Lá vem o gajo com reflexões parvas outra vez.


Uma pergunta parva só é verdadeiramente parva se a resposta também o for.
Caso contrário, a pergunta parva perde a propriedade que lhe foi concedida para passar a ser só uma pergunta. Mais ou menos pertinente.
Foi ao fazer esta pergunta que me apercebi mais uma vez que a restauração açoriana só podia estar de rastos.
Quantos donos de negócios de restauração tem formação adequada para o cargo que desempenham?
Os dedos das mãos chegam. Os dedos de uma mão chegam.
À cabeça daqueles que são mais populares só me lembro de pessoas que trabalhavam em seguros, em bancos, em grandes empresas dos Açores e eram vendedores das mais diversas coisas, que não comida.







Tinham e se calhar ainda têm mão para a cozinha, ou para receber. Foram incentivados por amigos e familiares a abrir um restaurante e assim o fizeram. Em abono da verdade, belos amigos, diga-se. 
A maioria deles está entalado e os que não estão, porque têm mesmo mão, são prisioneiros.
Eu considero o negócio da restauração dos mais complexos que existem. O que é que faz uma pessoa que era relativamente bem sucedido na profissão que escolheu meter-se num negócio tão complexo e difícil sem qualquer formação?
Formação não é universidade. Esta história faz-me lembrar aqueles arquitectos que se formam e abrem logo um atelier. Não trabalharam para nenhum arquitecto mais velho, ou num atelier de arquitectura muito conhecido. Não tiveram colegas que lhes ensinassem ética, que lhes educassem profissionalmente. Não estiverem em reuniões proibidos de abrir a boca, para estarem tempos mais tarde a conduzir uma apresentação sob o escrutínio dos colegas mais velhos. Não sabem como se vende, como se entusiasma e como se bloqueiam ansiedade e os travões à aprovação de um projecto. Porra, não sabem porra nenhuma a não ser aquilo que viram nos livros. E muitos dos livros são escritos por teóricos e logo ai podemos ter uma luz sob as qualidades empíricas de alguém sem experiência pode entregar a um complexo negócio como o da restauração. Provavelmente teriam muito mais jeito para fazerem o que antes faziam, mas agora, agora é tarde demais.
Como tal, na restauração açoriana é a lei da selva, literalmente. Não há uma ética reinante, não modus operandi reinante, não há filosofia de serviço ou de concepção. Insisto, em São Miguel e arrisco nos Açores não se conceptualiza um prato, uma refeição, uma ideia a não ser na Escola. É tudo mais do mesmo, numa inabalável repetição de pratos, comidas e tipos de confecção. O peixe é unidimensional, a carne também e quando daqui se sai é o deserto. Para se ver que as minhas palavras são dactilografadas com a fúria da razão, levanto uma excepção: o Furnas e Caldeiras tem uma conceptualização. Medíocre, barata, primária. Agora, vejam lá a curiosidade, o chef é um miúdo que saiu da escola e o Pai decidiu abrir-lhe um restaurante. Logo não há ética, não há experiência, não houve aprendizagem, não há racional, não há experiência acumulada a trabalhar para um grande Chef ou num grande restaurante. Foi sair virgem, abrir virgem, provavelmente morrer virgem.
Não tenho nada contra o Caldeiras e Vulcões, nem contra o rapaz. Porque para mim é simples, não lá vou. Problema resolvido. Por isso, uso-o tão somente para dar um exemplo. 
Assim sendo, creio que não há muito a fazer, não tendo eu como é óbvio uma solução mágica, a solução que tenho é geracional. É deixar cair, fechar, morrer e ter a esperança que a geração que aí vem esteja mais bem preparada e formada.

Mas então espera lá, mas aquele Chef do Caldeiras e Vulcões não tinha acabado de se formar?

Comentários