Comicinema Parte I

Este foi um fim de semana de grandes filmes lá em casa. Revimos o Vertigo do grande Hitchcock, recentemente consagrado o melhor filme de sempre pelo Instituto Britânico da Cinema, destronando o Citizen Kane. Revimos o Stromboli do Rosselini, o Amarcord de Fellini e vimos pela primeira vez os Malditos (The Damned) do Visconti.

A ideia é emparelhar estes filmes com comida. Bem sei que será mais fácil emparelhar um vinho, mas a temática pareceu-me primar pela diferença. Diferente não quererá dizer melhor. Aliás, vindo deste blog dificilmente será melhor do que o quer que seja.

Vertigo, ou a mulher que viveu duas vezes. É um filme de detalhes, pequenos pormenores que todos eles se juntam para iludir o espectador (peço desculpa por ainda não conseguir escrever o espetador) e principalmemente o pobre James Stewart que é enganado quase desde o primeiro segundo de filme ao último. Como tal, requer uma comida não distrtiva, fácil de comer e que conceptualmente possa ajudar à ideia de americanizar a europa ou vice versa, sendo Hitchcock um europeu a trabalhar na américa. Mais a mais, não sendo o meu filme preferido está no lote dos que mais gosto, tal e qual um bom hambúrguer. 
Lá em casa, é picado à mão numa mistura de acém e vazia. Diga-se de passagem que se há coisa que se aprenda na filmografia de Hitchcock é picar carne à mão. Depois é temperado com um pouco de azeite e sal. A reação química do sal, quando deixamos o hambúrguer a repousar no frigorífico é a de ligar a carne. Como tal, dispensa qualquer outro tempero ou truque. Vai à chapa e sai médio mal. O pão é o brioche e leva um pouco de mostarda e manteiga na base. Entra o queijo cheddar, alface, cebola, tomate e pepino pickle. É uma receita à qual só precisamos de juntar um bom filme como o Vertigo. E é tão simples, como saber que algo vai acontecer, só não sabemos quando.

Stromboli. Este filme devia ser obrigatório para qualquer açoriano que se preze. Passa-se na pequena ilha de Stromboli cheia de atividade vulcânica. Ingrid Bergman para fugir a uma deportação quase certa casa com um pescador daquela ilha. Ilha tem cerca de 600 habitantes. A partir daí é o choque cultural e social completo de quem vem de um meio grande para um micro meio. Se alguém quiser ter uma noção do que era a vida no Corvo ou mesmo noutras ilhas mais pequenas há 50 anos, este filme é um documento histórico. Curiosas cenas em que a população foge para dentro de água para escapar a uma erupção vulcânica. Cá não devia ser diferente. Como não devia ser muito diferente a apanha do atum em Stromboli da nossa aqui nos Açores, que é documentada numa longa e belíssima cena do filme. 
Como tal, a unir estes ilhéus temos o atum. Não consigo pensar em algo mais simples, humilde e despojado como filme de que um atum bem cortado e comido cru. Talvez com uma pequena raspa de lima. Nada de soja, nada de wasabi, nada de modernices, nada de complicações. Pena, pena é que Stromboli ou Terra di Dio do Roberto Rosselini, um dos fundadores do neo realismo, é um peixe quase tão complicado de apanhar como o atum. Por isso, é daqueles que se tiverem uma oportunidade, espero que tenha a habilidade de o caçar.


Este é mais um post partido em dois. Amanhã o emparelhamento do Amarcord e dos Malditos, deixando a ligeiramente simples para o decadentemente complexo.

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