Comicinema Parte III. Beasts of the Southern Wild


Beasts of the Southern Wild é o filme que me fez dar o primeiro 9 em 10 no IMDB e transformou-se instantaneamente num dos meus filmes preferidos. Curiosamente o primeiro filme americano entre muitos italianos e franceses. Aqui consigo estabelecer um bizarro paralelo gastronómico, pois as melhores refeições da minha vida foram em França e Itália, mas também tive duas a três refeições excepcionais na América. Será por cada dez refeições naqueles dois países vou gostar, sem exceção, de duas na terra do Tio Sam? Será que há um paralelo? Será que há uma métrica? Creio que sim. Chama-se cultura.
França e Itália são infinitamente mais ricas do ponto de vista cultural do que a América. Seja porque uns estão cá há mais tempo, sejam porque outros são uns grandes broncos. A quase única exceção, propriamente dita, nesse abismo cultural é exatamente o cinema. Não se pode dizer que a América fique muito atrás da França e Itália em termos cinematográficos. Mas atenção, não estou a falar do modelo, mais do mesmo, com final feliz de Hollywood, mas sim dos Coppolas (pai e filha), ou Sidney Lumet, ou Kubrick, ou Hitchcock (apesar destes dois serem ingleses, foi na américa que construiram as suas carreiras), Billy Wilder e tantos, tantos mais. Filmes extraordinários como o 12 Angry Man, ou o Sunset Boulevard, por exemplo, alimentam o meu imaginário. Estou a ser incoerente em promover a criação de um modelo métrico de proporcionalidade cultural entre países onde um dos pilares, o cinema, é exatamente a exceção a este modelo? Sim. Muito. Mas a beleza de demonstrar um ponto de vista através da incoerência é algo que para mim tem outro charme, sendo que mais que provada a lógica, pouco interessa a pequena incoerência. A América é de fato muito pródiga a fazer filmes e como tal jamais se cifrará na proporção 10 para 2. E o Beasts of the Southern Wild é a prova disso, um filme caoticamente belo e poético, que retrata não mais, não menos a degradação do comportamento humano. Degradação se for visto aos olhos de quem vive numa sociedade democrática, organizada e com regras para tudo como a nossa. Ou seja, por quem vai ao cinema ver este filme. Eu não fui ao cinema e mais uma vez emparelhei uma refeição com um filme. A história passa-se no sul da América, levando-nos a pensar que será bem perto das zonas que mais foram afetadas pelos tornados e cheias, ou seja na zona do Mississipi. Para além da influência crioula, cozinha que conheço francamente mal, se há local onde se frita frango como nenhum outro é para essas bandas. Aliás, conta-se que o Coronel da Kentucky Fried Chicken pertencia ao Ku Klux Klan. Ora, digam lá se não é irónico fazer fortuna às custas de um monte de pretos, que adoram frango frito, tendo ao mesmo tempo a obstinação de os matar? Seria o frango frito o plano para os matar?
Lá em casa, e sem barretas do Ku Klux Klan, cortamos o frango às tiras, do tamanho de um dedo, farinha, ovo, pão ralado com especiarias, ovo e de novo pão ralado com especiarias, o que lhe confere uma dupla crocância, e frita em óleo bem quente. É rápido.
Em paralelo fazemos um muito pouco denso puré de couve flor. Fica quase um molho espaço. Querem saber quais os três segredos de um bom puré? 1. Manteiga. 2. Manteiga. 3. Manteiga. Bom, fazer um refogado ajuda. Usar caldo em vez de água também. Depois não há mais simples. Numa tigela o puré/molho de couve flor onde dipamos os duplamente crocantes pedaços de frango frito. 
Depois deste pontapé no colesterol só um Visconti para baixar os níveis de gordura no sangue.

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