Refeição Nº3
















E então o que aconteceu à refeição número 2 no Mon Uncle? (também o título de um filme fabuloso de Jacques Tati. Também não! O nome do restaurante é que é o copiado do título). L.A.E pode ser muito parvo, incoerente e iletrado, mas contar até 3 ainda consegue. Porém, neste caso não vale muito a pena contar. Terminava o post anterior feliz por aparentemente não ser um restaurante frequentado por turistas. E é verdade. Não é frequentado por turistas, por franceses, por aspirantes a críticos, nem pela malta trendy que se passeia por Montmartre que não sabe o que está a comer, mas que podia encher a sala.
Se calhar não são assim tão ignorantes. Ou como o fenómeno gastronómico por estas bandas é tão acentuado que ninguém se deixa enganar. Esta é a menos lógica, pois por cá também já vi muita atrocidade.
O restaurante estava às moscas, o conceito parecia interessante. A técnica e a execução um flop. Uma carta de vinhos que compensou um pouco o vazamento da expectativa. Enfim. Amanhã há mais.
Lamento não voltar a tocar na tecla da incoerência e tal como tinha dito os almoços seriam sempre mais ligeiros. E este não foi excepção. 30 gramas de caviar Petrossian não é propriamente uma refeição pesada. Servido num dos restaurantes da própria marca, com tostas e blinis. L.A.E teve a sorte de apanhar ao lado um casal de japoneses que estavam com um embalo genial. Partilhamos uma boa garrafa de champanhe e posso avançar que eles consumiram umas 100 gr por cabeça. Uma javardice.
Aqueles 200 gr de caviar conseguiriam baixar o nosso déficit uns quantos pontos percentuais. Mas os Japoneses têm muito dinheiro. E os chineses também. E são os únicos (os que têm dinheiro) a quem vejo os Franceses tratarem bem.
Mais uma flechada no orgulho gaulês. Eles bem que precisam. Um Francês frustrado é melhor para a camada do ozono e para o ambiente maneira geral.
Quem só comeu aquelas merdas daqueles sucedâneos de supermercado, que compramos a preço de ouro e que são uma verdadeira lástima, jamais poderá gostar de caviar. L.A.E também não gosta e jamais daria 5 euros que fossem para comprar, sei lá, um pote com umas 200 gramas. Uma coisa que não vale um euro.
Por vergonha, por humildade e até por medo L.A.E não vai revelar preços reais de caviar à séria. Quem quiser saber é só procurar ou entrar numa boa loja, em Portugal no Corte Inglês, por exemplo. No Açores, é amarrar uma corda ao candelabro da sala e dar um pontapé na cadeira que L.AE usou para se elevar.
Mortes voluntárias à parte, o Beluga, encontra-se num plano intermediário. Ou seja, não é dos mais baratos, se é que o conceito de barato pode ser aplicado mesmo aos mais baratos. É o preferido de L.A.E, até porque não provou melhor. Com toda a humildade, não tem fundo maneio suficiente para chegar acima de forma consistente.
Mas provar duas colheres de chá de um bom Beluga é uma experiência única. Quem não gosta, definitivamente que jamais poderá entrar no panteão sagrado da restauração e da gastronomia.
Não pode haver ansiedades. Diria que quase não pode haver fome. Pelo menos, L.A.E não se pode dar ao luxo de ter fome e comer caviar ao mesmo tempo. Caso que era manifestamente o dos chineses, tal era a forma com que sorviam a coisa.
É preciso ter um pouco de gula, pois comer sem vontade não dá gozo nenhum. Mas só um pouco. Depois, evitava usar os dentes. É deixar que aquelas bolinhas maravilhosas rebentem entre a língua e o céu da boca. Sim, e céu existe.
L.A.E prefere acompanhar com champanhe, embora esteja muito implementado o mito da Vodka. Gosto muito de vodka, se calhar mais do que champanhe. E sei que a Vodka não se sobrepõe ao caviar. Mas a delicadeza e a própria bolha do champanhe, são para L.A.E o céu às bolinhas.
Aproveitou-se para provar Salmão selvagem fumado. Também ele extraordinário. E aqui mais um acto de contrição e humildade. À falta de fornecimento à altura L.A.E come aquelas porcarias que se compram no supermercado. Mas só depois de comer o que comeu hoje se apercebe dos oceanos que separam a iguaria da produção em série, que serve para se meter em sandwich’s e disfarçar com queijo creme ou manteiga.
Curioso foi também ver que a moda é servir com queijo creme. Porém a L.A.E serviram com manteiga sem sal, que é a forma preferida.
Foi perfeito e ninguém cozinhou.
A refeição 4 também tem tudo para ser perfeita. L.A.E vai ao restaurante de uma verdadeira lenda: Joel Robuchon. É o seu restaurante atelier, mas mesmo assim tem duas estrelas no guia Michelin, e que viu a sua credibilidade reforçada depois do fracasso do Guia Gault Milau em provar uma aposta consistente no Mon Uncle.



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