na minha vida. Valem 10 pontos. Muitos mais do que aqueles que conseguiste no Festival da Eurovisão. Aliás, melhor que nos dois festivais da Eurovisão somados, o que só prova que os teus préstimos nesta multinacional constituem um elevado desígnio. Para o pais e para o colesterol.

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