Experimentem atirar um douradinho ao mar. Se não nadar, é porque não é peixe.

O homem chegou à Lua, inventou o telefone, o telemóvel, criou a internet, descobriu como fazer um exame à próstata, mas uma das invenções que ainda mais me fascina são os douradinhos. Onde ficará o mar onde se apanha este peixe? Peixe este que permite extrair dos seus frescos lombos, rectângulos exatamente iguais, que depois são embebidos numa polme, feita a partir dos melhores ingredientes e fritos num óleo tão puro, mas tão puro, que faz parecer a virgem santíssima com a Madonna no videoclip de Like a virgin. Os douradinhos são um fenómeno, que como é óbvio só podia ter nascido na América, nos anos 50. A grande questão é: se é transgénico, adulterado, sintetizado e não veio da América, então veio de onde? É fruto da bonança do pós guerra, em que se sonhava chegar à Lua, se é que chegaram mesmo à lua, e como tal esta espécie de comida do espaço, que se arruma no congelador e se confecciona, em minutos, num pote de óleo a ferver seria digna de estar representada na bandeira nacional que o Neil Armstrong tinha na mão. Digo eu. Já em Portugal, porque estivemos orgulhosamente sós uma porrada de tempo e, graças a Deus neste aspeto, os douradinhos terão sido introduzidos em Portugal nos princípios dos anos 80. Na infância de uma democracia, para a qual não estávamos claramente preparados. E fomos do feito de raiz em casa para a comida processada, com a mesma rapidez que se entra num bar de putas hoje em dia. A minha Mãe, uma clássica mãe daquela década, e como tal uma verdadeira alquimista da aldrabice na cozinha, viu nos Douradinhos e no Capitão Iglo mais do que uma figura paternal. Foi bombeiro, foi o Michael Knight do Knightrider e foi o Mitch das Marés Vivas, conseguisse eu lembrar-me de mais séries em que o David Hasselhoff foi herói. (Sei uma coisa, pelo vídeo que vi daquele ator a cair da bêbado e a comer junk food, acredito que já deve ter recebido uma comenda do Capitão Iglo.) Aquilo era uma novidade, a miudagem gostava e ainda gosta, a minha mãe pensava que me estava a dar peixe e era e é barato. Enfim, um mundo de vantagens que de facto só um totó, ou mães muito aldrabonas poderiam ser lavadas acreditar no falso charme do Capitão Iglo. Ele nem carta de marinheiro deve ter, coitado. A verdade é que os judeus foram de fato perseguidos, o cancro existe e aglomerar restos, que podem ir até oito tipos de peixe diferentes, moídos, congelados, depois envolvidos em polme, pré confeccionados e congelados outra vez é uma realidade. Como já estou com vergonha alheia pela minha querida mãe, esta passa doravante a ser denominada como David Hasselhoff. Ora o que o David Hasselhoff não sabia, nem se deu ao trabalho de investigar, é que o conteúdo nutritivo deste douradinho é quase nulo. Cálcio e ferro, zero. Vitaminas, podia esgotar as letras do alfabeto, até encontrar uma que fosse a alinhar nesta tramóia. Está carregado de sódio, que em excesso é prejudicial à nossa saúde. E agora que acabou a parte boa, vem a má. Dar douradinhos aos nossos filhos deveria ser crime. Comermos douradinhos, também deveria ser um crime, principalmente se viver num país onde a eutanásia não é permitida. Este aglomerado de peixes, que com toda a certeza se passeará no tanque principal do Oceanário sob o nome científico Douradinus representa para a nossa alimentação provavelmente o que o comunismo representava para os Americanos durante a guerra fria, e na verdade o Capitão Iglo, não é Capitão de navio nenhum, mas sim de um movimento subversivo que visa a diminuição drástica da expectativa de vida em Portugal. (O que pode ser considerada como uma medida de austeridade, pois entre o aumento da idade da reforma e o pessoal a quinar mais cedo, menos reformas para pagar). Por mim, desde que não meta douradinhos nos canos das espingardas, em vez de cravos, tudo bem. In http://ilhadamae.wordpress.com/

Comentários

  1. Eu é mais cereias: Passo-me com aquela cena.
    ...
    E os meus putos comem daquilo ás toneladas :(

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  2. Faz-me uma grande impressão como o conceito de comida processada industrialmente tão rapidamente ganhou o seu lugar ao Sol em Portugal. Basicamente é um fenómeno pós 25 de Abril, ao passo que a tradição da mesa é mais que secular. Caso para dizer que os bons hábitos perdem-se muito mais depressa que os maus.
    A luta continua!

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  3. É bom ter-te de volta.

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