E para sobremesa do dia temos o funeral de Victor Feguer

Se pudesse escolher qual seria a sua última refeição, o que gostaria de comer? Este é um privilégio que, por exemplo, um violador ou um assassino tem e o comum dos mortais, que decide morrer, a meio da noite, sem avisar ninguém não tem. Tão mal se come em Ponta Delgada, que não fico com pena nenhuma de não vir a escolher a minha última refeição. Quando muito este último repasto justificaria, isso sim, a minha ida para corredor da morte, não tendo eu outra causa que justificasse a minha pena se não a de querer fazer mal ao dono do restaurante que o tivesse servido. Outro interessante raciocínio, se é que se possa adjetivar de interessante qualquer raciocínio que tenha ou possa vir a ter, é que este projeto de Henry Hargreaves (Link para a exposição "No Seconds") que o levou a fotografar as últimas refeições de condenados, não teria graça nenhuma feito nos Açores. Como iria ele montar uma exposição fotográfica com 250 mil fotografias de bife à regional com batatas fritas? Porém, nas Américas, dada a profícua bio diversidade de psicopatas, os resultados foram deveras interessantes. Lá está, nunca no sentido gastronómico, mas no sentido da curiosidade mórbida. Até porque, quem sou eu para criticar a escolha de um tipo que violou a mãe e irmãs, antes de matar uma cabra à dentada e soldar o padre da paróquia à cruz? Por amor de Deus, que excelente escolha. Eu próprio se estivesse no seu lugar escolhia o mesmo: uma azeitona. Com caroço. Aliás, até posso avançar que uma vez o meu Pai serviu-me uma azeitona sem caroço. Mas só serviu....uma vez. Mesmo assim, não dá para deixar de pensar como é que gente com requintes de malvadez, se deixa levar por uma última refeição tão unidimensional como aquelas que vemos retratadas. Será que esse tipo de detalhes gastronómicos existem apenas nos filmes? Lembro-me que Hannibal Lecter tinha muito cuidado nos seus preparos e até um certo bom gosto, no corte e confecção claro, não na opção pelo uso de carne humana. Mas como isto anda, sabe-se lá se já não andamos a comer coxa de bailarina brasileira por frango?

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