Como há 50 anos atrás.


A propósito da borregada do Regresso ao Futuro no passado dia 21 de Outubro de 2015, esquecendo-nos que o Exterminador Implacável, sim aquele em que o mundo acaba é já em 2017, como tal não temos muito tempo para perder. Principalmente tempo a perder com modas, como o Gin por exemplo, ou a Sangria que me cheira ser o novo preto de bares, loundge's e rooftops, se não estiver nebulado, a chover cobras e lagartos e menos 30 graus. O que eu não pagava para ver uma selfie?, e isto para não falar da onda de novos restaurantes que as low costs trouxerem para Lisboa e Porto.
Que tal e qual como os turistas, são mais e mais e mais do mesmo, decoração bonita, boa iluminação, carta criativa, serviço informal, jovem, são quase nossos amigos de longa data, conhecidos 2 minutos antes.
Deixei de escrever exactamente por isso. Simplesmente perdeu graça e ganhou gente a mais a comentar a moda da gastronomia. Por isso, decidi não regressar ao futuro, mas sim ao passado, com duas referências do antigamente, ou não recuássemos nós 50 anos sempre que atravessamos as suas portas: O Mané Cigano e O Travassos. Aqui discute-se como devem ser alinhados os chicharros e se devem ou não apontar a norte, enquanto se bebe vinho de cheiro com laranjada ou o melhor fininho da cidade. Em qualquer um dos dois, diga-se e sem qualquer reserva, come-se e bebe-se tudo como se comia e bebia há 50 anos. Sinto-me mais próximo do meu avô no Mané Cigano do que quando o visito no cemitério, ou o vejo numa fotografia antiga. É lá que está a sua alma, comendo, bebendo e conversando com os seus amigos, que eram todos os que lá estavam. Ok, não havia televisão para ver o Benfica, havia rádio para ouvir o Benfica. Devia ser ainda mais emocionante e entusiasmante. 
É neste sentido que se pode concluir, com alguma certeza, que os problemas que deviam ficar à porta de casa, ficam logo à porta do Travassos, que tem um pormenor delicioso. Ao fim do dia, principalmente nos dias de bola, leia-se o Benfica, porque no fundo o resto também são modas, tem em cima de um pequeno balcão as sobras do almoço para que se possa picar, enquanto se bebe uma imperial. Isso, ou um bocado de queijo, num bocado de pão, da mão do próprio Rodrigo para a minha. E se fosse directo para a minha boca, também marchava, como fazem na Turquia. Não sei se o Rodrigo é um homem muito viajado, para saber por exemplo, que o que ele faz ao fim do dia é exactamente o que os italianos fazem enquanto bebem um spritz, acompanhado pelas mozzarelas com tomate ou os panini com presunto, sempre oferecidos pela casa. Daí cheirar-me que ou o Rodrigo é um homem viajado, ou tem em si o conhecimento de vários homens viajados. Se dissesse Ciao em vez de Até amanhã, no fim-de-semana O Travassos já estaria escarrapachado na revista da moda. Graças a Deus que o até a amanhã, com sotaque micaelense não tem gracinha nenhuma. 



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