Documentário: Uma semana, 20 jantares em três dias no Bistro de L.A.E















O que, diga-se de passagem quase bíblica, é um número muito interessante para o estado em que a restauração se encontra. Pese embora L.A.E ter, quase, forçado 20 vítimas à tortura de ter de frequentar o seu Bistro, aludindo com dinheiro de monopólio e moedas de plástico para os carrinhos de supermercado, a verdade é que se serviram as tais 20 refeições. Completas. Com couvert, amuse, (parto) principal, sobremesa e petit four.

A experiência, caseirinhamente boa, deu ritmo e alma ao conceito Bistro. Comida bem confeccionada, mas extremamente simples. A relação com a Praça de Ponta Delgada está ao rubro. Como boa meretriz gastronómica que L.A.E gostava um dia de ser, a impressão que fica é que já dormi com todas as bancas, tal é o entusiasmo com que se processam as coisas. De ambos os lados. Aí é que está a química.

O facto do Bistro de L.A.E se situar à porta da praça, proporciona um euromilhões de oportunidades. Uma lotaria, onde após se jogar algumas fichas e ganhar o respeito e confiança dos croupier’s sai-se sempre a ganhar. A intensidade da relação de L.A.E com o peixe mudou profundamente. É impressionante o nível e a qualidade de peixe que se consegue encontrar nesta slot machine onde ainda não perdi um cêntimo que seja.

Nesta espécie de documentário sobre o Mercado, gravado em formato digital, através de um teclado, temos passagem obrigatória por mais alguns poisos e tenho a certeza que me vou esquecer de alguém importante. Peço desculpa, eram 30 segundos para agradecer todos aqueles que ajudaram a produzir este filme e o senhor das batatas não foi referenciado.

Adiante, que não podemos fazer esperar o Rei. Se o queijo de São Jorge é uma instituição nos Açores, O Rei dos Queijos é uma das principais figuras da corte. E o que mais impressiona é que um Rei podia ser pedante, distante e mesmo desleixado, tal é a fama daquela instituição. Mas não. O processo é tão maquinal, que mesmo antes de reparar que sou cliente habitual e que não provo o queijo, já tenho na ponta da faca um pouco de queijo para degustar. O processo é simples: nesta corte há bom pão e bom queijo. Salientado que as melhores Mãos de Fada da Salga, em PDL estão lá. Por motivos de descentralização, considera-se que na Salga são ainda melhores. Vendem manteiga na padaria. E neste preciso momento entra a Cheerleader que há em L.A.E e diz: need I to say moore? (com a mão na anca)

Sendo este blog um perpétuo anti clímax, é claro que é preciso dizer mais qualquer coisinha. (Perguntamo-nos todos: E porque é que isto não podia ficar por aqui? Até acabava em Inglês o que tinha potencial nos mercados anglo saxónicos.)

A verdade é que há uma loja, lá para trás, que vende manteiga do Pico. E o sorriso é inevitável: chama-se Rainha do Pico. Nesta decadente corte de gordura animal, só faltava a figura principal do tabuleiro do colesterol: A Manteiga.

E esta é uma Rainha com voto popular, onde por apenas uma taxa de um euro e cinquenta cêntimos podemos levar para casa quase meio quilo de, uma gordurosa, manteiga. E o que se pode querer mais de uma boa manteiga? Gordura.

Comemos montes de porcarias com gorduras transformadas, com menos colesterol, que fazem bem ao coração intelectual, e que aguentam seis meses no frigorífico.

Ao contrário dos seus sósias, a Rainha é a manteiga do tempo dos nossos avôs, um produto fresco, com uma validade curta, quase como uma maionese feita em casa.

Após tudo o que já foi dito, neste autêntico circo de pulgas, é complicado ter ponta de credibilidade que seja, mas nunca provei melhor pão com manteiga na minha vida.

Outro produto que usa coroa nesta corte gastronómica é o ananás. Comprar um jovem príncipe por menos de um euro é uma dádiva. Um exótico fruto que, após quase dois anos de produção biológica, podia estar a ser vendido no Harrods, em Londres, por 20 libras o quilo. L.A.E crê que isto diz tudo sobre o tesouro que se encerra naquelas pinhas largas, sinal de bom fruto.

A filosofia comercial de certos produtos dos Açores devia estar mais centrada em estar em museus da gastronomia, ao invés de se resignar ao facto de não ter capacidade de produção para se impor comercialmente.

Mesmo um mentecapto como L.A.E consegue perceber que temos produtos de uma qualidade extraordinária e até tiro proveito pessoal disso, comprando lebre pelo preço de gato. L.A.E é um egoísta. Viva ao Abacaxi.

E esta é apenas a primeira parte de um documentário digitalmente teclado. Não percam a segunda parte, onde o Indiana Jones descobre o Chouriço Perdido e chama os bombeiros para uma cena final épica, com direito às mãos de fada do Harry Potter e as meloas de Santa Maria. (A coisa das meloas esteve tão perto de derrapar para o brejeiro, como uma fina fatia de fiambre fumado de um talho da praça)



Comentários

  1. Brilhante! com o de costume....
    ....

    .....

    Na "mise em place" o copo maior já não é o de água ;)

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  2. Caro Luis,

    ando afastado deste mundo cibernético por uma boa causa...
    fui transferido para o alto de uma serra chamada Carajás ,ainda na amazonia ... de onde sai a maior parte do ferro consumido no mundo a dar de comer a miles and miles de mineiros ...
    cada um tem o destino que merece ...
    portanto as lágrimas me vieram aos olhos com a abertura do seu bistrô ...
    sonhos foram feitos para serem realizados custe o que custar e ao que parece caro Luis o seu já deu o pontapé inicial ...
    Já está marcada a reserva ...para quando ainda não sei mas como coisa boa dura muito tempo não estou preocupado com este pequeno detalhe ...
    As prendas por um mistério da natureza foram e voltaram ...dia 01 volto à civilização propriamente dita e então seguirão de novo ,rumo a San Miiguel...
    agora falar do queijo de São Jorge, da manteiga do pico, do chouriço e do abacaxi revela uma faceta sua meio sado masoquista para nós leitores distantes ...kkk

    abraço forte

    Pedro Botelho

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  3. Obrigado Paulo e Pedro.
    Quanto a convenções, sou um pouco como o corno. Sou sempre o último a saber. Deviam enviar um mail, ou coisa do género. (Convencionou-se isto, ou aquilo). Enfim.
    Quanto a cozinhar para mineiros, como aconteceu isso? Vou vontade? Ou foi imposto? E está a ser uma experiência interessante?
    Abraços,

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  4. Aplaudo a façanha e digo mesmo que sinto uma inspiração para fazer o mesmo. Falta-me a força económica, mas a ideia é a mesma. Quem sabe se o meu futuro não reserva uma passagem por tal delicioso Bistrô.

    Dou os parabéns assim.

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