Burguer, she wrote.

Muitas pessoas perguntar-se-ão qual o meu problema com a América, quando vivo na Europa, mais propriamente num paraíso biológico chamado Açores, onde quase tudo o que é produzido regionalmente, é produzido como se fosse há 50 anos atrás? (O ser atrasado em tudo, não haveria de ser sempre uma coisa má.) Porque a América representa o demónio. Representa a ambição desmesurada de uns quando têm quase 300 milhões de outros para lucrar. E quer se queira, quer não, o McDonald’s está no epicentro de tudo isto, quando em 1930 abriram os primeiros restaurantes. Mas ontem, ao ver um documentário chamado Food Inc, o meu sentimento atingiu níveis de ansiedade nunca registados. A razão é simples, partirei dentro de um mês para um périplo gastronómico aos Estados Unidos, com particular incidência em Nova York. Não me preocupa ir ao Le Bernardin, ou ao WD 50, preocupam-me sim, as muitas refeições que vou ter que fazer fora de estabelecimentos que confio. Os números são assustadores. Mas hoje vou-me focar, brevemente sobre o hambúrguer. No princípio deste século aconteceram graves casos de e-coli, que basicamente é uma bactéria que vive nos intestinos das vacas, e que as pode contaminar através das próprias fezes. Ora, quando temos vacas, que vivem em cima de vacas, que vivem em cima de vacas, isto parece a explicação existencialista para a criação do universo, pois há sempre a ideia que há alguém acima do criador para criar o criador. Porém, aqui pouco importa quem está acima do criador, ou que vaca está em cima de que vaca. Elas vivem na porcaria e contaminam-se. De tal forma, que em 2005, creio, tiverem que ser retirados 10 mil milhões de quilos de carne de vaca para hambúrguer do mercado, por estarem contaminadas com e-coli. Não foi isso que impediu algumas mortes, que podiam ter sido mais, diga-se. O curioso é que mais uma vez os grande produtores, ou filhos da puta, lê-se da mesma forma, em vez de tentarem ir à raiz do problema, oferecendo às vacas e a quem trabalha no terreno melhores condições, descobriu que se lavar a carne com amoníaco, tudo se resolve. A diferença de paradigma reside aí. Produzir menos e melhor não é uma opção, por isso, não se olha para uma solução que permita um crescimento saudável do gado, como temos aqui nas nossas paragens. Foi como no post do outro dia sobre dar rebuçados às vacas, pela ausência de milho. Nem se põe em causa, por exemplo, que o milho nem sequer é o melhor alimento para as vacas, sendo o melhor a relva e forragem. A ponto de partida é sempre da merda que está feita, daí a dar rebuçados, pareça mais lógico do que dar relva. Eles nem devem se lembrar o que é que as vacas comiam. Ou isso, ou não interessa. Assim sendo, neste momento 70% da carne de hambúrguer que é vendida nos Estados Unidos, é lavada com amoníaco, esta substância que também faz ao desenvolvimento saudável da raça humana. Mas mais curioso é o, guloso, testemunho de um dos donos da fábrica ao dizer que hoje estão nos 70%, mas o grande plano é chegar aos 100%. E que não vão dar a mínima hipótese quer à concorrência, quer a quem coma um hambúrguer destes. E tem razão. À velocidade que este hambúrguer deve matar, muito em breve nem concorrência irão ter. Se descobrirem algo que mate mais rápido que o amoníaco, diria que é um objetivo a curto prazo o desta empresa.

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