Olhe as batatas fritas são congeladas? Não senhor. São fritas.

Muito me quiseram assustar com o sistema americano, diz-se obrigatório, de gorjetas. O meu racional não recai sobre a obrigatoriedade de pagar ou não, mas sim no facto de gostar de pagar quando tenho serviço. Se vou a um restaurante estou a comprar um produto e um serviço. O produto comemos, e o serviço, normalmente gramamos. Gramar é clara força de expressão quando estou nos Açores, e mesmo em Portugal Continental. Como podemos gramar uma coisa que não existe, é no seu sentido prosaico bonito de dizer. Até revela uma inteligência, que em mim desconheço. Porém, a realidade é que o serviço é muito mau. Muito mau mesmo. Nos Açores, temos dois ou três restaurantes onde a coisa não corre tão mal, mas seria deselegante estar a nomear quem, pois por exclusão iria estar a nomear todos os outros que são muito maus. Li uma crítica a uma restaurante de uma estrela Michelin em Nova Iorque que dizia que a comida era excelente, mas quando chegaram, pasme-se, imagine-se, tiveram que chamar o empregado à mesa uma vez. Pois é, o pão nosso de cada dia em Portugal não é ir jantar fora, é ir à pesca do empregado, é ir fazer exercícios cardiovasculares levantado o braço, é muita coisa, diga-se. Ir jantar fora é que é das poucas coisas que não me parece que seja. Por oposição, quando jantei em bons restaurantes americanos fui divinalmente bem servido. Basicamente porque nunca tive de me preocupar com nada. Desde o momento em que entrava, tinha logo alguém para me receber. E daí em diante serviço continuo, atento, perfeito. Não concordo muito que o serviço seja pago à parte, pois deveria estar incluído no preço dos pratos. Mesmo assim, não me importo de pagar, porque me estão a dar algo de volta: serviço de jantar. O próprio fato de existir uma tabela, mesmo não concordando de raiz com o pagamento à parte, ajuda a parametrizar o serviço. Posso dar uma percentagem mais baixa ou mais alta, conforme a minha satisfação. Mas mais, o empregado tem uma cenoura para correr atrás. O seu vencimento, com as devidas conversões não deve ser muito distante dos de cá, porém, leva em gorjetas mais dois ou três ordenados. Há competição, porque assim ser empregado de mesa não é de todo um mau emprego. Eles têm que ser bons para terem lugar e melhores ainda para ganharem dois ou três ordenados e quem ganha com isso, sou eu. É mais caro ir jantar fora na América. É. Mas preferia ir jantar menos vezes e ter sempre um serviço destes. E o melhor é pensar que a obrigatoriedade de pagar gorjeta não é mais do que o resultado da nossa própria vergonha, coisa que francamente não tenho. Principalmente quando sou mal servido. E também o fui nesta viagem gastronómica, é verdade. Nessa altura, chamei o empregado e disse que não ia pagar qualquer gorjeta porque o serviço tinha sido péssimo. Ele concordou que tinha estado mal, pediu desculpa e aceitou o fato. Não soltou os cães, nem mandou a polícia atrás de mim. Se a América é a terra da liberdade, será também a terra prometida para quem goste de ir jantar fora. Desde que não entre num restaurante de gastronomia americana. Contraditório tudo isto.

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