Síndrome GTI



Já repararam que só carros de entrada de gama é que exploram ao máximo o conceito GTI? Quem se esquecerá do eterno Fiat Uno Turbo GTI?
Carro, que é carro há quem diga que é automóvel e é discretamente potente. É quase como a diferença entre um jogador de futebol e um tipo muito rico e educado.
Um tem que ostentar a materialização do sonho de riqueza. O outro tudo faz para que ninguém perceba o quão rico é.
O GTI, coitado, nem uma coisa, nem outra. Nem é carro de rico, nem é carro de jogador de futebol (a não ser que jogue nas distritais). É simplesmente carro de pobre que gostava de ter um carro à séria, mas que o dinheiro só chegou para comprar as palavras GTI em baquelite para a traseira do Uno, do 206, Corsa, ou do Starlet. Nisto não há nada mais democrático do que GTI. Todos podem ter o seu em suaves prestações durante 15 anos e é o efeito placebo com melhor rácio preço/qualidade. Quem tem 1 GTI, pensa mesmo que está a guiar uma grande máquina. É vê-los na auto-estrada a irem dos 0 aos 100 enquanto a Lurdes faz uma sandes com manteiga, debaixo de uma nuvem de fumo preto. Nem dá tempo para por o queijo, ou sequer ver a sandes.
Pode-se pensar que este fenómeno está datado, mas a verdade é que os fabricantes de automóveis têm se conseguido reinventar de forma espantosa. No outro dia entrei num 206 dos novos e parecia que estava a entrar num topo de gama. Mas depois tocamos nas coisas, e é tudo plástico. É tudo a fingir. De brincar. Repare-se que para mim uma maminha de silicone é tão boa como qualquer outra. Mas convenhamos entre uma maminha assumidamente de silicone e o botão de on da soflagem no novo 206 vai uma distância muito grande.
É a pobreza do luxo.
É a droga que me faz esquecer o facto de ter trabalhado uma vida inteira e a única coisa que consegui dela foi a porra de um Pólo GTI ou uma outra versão desportiva qualquer.
A sigla GTI é tão importante para a minha motivação pessoal como uma descida dos impostos.
Podemos pensar que não, mas entre o estado que as coisas estão e uma revolta popular está uma palavra: GTI. O GTI é que me faz pensar que a minha vida afinal não está assim tão mal. É a caminho do trabalho que se reganha a confiança para enfrentar uma nova medida qualquer de austeridade dando uns bigodes ao parvalhão que vinha num Saxo sem qualquer pedigree.
Com apenas três letrinhas se escreve uma das palavras mais importantes para o desígnio nacional. E não, não estou a falar do PIB.







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