Ponsi



















Começo por abrir o jogo. Luis Anton Ego é amigo dos donos do estabelecimento. E não raras as vezes pode ser visto por lá, em fartas mesas, onde se come, quase sempre, um pouco de tudo. Louvado seja o Gourmand que há em L.A.E! Como os donos são pessoas com nível, quando lhes contei que ia fazer este post, nem tentarem fazer uma coisa tão típica do sul de Itália, como as suas pizzas: Sabes...os blogs incendeiam-se, e quem os escreve, às vezes, sofre de combustão instantânea. Devem ter concluído, que ou me cortavam as mãozinhas, ou esperavam para ver no que isto dava. O meu respeito pela audácia.
Ora bem, é Sexta-Feira, mais coisa, menos coisa: 19 horas, o telefone toca, e do outro lado uma voz diz-me: embora aí jantar fora?
O Ponsi, está definitivamente no meu top of mind. Um restaurante pequeno, com muito bom ambiente, só pelo pelo que eles não meteram lá dentro.
Luzes florescentes, travessas de inox e toalhas de papel ficaram de fora. Dito assim parece fácil, mas basta entrar em 90% dos nossos restaurantes para perceber que há algo de misterioso e oculto neste monumento de luz florescente reflectida em travessas de inox.
Este é o primeiro ponto de análise positivo. O primeiro negativo é que temos de penar até entrar no restaurante. Instalado num dos primeiros subúrbios da cidade de Ponta Delgada, ali na D.João III, a área é horrível. Verdadeiramente desinspiradora.
Não nos deixando levar por apreciações estéticas ou arquitectónicas, o raio está escondido. E por isso, são muitas pessoas que pura e simplesmente não sabem que o Ponsi existe. Provavelmente, as mesmas que não sabem que a América acabou de eleger o primeiro presidente negro e que vivemos numa democracia, mais coisa, menos coisa desde que o Salazar caiu da cadeira. Sim é verdade. Caiu. E foi mesmo de uma cadeira. Quanto ao betão da questão estamos falados. Bom gosto no espaço, azar do carcaças na localização.
Posto isto, e já sentados à mesa, apercebemo-nos que a ementa é extremamente simples. Como qualquer restaurante de bairro italiano. Boas pizzas e boas massas.
O problema desta simples equação, aliás, deste sector de actividade, é que a maioria dos seus clientes não sabe o que é uma pizza e muito menos sabe o que é uma massa confeccionada de modo simples, artesanal e com sabores puros e frescos. Estamos habituados à Pizza Americana, massa alta, ou mesmo Pan Pizza, com muito queijo e muitos ingredientes. Daquele tipo de pizzas que se fossem ingeridas por L.A.E, daria para erguer uma muralha da china em mini hambúrgueres, em 3 dias e sem ter que parar para comer ou dormir. E das massas servidas em pseudo italianos, ou simplesmente massas servidas num boteco qualquer é queijo, queijo e natas. (um dia vamos falar de cogumelos de lata). E bolas, nem é um bom queijo. É gordura pura. Aposto que ninguém sai de lá com fome. Garantido. Mas para quem já comeu, para quem teve a audácia de viajar, e porque viajar não chega, quem teve a audácia de viajar e experimentar sabe o que é uma pizza. Sabe o que é uma massa fresca com uma pedra de sal, pimenta, azeite e alho. Seja por ler, ver, ouvir ou experimentar. E é isso que o Ponsi nos dá. Por exemplo, a minha pizza preferida é a Marinara. Vejam a enormidade de ingredientes que leva: Massa de pizza, molho de tomate e azeite de alho. Não se consegue ir ao mais essencial e simples de uma maneira tão deliciosa.
E para não se pensar que até posso ter sido subornado, venham mais más notícias (como se o facto de 90% das pessoas não saberem o que é uma pizza não fosse suficiente), o serviço, ohhhh meu deus o serviço. A sala é tão pequena, que é quase impossível acreditar no descontrole que se verifica. Apesar de perceber do assunto, já reflecti muito sobre isso e tenho a mesma dificuldade em apontar o problema, como a solução. Uma vez, estive numa sala mais ou menos do mesmo tamanho, que tinha cerca de 5 empregados, quase um por mesa. Apesar do aparato e da despesa ao fim do mês o serviço foi brilhante, sem ser pedante, intrusivo ou subserviente. Mas ao mesmo tempo pensei: dois Cristianos Ronaldos, do assunto, não resolviam? Sem dúvida! Até um. Porque o problema, para estes pseudo cosmopolitas (como eu), não se prende essencialmente com a espera, mas sim com os equívocos. Digamos, com a palhaçada. E é num instante que o circo se monta. Seja pelo cair do trapézio, ou por tentar se explicar porque se caiu do trapézio.
Este é um problema geral, que creio afectar o Ponsi como efeito coleteral. Concordem ou não comigo, a nossa formação nesta área cheira demais à final do Euro 2004. Um desastre completo.
Mas adiante, que o portador das más notícias ainda tem mais a dizer antes de lhe envenenarem o habitual take away a meio da semana. (A pizza aquecida num bom forno a 250 graus, durante 2/3 minutos é quase tão boa como ao vivo. Então se lhe colocarem umas gotas de vinagre balsâmico (na pizza marinara), as portas do céu abrem-se como as de um centro comercial. Os meus agradecimentos a um pizzaiolo que conheci em Roma e me ensinou o truque.)
Para fechar, não creio que seja o serviço o maior problema, mas é um. Outro problema somos nós, e nossa fraca capacidade de absorver coisas novas, comigo na linha da frente para levar as primeiras balas. Quantas vezes já referenciei a Marinara? Estou disposto a experimentar outras pizzas?
Suponho que se eu me juntasse a uma massa crítica (que não existe) o Ponsi era aquele restaurante de bairro que adoramos ir para comer. Não para descobrir ou experimentar. O problema é que essa massa critica não existe e a malta de encher o pandulho vai à Paparoca. Pronto e acabou-se
Sei por exemplo que se testou a entrada de Gnocchi na ementa e simplesmente não teve qualquer aceitação. Portanto, diria que o Ponsi é aquilo que nós merecemos. E eu dou-me por satisfeito. Porque sei que vai fazer muita falta, no dia que não cá estiver. E espero que seja nunca.

A ementa preferida de Luis Anton Ego:
Carpaccio
Pizza Marinara
Papperdelle de Gambas com Limão
Pannacota com molho de canela e laranja.

E em reverência ao Papa, diria que um tinto ou um branco da Sicília, como o Corvo (que o Ponsi tem) rematava muito bem a coisa. Mas aqui, bico calado. Do fumo branco virá a resposta.










Quase numa segunda parte:










P.S - Este foi o post mais complicado de escrever até agora. Explico. Escrevo de Lisboa e não de Ponta Delgada. Problema? Não. Problema sim, porque acabo de jantar no restaurante Alma do Chef Henrique Sá Pessoa. E só posso dizer que foi muito, muito, muito bom. Tive oportunidade de trocar umas breves palavras com ele e como é óbvio será motivo de um post, bem como toda a viagem gastronómica. Eis o calendário ainda em aberto:

28/11 – Restaurante Alma (1ª Visita. Já está no papo.)
29/11 – Tavares Rico (2ª Visita)
30/11 – Tasca da Esquina (Novo restaurante do Chef Vitor Sobral)
1/12 – Peço desculpa, mas tem que ser: Gambrinus (O meu clássico dos clássicos. A casa de mamã e papá)
2/12 – Interrupção dos trabalhos. Motivo: Concerto de Franz Ferdinand
3/12 – Restaurante Alma (2ª Visita)
4/12 – Restaurante Panorama Sheraton Lisboa (2ª visita, já depois do Chef Henrique Sá pessoa ter por lá passado)
5/12 – Restaurante Pragma (No Casino. Preciso dizer mais alguma coisa?)

Orçamento previsto: 3º prémio do euromilhões. Mas L.A.E sabe que não leva nada desta vida, a não ser um último sopro onde se vai lembrar, em fragmentos de segundo, do abrir de garrafas de extraordinário champanhe francês e não menos extraordinárias refeições.
Fiquem atentos, teremos posts sobre todas estas visitas.

Comentários

  1. Caro L.A.E,

    O Senhor anda com umas aprencias de Brillat-Savarin ...diga-se que isto é um elogio , belíssimo por sinal ...
    quanto a sua modesta lista ,a mim ,exilado no calor dos trópicos só me resta ler seus relatos das visitas programadas ...da lista por estas praias ja apareceram os ventos Da tasca da Esquina do Chef Vitor Sobral , elogiadissimo pela Luciana Froes , a temivel critica do jornal O Globo http://oglobo.globo.com/blogs/lucianafroes/

    portanto aqui estou no aguardo de seus relatos
    abraços e uma boa viagem ,
    Pedro Botelho

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  2. Olá Pedro, ter um seguidor, apenas um seguidor como tu seria motivação suficiente para escrever. Obrigado pelo elogio, que é de facto um elogio. Estou para ler The Physiology of Taste há muito tempo, mas por uma razão ou outra vai ficando para trás. Esta referência é mais uma motivação.
    Espero continuar a proporcionar boas leituras e este intercâmbio saudável de informação, truques, dicas e tudo o que tenha a ver com comida.
    Bom trabalho por aí.
    Abraço,
    L.A.E

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  3. Não ha duvida que na simplicidade reina a sabedoria.
    A cozinha italiana é por si, somente uma fantasia do bem comer, poucos ingredientes para um máximo efeito diria mìnimalismo ( mas foi sempre uma limitação de produtos, respeito ás estações, e bom censo )

    Claro que a Mafia não suportava aquela ideia de alguem falar em Pizza que não Italiana.
    Dai que sem um forno com barro refratário ou pedra não ha Pizza os 482 fahrenheit são limitados pelo minério, o que deixa aquela base tostada, a minha predilecta é a caprichosa, foi uma Italiana que me obrigou a degustar, perto de Ascona.

    So depois do " vitello tonato" falaremos de ementa Italiana.
    A massa se for critica ou artesanal eu escolho revioli ricotta e espinafres.
    Vinho Português que se Foda A papa .
    Quando aos Franceses ....
    Ao método Chanpanhês da Murganheira sempre bruto.
    Até o palhaço vai ao Italiano...
    Desta vez no parabrizas uma bela carbonara.
    Ate á vista

    P S Em lx tenta A Primavera no bairro alto.

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  4. Já viste bem o tamanho do Michael? :-)

    S.

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  5. E por falar em Máfia ...
    Não é a toa que uns espertos Italianos colocaram o nome Capricciosa a uma famosa rede de restaurantes de pizzas aqui no Brasil ...e ao que parece abriram uma filial em Lisboa ...
    mas o problema é que os dignissimos resolveram fazer intercambios de farinhas ...ou seja da Italia vinha uma farinha grano duro , etc,etc,..e daqui Sul America eles enviavam para a Italia outras "farinhas "...

    enfim ...o melhor é não meter a colher nesta panela ...tutti buona gente..

    abraços

    Pedro Botelho

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  6. Olá Luis. ainda bem que gostas da PONSI. como dizes é uma verdadeira pizeria ainda que me pareça que já tenha visto melhores dias.
    a minha preferia é a procuito crudo (em todas as verdadeiras pizerias é sempre esta que provo primeiro se bem que o nome possa variar) e gosto sempre muito. A Açoriana é uma tentativa vã de tentar agradar ao publico da paparoca - mais valias estarem quietos. Mas é como dizes - espero que a PONSI nunca desapareça pois se assim fosse ficávamos com certeza a ser menos "metropole"
    http://maislapas.wordpress.com/2007/12/13/ponsi/

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  7. Quanto ao teu itinerário (que inveja!!!) acho que te vais decepcionar no pragma ( o auroldi já lá não está !) De resto nada a dizer, a não ser... nunca ouviste falar do porto de santa maria????
    (gooooooodddddd!!!!)
    Mais, a ultima coqueluche em Lisboa é o salsa e coentros onde se pode almoçar - lá para as 14:30- uns secretos de porco preto grelhados muito aceitáveis com molho vinagrete muito bem elaborado. O Luca também é muito giro e vale pela irreverencia e ambiente bem disposto, assim como pela carta de vinhos pouco "mainstream"
    há mais... felizmente ainda há coisas boas.

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  8. Agora vendo melhor... o Gambrinus???? a sério?? mas isso não é do século passado?
    Tenho a ideia que (pelo menos nos vinhos) aquilo parou no tempo e o serviço é do tipo.. eu é que sei que voçê não percebe nada disso LOL

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  9. Caro Papa, é com a reverência absoluta e ajoelhado que me penitencio. O Gambrinus é um defeito meu. Todos temos um. Eu tenho muitos. E este é um deles. No entanto, a minha relação com eles, vem de longa data. Por isso, já deixei de ser o gajo que não percebe nada daquilo, para ser o gajo que continua a não perceber nada daquilo, mas aquela tromba....aquela tromba, já veio cá mais vezes. Os preços são exorbitantes, e mesmo sendo ao pé de si um comum mortal, no que a vinhos diz respeito, e concordar com o envelhecimento da garrafeira, nunca comi assim, assim. Nem nunca bebi assim, assim, Nem nunca o serviço foi assim, assim. E o que me fascina é a frescura e exuberância dos ingredientes. Numa carta, que de facto não deve mudar, desde que perdemos a meia final do euro 1984, depois de estar a ganhar à França por dois a zero. Por isso, concordo, não merece a nossa atenção. Mas sou filho da coisa. Pronto, é a minha penitência.

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  10. Cara S. Sim já vi. L.A.E até pode ser um grande homem (manifesta hipérbole), mas garantidamente que não é um homem grande. Desde o dia em que postei que passei a dormir mais sobressaltado.

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  11. Caro Pedro, estaremos a ser monitorizados pela máfia? A partir de agora, compro a farinha que acharem melhor para mim.
    Hoje comprei a Fisiologia do Gosto e não estou a conseguir parar de ler. A minha reverência e total agradecimento pelo incentivo à sua leitura. Se for preciso fazer chegar à amazónia um exemplar, é coisa que se consegue ;-)

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  12. Caro anónimo, concordo consigo em tudo. Só um pormenor em que as nossas opiniões divergem. O Papa, não é figura de estilo. É uma pessoa, é uma instituição. E poucos devem perceber de vinhos como ele. Este é o seu blog: maislapas.wordpress.com/. Mas acredito que esta divergência de opiniões seja uma mera descontextualização, nada mais. Por isso, e parafraseando, que se foda a incompetência, a falta de foco, o mau serviço e má cozinha. Quanto aos nossos métodos "champanhezes", recomendava vivamente o Solar do Boição Extra Bruto. Atenção o Extra bruto. Creio que Arinto. E o nosso amigo Papa, com toda a facilidade nos pode ser vir uns Muros Antigos, espumante, que é uma maravilha. A minha caixa já!

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  13. Para fechar, Papa, vou tentar encaixar na agenda estas dicas. S, vê se vais aparecendo. Pedro, obrigado. E anónimo, venham as pedradas no charco. Bons insights!

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