Só um masoquista poderia ficar satisfeito por ter passado 8 horas na cozinha? Então eu sou este masoquista.

No dia 6 de Outubro, eu, o meu irmão e a Mariana vamos confeccionar uma das refeições mais importantes das nossas vidas, para cerca de 15 pessoas. Como não queremos que nada falhe, fizemos um primeiro ensaio onde colocamos em pratica algumas ideias, que agora partilho. Teste 1: Encharéu recheado, cozido ao vapor, com beringela no forno em papelote e beldroegas. Este prato é inspirado numa receita do genial Marco Pierre White. O nome diz tudo, Marco – Itália, Pierre – França, e White por ter tido o azar de nascer inglês. Aos 27 anos atingiu o topo, passados quase vinte anos decidimos experimentar, diria que mais a técnica que ele desenvolveu, do que receita. Primeiro filetei um encharéu espetacular. O nosso peixe só pode ser o melhor do mundo. Depois, com muito cuidado abrimos uma espécie de envelope onde se coloca o recheio. O curioso é que o corte é feito de tal forma, que quem vê de fora não se apercebe que o filete está recheado. O recheio: Beringela no forno com alecrim e tomilho, que depois é transformada em pasta, juntando um pouco de iogurte grego. Não tem mesmo nada que saber.. Abre as beringelas ao meio, passa com um dente de alho, coloca o tomilho, alecrim, fio de azeite e sal. Fecha num papel de prata e vai ao forno. 180º 35 a 40 minutos. Tira do forno. Com uma colher retira conteúdo da beringela para uma pequena panela com azeite, deixa a água destilar. Desliga e junta o iogurte, limão e correções finais. Uma vez recheado o peixe é envolto em película aderente e vai ao vapor, uns 3 minutos. Feito. O empratamento é feito com o filete ao vapor, com uma mini beringela feita em papelote no forno, leva um pouco da pasta de beringela, já transformada em molho, juntando um pouco de caldo de encharéu e beldroegas, que não têm grande sabor, mas têm uma textura extraordinária. É uma erva daninha que deve estar a invandir o seu quintal agora. Teste 2: Baked Alaska, uma sobremesa muito famosa nos anos 70, em Nova Iorque. Sinceramente, podia ter ficado nos anos 70. Para além de ter sido uma bomba que deixou quase todos mal dispostos, não funcionou do ponto de vista técnico. Também, com tanto onde falhar, não tínhamos como acertar. Ora se não vejamos, é um tubo de chocolate branco (que ficou grosso demais), com gelado lá dentro e que é colocado no centro de parfait de ananás, é coberto com claras em castelo. E agora repare-se no perigo deste número de circo: vai ao forno 3 minutos. Sim o tubo, o gelado, o parfait. Saiu com o aspecto que as fotos documentam, para 3 segundos depois desmoronar por completo. Mesmo desmoronado, ia nos matando. Teste 3. Encharéu panado, atum braseado, em cama de salada de tomate, uva branca de cheiro e milho branco. Teste 4. Aproveitamento dos restos de peixe. Picadinho de encharéu com chili e manjericão. Picadinho de atum, com cebola e alcaparras. Sashimi de atum fresco. Posso dizer que para todo este jantar, estive 5 horas a trabalhar o peixe, de raiz. Teste 5. Ovo Modernist Cuisine, tingido com sumo de baterraba e redução de vinho do porto. Teste 6. Batata tingida com redução de vinho do porto e beterraba, em dois tons, cortadas em semi círculos, que formam círculos com os dois tons. Foram umas oito horas atrás dos tachos. Mas sinceramente, não dei pelo tempo a passar. Só no dia seguinte é que apareceu a conta. E quão dolorosa foi.

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