Uma ida ao Restaurante Anfiteatro
























Há coisas inacreditáveis. A história que estou prestes a contar está muito longe disso. É bem real, e por isso custa mais digerir. L.A.E, para além de ter uma digestão difícil, é um grande chato e também está sempre disposto a experimentar. Hoje foi um destes dias.
Neste, para sempre maldito, dia 5 de 2010 fui jantar ao Restaurante da Escola de Hotelaria/Restaurante Anfiteatro, agora sita por cima do pavilhão do mar, numa excelente sala, diga-se. E amaldiçoado seja L.A.E do que for dito daqui para a frente.
Convenhamos que o problema não é a sala. É a cabeça deslocada dos ombros, que é uma espécie de alegoria à descida de São Pedro, até nos afundarmos nas Portas do Mar. (Faz tanto sentido o duplo sentido, que nem dá gozo entrar por aí).
O desastre foi completo de ponta a ponta, sem pontos de açúcar a realçar. Isto, do ponto de vista gastronómico. Já do ponto de vista de todo o ritual, foi mau, isto sendo politicamente correcto. Pois na realidade, foi mau como o caraças. A verdade capa da Playboy e crua é esta:
A ementa é curta. Um ponto a favor. As ideias são curtas, voltamos ao zero. O serviço? Projecto de. Menos um. Se não estivesse em sistema binário (1 e 0), a cozinha seria um -2. Se há coisa que com L.A.E não é compatível é com uma temperatura experimental abaixo do -2. Foi pedir a conta e recibo. Mesmo que não coma, sempre é uma despesa do ponto de vista fiscal.
Sabendo que até este ponto só chegam os resistentes, aqui vem o doce. Um bonito nu, repleto de sensualidade: - Quando perguntei que espécie de cogumelo compunha a salada, o empregado não sabia.
Desculpa nº1: São cogumelos. Nº2: São frescos. Nº3: O Chef não está cá. Nº4: Vou perguntar. Nº5. Não sabem, mas de certeza que o senhor também não conhece todas as espécies de cenouras.
Não é justo. Num espaço de 3 minutos L.A.E recebe uma radiografia completa do restaurante, sem sequer ter levado uma migalha de pão à boca, ou uma gota de vinho. Se fosse honesto comigo, tinha-me levantado na hora, e ia jantar a uma boa tasca. Mas não, eu sou o meu primeiro infiel. Fiquei para assistir à agonizante tortura que me foi imposta.
Qual o corte do Novilho?
A esta altura, o empregado já tinha desistido. Eu era Lúcifer. Pouco mais lhe valia que a bíblia e rezas em latim e alhos ao pescoço.
Mas o mais giro, num L.A.E em espírito masoquista, foi o prato principal, que sublinhe-se, (a sangue) a nível conceptual não era nada de especial, mas parecia bem executado. Era um lombinho de porco escalado, com recheio de enchidos. Criatividade zero, mas a coisa parecia bem confeccionada. Cheirava e tudo.
À primeira garfada, mesmo sem olhar, percebi que a carne estava mal passada. Olhei e confirmei. Foi neste momento que o empregado deve ter dito para si: Agora, foste longe de mais (foi o mesmo que pensei do lombo de porco mal passado). E gerou-se aquele ambiente para o qual L.A.E já não tem muita paciência. Ora se não, vejamos:
Desculpa nº343: O lombo fica com esta cor por causa do chouriço. Desculpa nº344: De facto, o Sr.(L.A.E) tem razão. Estava mal passado, o senhor quer pedir outra coisa?
- Sim. A conta. E o mais depressa possível.
A culpa é do mensageiro? Do cozinheiro? Do Chef ausente? Do Presidente da Escola?
Sim. É de todos um pouco. L.A.E tem criticado o facto de sermos poucos. Eu estive na única mesa que serviram naquele restaurante. Na primeira Terça do ano, eu dispus-me, aventurei-me. A lição e recompensa que dou a mim a próprio, é nunca mais lá voltar.
Mas o crime não compensa. De que me vale o prazer de jamais lá voltar, comparado com o facto de “aquilo” ser a única escola que temos?
Sem querer entrar em grandes profundidades de tristeza, numa escola, quando se fala de cogumelos, fala-se de tudo. Depois, podemos ter ou não ter todas as espécies ao nosso alcance. Mas uma escola é aprendizagem. Conhecimento.
Como é que não se sabe que corte de novilho se está a servir? Cozinha e serviço. Estão ambos a aprender. Inaceitável.
Culpa do aluno, que não tem suficiente sede de conhecimento. Culpa do professor, que não a habilidade para passar o seu, suposto, conhecimento. Culpa dos recursos humanos que escolheram o Chef. E Culpa do “reitor” que vai assistindo a tudo de camarote.
É muito triste sentir que, aparentemente, não há saída por lado nenhum. É um cheque mate operacional. A restauração é má. A massa critica também. E lufada de ar fresco, para além do vento que se tem feito sentir, nada.
Uma coisa é certa, bem lá no fundo da panela, L.A.E, está contente. Primeiro porque este não é o meu ganha pão e no fundo é para o lado que eu como melhor. Em segundo, porque todo este cenário obriga a cozinhar constantemente. E tal como correr a maratona, cada vez mais gosto da minha reserva em não comer porcaria. A vida é curta demais.

I'm thin because if I don't like it, I don't swallow