O que de mal vai no mundo, para além das barrinhas de cereais light?

Muitas coisas, suponho. De uma pelo menos sei, enquanto o mundo se dividir entre gente que nos quer vender comida da porcaria e aqueles que a tentam cozinhar bem, mas que depois são seduzidos pelo dinheiro dos primeiros para vender comida da porcaria a terceiros como tu e eu, a coisa vai muito mal. Quando vejo o Marco Pierre White, o primeiro e mais novo chef inglês a ganhar 3 estrelas Michelin, a fazer um anúncio, à escala planetária, para vender caldos Knorr, gosto de tirar cerca de 2h30 para fazer um verdadeiro caldo de galinha e refletir um pouco. Pode olhar-se para o Gordon Ramsay com um chef, que pela sua comida excepcional e postura irrascível conquistou um espaço próprio. Não é bem verdade. Gordon esteve às ordens de Marco, que, só para dar um exemplo cor de rosa, rasgou jaleca e calças, com uma faca de cozinha, a um cozinheiro que lhe disse que estava muito calor na cozinha, entre muitos outros atos de abuso psicológico e gratuita. Grátis, só não eram as batatas fritas se fossem pedidas à parte do prato. Mais precisamente 25 libras. E não foi só Gordon que aprendeu uns truques com Marco. O Mario Balati também, e mesmo Heston Blumenthal, entre muitos outros que trabalharam no seu feudo-ghetto. Portanto, Marco é um senhor. Um senhor que mudou a gastronomia inglesa e representa nos anos 90 o que Ferran representou no início do século para a gastronomia mundial. Em 1999, sentindo-se refém da sua fama e estrelas, resolveu retirar-se e devolver as suas estrelas. Tinha várias opções diz. 1. Continuava a ser julgado por pessoas que considerava terem menos conhecimento do que ele. 2. Vivia a mentira que hoje vivem Heston e Gordon e tinha um restaurante com preços elevados, onde nem sequer cozinharia. 3. Reinventava-se. Optou pela terceira. Então a sua reinvenção passou por fazer o que fazem hoje o Gordon e Heston, mas sem ter que viver com o problema do ponto 2. Estamos a falar de um mauzão, que sempre prezou a frescura e qualidade dos seus ingredientes. Ele sabe que são o pilar da sua fama, em conjunto com o seu talento. Como é que neste processo de reinvenção, aparece na minha televisão a vender caldos Knorr? Meus senhores, ele diz que sempre usou os caldos nos seus restaurantes. Isto no meu dicionário tem um nome: mentira. Mentira combinada entre a Knorr e o Marco para nos venderem mais merda. Este é o mal do mundo. E enquanto houver dinheiro para fazer vender, e dinheiro para comprar, vai haver sempre alguém do lado bom da força a ser corrompido. Entre ser julgado por pessoas que percebem menos do que ele de cozinha, mas percebem alguma coisa e vender-se a mercenários da industria alimentar, diria que mais valia continuar a cobrar 25 libras por prato de batatas fritas.

Comentários