InGinhosa moda.

Sou burro. É um facto. Nem preciso de argumentar ou apresentar factos. Esta é uma burrice que se cheira a milhas. Mesmo assim consegui me surpreender pela negativa pela infinitude que esta tem em mim ao verificar o tempo que precisei para desmontar a moda do gin. Foram uns dois anos. 
O meu primeiro ginocídio ocorreu pelos 14 anos, quando eu mais o meu primo fugimos de casa e roubamos o que era para aí um shot de garrafa de Bosford’s do meu Pai. Foi das coisas mais horríveis que tinha bebido até então e fiquei muitos anos sem beber.
Já mais homenzinho, aprendi que o gin era uma espécie de degrau acima de pedir aquelas garrafas pequenas com Martini, que creio só existirem em Portugal, porque o lobby da construção civil é muito forte. 
Duas pedras de gelo, uma rodela de limão (qual raspa?), meio de gin, meio de água tónica e estás aviado. Os homens gostavam basicamente porque é forte. As mulheres gostavam quando só se ponha água tónica, suposto no gin tónico e éramos felizes.
De um momento para outro surgem dezenas de referências de marcas de gin, seja formato clássico, mas destilado à mão pelas freiras manetas de um chateaux qualquer em França, seja com alecrim, com açafrão eu sei lá o que já se lembraram de lá meter. Seja como for, é tudo de 30 euros a garrafa para cima. Não porque valha os 30 euros, mas sim porque o efeito placebo de uma bebedeira de 30 euros é uma coisa maravilhosa. Diz que nem dá ressaca. 
De mão dada, apareceram uma série de tónicas, cheias de variantes aromáticas que conseguem ir quase aos dois euros por cada 20 cl. Em Portugal pelo mesmo preço por litro compro um belo do espumante. Mas espumante é brega, porque custa menos que 30 euros a garrafa e não é feito em França.
Depois pegam num copo alto de vinho, estou a fazer de propósito para ser bronco, pese embora o seja na realidade, e enfiam lá para dentro 4 cl de Gin especial destilado pelas tais freiras manetas, colocam 20 cl daquele precioso líquido tónico, ervas aromáticas, bagas de zimbro e pimenta rosa, eu sei lá. E gelo, gelo, gelo, gelo, gelo, gelo.
No fim ficamos com um copo para aí de 50 cl onde só cerca de 9% é álcool. Meus amigos, uma cerveja Belga tem mais álcool que isso.
Também não sei quem ensinou os barmans da moda a colocar tanto gelo num gin. Quanto mais gelo se coloca numa bebida com gás, mais depressa esta o perde. Mas enfim.
Vem a conta e pagamos 9 euros por uma merda de uma bebida gaseificada, que para mim não é um gin. É um cocktail feito com gin. É como o pessoal que gosta de sushi, mas no fundo, no fundo quer é mais molho de soja. Neste caso, a merda é a mesma, ou seja, este pessoal que adere às modas não gosta mesmo de gin, gosta de um cocktail, leve, pouco alcoólico e que seja caro. Se ainda rodassem o Sexo e a Cidade, não duvido que a Carrie e as amigas tivesse trocado o famoso Cosmopolitan por um gin com frutos vermelhos, tónica com pimenta rosa, ou uma Fever Tree e alecrim.
O meu gin é simples como se fazia antigamente, só que talvez não leve tanto gin. Raspa de limão, ou como se gosta de dizer agora, zest de limão, estala a pele para soltar os óleos, raspa na borda do copo e deita no fundo. Juntar no fundo do copo um pouco de gin. Um Tanqueray nº10 serve perfeitamente e custa uns 16 euros, ou mesmo um Bombay e com uma colher de pau esmagar a raspa, perdão, zest contra o fundo do copo. Nota-se que o pouco de gin fica todo oleoso. Deito duas três gotas de limão, duas a três pedras de gelo. Então coloco uns generosos 6 a 7 cl de gin. A nível de tónica gosto da Nordic Mist e não é cara, mas nunca coloco todos os 20 cl. Vou colocando para ter sempre o nível de álcool ao meu gosto, que é médio.
Isto é um gin e nunca na vida vale mais que uns 4/5 euros, nos locais mais comuns. Se for no último andar do Sheraton, compreendo que tenha de ser um pouco mais caro.

Levei dois anos a ser enganado, porque tenho a mania que sou fashion. Mas quando cai a ficha e percebo que só sou mais um parvo a alinhar em modas parvas, vou fazer a minha parvoíce para outro lado. Diga-se, gin.

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