Mais chato que um concerto de Adriana Calcanhoto só se for um prato de papas. E, e.


Uma das ideias para 2013 é tentar abrir estradas e ligações entre a gastronomia e as artes. Este trabalho já começou a ser feito com o comicinema, onde tento emparelhar filmes com refeições. E hoje abro uma nova rubrica, associar um prato, uma técnica ou um tipo de comida a um espectáculo.
No passado dia 23 de Abril fui ver um dos concertos mais badalados do ano aqui na minha pequena Ponta Delgada. Adriana Calcanhoto.
Ora bem, quem é a Adriana Calcanhoto? Sobejamente conhecida, a minha ignorância não encontra qualquer registo que valha a pena mencionar. Num panorama musical como o brasileiro, Calcanhoto até podia ser grande em Portugal, como o Roberto Leal o é. Agora, soltem-na no meio de feras como Jobim, Vinicius, Buarque, sei lá mais quem. (Até podia continuar a listar nomes de monstros musicais brasileiros quase que eternamente) Porém, Calcanhoto jamais passaria de uma espécie de amuse de bouche de um restaurante de segunda. Mesmo não tendo nada em particular contra a senhora. Muito pelo contrário, quase a chegar aos 50 anos, encontra-se num estado de conservação, que até lhe comprava um CD se aceitasse jantar fora comigo e ouvir as minhas provocações idiotas e imaturas toda a santa noite. 
Não é isso que faz com que artisticamente não seja um sub produto. Um sucedâneo.
Enquanto ouvia este chato concerto, fui-me colocando em causa. Um concerto com uma música de uma hora e vinte minutos é chato? Ou é genial?
Estou até hoje neste debate.
O tom agradável, quente e até doce da voz da Adriana, é um mimo. Mas é aquilo. É um monotom(no). Anda ali, plano, raso, ausente de um arrepio ou de um desafio para o ouvinte. 
A viola debitava igualmente acordes simples, numa estrutura muito semelhante ao código binário. 1 e 0. Ora 1, ora 0. Sempre 0 na surpresa, no repentismo artístico e na emoção. É aquilo. E aquilo é o CD. Bolas.
Então que as letras fossem do outro mundo. Mas não, afinavam com a voz e com os acordes de guitarra. Cadeira rima com beira, marinheiro com dinheiro foram algumas das que retive. Não sei escrever muito melhor que isso, é verdade. Por isso, é que nunca me convidaram para escrever letras, que para as quais é preciso emoção, loucura, paixão, e tesão. Nem vi, senti ou ouvi que ponta fosse de tesão.
A não ser no público. Aí não faltava tesão. Diria tesão de mijo, tal forma se acentuou quando Calcanhoto tocou lá aquela merda do avião sem asa e o piu piu e o frajola. Com franqueza! Dar 18 euros para isto?
É como dar 18 euros para comer um prato de papas Cerélac. É chato, é monótono, a primeira garfada, sabe à segunda, à terceira, até à última. Numa espécie de procissão fúnebre. É tudo igual. O aspecto não é apelativo e tem açúcar a mais, não fosse a voz doce. Convenhamos, uma merda. Tudo o que uma papa é por natureza e que um espectáculo não devia ser. 

Mas uma coisa é certa, a papa que aparece na embalagem é exatamente igual àquela que fazemos em casa. Por isso, o concerto foi qualquer coisa de fabuloso, genial, ainda estou arrepiado enquanto escrevo estas linhas. Ainda tentei comprar bilhete para o dia seguinte para ter a certeza que tinha visto e ouvido mesmo tudo. Estava esgotado. Já viram como o azar pode ser tão irónico.

Comentários

  1. Alguém precisava não ter papas na lingua, com trocadilho e tudo mais , para dizer uma verdades sobre esta moça que ,tanto aí como aqui , nos atormenta com seu (desen)canto...
    Parabéns Anton .

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