Como é possível que o Pai Natal já exista há quase 200 anos e ainda não saiba fazer um Perú no forno?
Esta podia ser a quarta mensagem de Natal deste blog, mas não. É apenas a segunda, e tenho a certeza que me deveria ter ficado apenas e tão somente pela primeira.
A questão é simples, não se trata de gostar ou deixar de gostar do Natal, quanto a isso nem me pronuncio. Na verdade, quero lá saber.
O que percebo e quero saber é que o Natal é visto como a época onde de forma generalizada as pessoas mais investem na confecção de uma jantar 5 estrelas. Compram bacalhau, peru, frangos. Aproveitam o subsídio de Natal para comprar supostos bons vinhos, ingredientes para fazerem bolos, fritos doces, eu sei lá. Muito do Natal tem a ver com comida e mesa. E agora que vivemos um momento de grande austeridade, ainda maior o foco sobre o que se come. Que se lixem os presentes, façamos uma refeição minimamente decente e a festa está feita.
Conhecido pelo espírito contraditório; não gosto do que vocês gostam, mas podem gostar do que eu gosto, acabo por baixar as defesas e concordar. Pois que seja, façamos do Natal a refeição do ano. Já é qualquer coisa.
Agora, como o vamos fazer? Fazer frango, porque o Peru fica seco, simplesmente porque não sabemos como o confeccionar? Fazer bacalhau a uma temperatura de tal forma elevada que derrete a gordura e como tal fica seco, como estava no início?
O querer fazer uma refeição única, a refeição do ano, não é o esforço de um dia ou dois dias em Dezembro. Fazer uma refeição única a 24 ou 25 de Dezembro, implica cozinhar, descobrir e explorar 360 dias por ano.
360 dias de erros técnicos, de ideias trocadas, de combinações que não funcionam, para naqueles dois dias fatais fazermos uma refeição com o mínimo de qualidade. É uma missão que se reveste de ambição, brio e responsabilidade.
Passar o ano a abrir pacotes de take away, congelados, que a mãezinha (aldrabona) nos manda, manda vir pizzas e outros que tais promove uma idiocracia tão grande na hora de fazer o suposto jantar do ano. Tão grande como oferecer presentes que não servem para nada apenas para construir a ideia e conceito de Natal.
Então de que serve a ideia de querermos substituir os presentes de Natal por uma boa refeição, quando no fundo, não temos a capacidade para fazer um bom jantar, tal como nunca tivemos a capacidade de construir/fazer um bom presente de Natal? Tudo se continua a resumir a comprar feito, ou aldrabar.
Por isso, com ou sem austeridade. Com ou sem troika, e até ver continua tudo a ser e a representar a mesma merda pré fabricada. Será que esta crise nos pode fazer regressar aos clássicos valores tradicionais, apostando na qualidade e na confeção de raiz?
Será? Sem ponta de irono-retórica espero que tenham um Bom Natal.
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