Sorbet de chouriço, ravioli de lapa e caldo do mar. A nota 10 do primeiro dia do 10 Fest.

Diz-se à boca pequena, e também à grande, mais ou menos do tamanho da que tive de abrir para conseguir chegar ao fim do primeiro jantar do 10 Fest que foi um enorme sucesso. Não tenho argumentos para discordar.
Houve um grande fim de tarde, houve pirotecnia, jogos de luzes, bolas de espelhos e comida. Muito boa comida.
Desafiante e provocadora. Bem ao estilo com o qual me identifico, sem nunca ser gratuito.
Os protagonistas foram David Faure e Noelle Corn do restaurante Aphrodite em Nice e que conta com uma estrela Michelin. O Hugo Ferreira esteve dar uma mãozinha.
Os dois pratos que mais me marcaram foi a salada “caprese” como que desconstruída.
Os sabores eram precisos e equilibrados como um relógio suíço, já que os belgas não têm tradição como relojeiros. Lá está, não era particularmente desafiador ou provocante, pois isso estava reservado para os ravioli de lapa, com sorbet de chouriço e um caldo de peixe/mar. 
Espera aí? 
Ravioli de lapa?
Sorbet de chouriço?
Lá está, a tal provocação, vocês põem pimenta da terra em tudo? Então vais levar aqui com um sorbet de chouriço, regional, que claro leva a abençoada pimenta.
É óbvio que para o palato médio açoriano, como o meu, tinha que funcionar. E parece-me que de forma generalizada funcionou muito, muito bem.
O resto, estando muito bom, não me marcou profundamente. Já comi melhor barriga de porco na escola, e não foi preciso vir ninguém de fora. Arrisco até em dizer que o prato terá falhado. O Bacalhau revisitado, apesar de muito bom, teve o azar e a falta de provocação que o sorbet de chouriço teve. Estamos em Portugal e estamos a falar de bacalhau. Creio que não preciso de dizer mais nada.
Agora, quando chega à parte de fazer o gelado de ananás com azoto líquido à frente de toda a gente, com uma música tecno altíssima, confesso que me ia parando a digestão. Mas isto não é unânime, atenção. Tanto vi pessoas entusiasmadas a bater palmas, como vi pessoas completamente indiferentes àquele espectáculo.

Eu confesso que não consegui deixar de olhar para aquilo, mas ao mesmo tempo senti vergonha alheia. Acredito que possa haver ali alguma pedagogia, que para um moço que já comeu em tão bons restaurantes seria desnecessária, já comi muitos fumos, muitas espumas e muitos gelados feitos na hora, ou seja, para mim foi quase como um filho que nos chama para ver dar uma cambalhota. A única diferença talvez resida no facto que ele está proibido de por uma música daquelas. Pelo menos lá em casa.

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