Ray McCue e a importância de superar o preconceito.


(Neste espírito colaborativo e de Verão, aqui segue o olhar do Carlos Rodrigues sobre o 4º Jantar do 10 Fest. Entre muitas outras facetas,  incluindo a beleza, foi co proprietário de um dos melhores restaurantes dos Açores, a Lota e escreve com regularidade no Ilhas Blogspot)









Partilhar este espaço com Luis Anton Ego é, por si só, um desafio que habilita qualquer um “in the line of duty” a curtir uma indigestão, pontuada por uns ligeiros tremores e uns certos suores frios. E, ainda assim, sortudo será se não lhe derem a volta à tripa.

Metendo a mão na massa: não sei bem o que me aconteceu mas, o 10 FEST da EFTH foi o grande responsável. E os astros, alinhados, levaram a que procurasse testar o ditado popular: “palavras, leva-as o vento”. 

Em tempos não muito distantes, a minha atenção foi requerida - por um amigo - para um certo artigo num jornal diário da nossa praça. Em causa, uma opinião muito pouco favorável em relação à parceria da EFTH com a Johnson & Wales: EUA não eram, nem são, referência gastronómica, para além do hamburguer que integra a dieta de todo o mundo (civilizado e não civilizado), é claro.

É claro também que, na primeira oportunidade, não poderia deixar de procurar (in)validar a incauta opinião e lá inclui o Chef Ray McCue na lista dos inúmeros afazeres nesta edição de 2013 do 10 FEST. Fi-lo na companhia da minha amiga Isabel – moça agora iniciada nesta ingrata e difícil tarefa de provar o fruto da criatividade destes artistas e de lhes cuspir na sopa.

… A saborear o pão (excelente) do Bakery Chef Mitch Stamm e a bebericar o branco CARM 2012, aguardamos pelo “Peito de pato fumado com pêssegos corados” que, embora frio (pouco razoável mas, muito comum neste tipo de eventos), não desiludiu um considerável apreciador do famoso “magret du canard”, com o pêssego a perfilar para um óscar na categoria de “supporting actor”, viabilizando o equilíbrio vitivinícola.
Depois, a Terrina (de polvo). Coisa que abomino e por isso me abstenho. Não de a ter comido (bem entendido), pois, o dito molusco consta da minha lista de favoritos, muito embora, aqui, não o tivesse percebido. Tudo isto a contrastar substancialmente com o “much too sweet” (a expressão é minha) “Gaspacho de morango”, muito bem acompanhado pelos pimentos do cocktail preparado pelo Gustavo Maya.

Levantaram-nos o prato, mudaram-nos o vinho (mas não como quem muda a água às azeitonas, pois, estes festivais são importantes também por contribuírem para a formação dos jovens à guarda da escola) e passamos agora as ventas pela borda do copo, inundado agora com os aromas mais exuberantes do branco Carm Reserva 2011, com o firme propósito de acompanhar o "Risotto de ervilhas” que, no meu caso, deve ter vindo do fundo da panela, um pormenor de somenos que não me privou de experimentar um final de boca no qual se deixavam desvendar algumas ervas aromáticas.

… Embebido num gole sedoso dado com delicadeza ao CARM tinto 2011, eis que chegava o momento que eu mais aguardava: o “Carpaccio de atum”. Tecnicamente perfeito – a desfazer-se na boca – faltava-lhe o tempero que, em minha opinião (se não a apreciarem, façam o favor de brigar com o “Ego” cá do sítio), só o limão galego lhe pode dar (em compota – minha preferida) e que a toranja (ao que parecia) não conseguiu substituir, fazendo-me partir sem demora para o “Duo de cordeiro” que, frente a uma das grandes cozinheiras de cabrito - ali à minha frente -, não cantou afinadinho e só não foi vaiado porque, na altura, eu tinha a boca bem calada, com o CARM SO2 FREE, a fazer boa sopa. Tão bom que, depois de provada a sobremesa: “Bolo quente de ananás com gelado salgado de leite (uma delícia inesperada) com chocolate e rebuçado de pecan” e bebido o “cocktail de ananás, sorbet de limão, Cointreau, Jameson e xarope de açucar tropical”, voltou a deslizar na goela, como um final feliz para quem, como eu, não toma café.

Gostei mais da refeição preparada pelos Chefs açorianos mas, gostei mais desta do que de outros Chef’s experimentados e estou convencido que apreciação não está só condicionada por questões de paladar mas, dou de barato também.
Uma coisa é certa: não se pode generalizar! Nem mesmo quanto à gastronomia norte-americana. E os jornais também por aqui deveriam saber isso.


As fotos não são minhas, pois, eu não vinha preparado para tal e foram tiradas daqui com a devida vénia. 





















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