Se uma escola leva um filho nosso ao Burger King, qual será a justa retribuição? Um cocktail molotov ao fim do dia?

Há uma música dos Doors, que termina da seguinte forma: When all else fails, we can whip the horse’s eyes and make them sleep, and cry. Confesso fã, creio que este será um dos fins de música mais idiota que me lembro. A proposta até é interessante: se todo o resto falhar. Porém o pay off é para o surrealista, para não dizer gratuito e estúpido. Tão surrealista como a pequena história que vou contar sobre deformação alimentar num jardim de infância. Como tal, diria, isso sim, se todo o resto falhar, sempre podemos chicotear o diretor da escola, o coordenador pedagógico, os professores e o nutricionista. Mas a primeira chicotada vai mesmo para mim, que deixei a minha educanda, de 4 anos, participar neste anormalidade que se arruma sob a forma de visita ao Parque Atlântico à hora do almoço. Então não é que o Castelinho Encantado levou os miúdos ao Parque Atlântico, mais propriamente ao Burguer King? Faz sentido! Vejamos, Castelinho Encantado, rei dos hambúrgueres, idiotice rainha e uma corte de gente que vai do diretor da escola à nutricionista, provavelmente convencidos que, pelo menos, não estarão a fazer nada de muito mau. Fazer mal será bater sem razão, ou por os miúdos a cozerem bolas para a Nike. Já dar-lhes uma refeição que do ponto de vista nutricional e alimentar não só é nula, como está provado que faz mal à saúde, será pelo menos aceitável. Tal como será aceitável pagar a um nutricionista, que deveria ter um elevado nível de responsabilidade e pedagogia alimentar, para levar esta miudagem ao Burger King? E quantas vezes comem eles Douradinhos na escola? E a quantidade de açúcar na exagerada parada semanal de sobremesas? Entre muitos outros erros crassos, gratuitos, ingénuos, nocivos, eu sei lá. Poderia esconder a manifesta incompetência desta visão nutricional sobre o manto do em casa é pior. É verdade é pior, coitadas das crianças. Daí ainda ser mais importante ter um nutricionista minimamente competente, que meta os miúdos a comer de forma saudável equilibrada. Vegetais, fruta, peixe fresco, etc. Lá em casa é assim. É um esforço enorme, pois os putos são lixados com tudo o que não conhecem, mas é a nossa luta. Produtos frescos, cozinhados de forma a manterem os seus nutrientes e conteúdos vitamínicos, não há congelados, nem cozinhar passa por abrir pacotes de douradinhos e derramar para dentro da fritadeira ou do forno. É fácil trabalhar das 9 às 19, chegar a casa e vestir o fato macaco de cozinheiro? Não. É duro, muito duro. E não digo que às vezes não desleixemos. No outro dia, fiz, de raiz, uns panados de frango com um puré de batata carregado de manteiga. Não entendo isto como sendo a refeição mais saudável. Porém, se me perguntarem a última vez que o tinha feito, irei responder, honestamente, que não me recordo. Mas a mim, enquanto encarregado de educação, assiste-me o princípio da exceção. É do meu esforço diário e da nossa visão de alimentação saudável e sustentável que nasce este privilégio. Não nasce para a nutricionista do Castelinho Encantado, ou quem mais tenha responsabilidades neste triste episódio, porque estes senhores são pais, é certo. Mas nas suas casas. E aí fazem o que quiserem. Na escola, que os paga, sublinho, paga, a sua obrigação é obrigar a uma alimentação saudável e equilibrada, por mais trabalho que isso dê. Porque lá está, é para ter este trabalho que eles são pagos. E em qualquer país discreto, se não cumprem bem as suas funções, são despedidos e entram outros mais competentes. Fácil. Como tal não acontece, a minha educanda demitiu-se de ser educada e alimentada pelo Castelinho que a encantar, deveria encantar por uma postura, a nível de nutrição, minimamente responsável.

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