Quem é que se pode dar ao luxo de ser português? O Ronaldo, óbvio.

Eu de futebol, de prémios e de jogadores não sei grandes coisas. Se dizem que o que o Ronaldo conseguiu é um feito notável, pois que tenho de acreditar que é um feito notável, por mais que me custe acreditar que tal é possível fazer correndo que nem um desalmado atrás de uma bola de futebol. Também pouco me interessa com quem ia, se aquele anão era o seu filho, o que tinha vestido, ou o facto do Messi parecer o ajudante do Pai Natal. 
Para nós, que pagamos a peso de ouro viver em Portugal, foi-nos destituído todo e qualquer orgulho patriótico. Sim, a crise não está só a levar os anéis, ou mesmo só os anéis e as mãos. Como tal, queremos fugir, emigrar, procurar novas oportunidades, países que acolham as nossas famílias e ambições de crescimento. E para isso, estamos até dispostos a falar outra língua. Foi isso que o Cristiano Ronaldo fez quando saiu do Sporting.
A grande diferença entre mim, e talvez muitos dos que cá ainda estão e o Cristiano é que ele ainda se pode dar ao luxo de ser português. Ou seja, já pouco importa se é português ou não. A sua nacionalidade deixou de ser uma barreira ou um entrave a conseguir o que seja. Se eu tivesse todo o sucesso que ele tem também me poderia dar ao luxo de ser português. Mas não posso. Por isso, dou-me ao único luxo que posso dar que é o da vergonha.
No entanto, não deixa de ser um orgulho enorme, gigante, incomensurável, não o prémio, não a fatiota, não a Irina, não aquele jogo contra a Suécia, mas sim o simples facto de o Cristiano Ronaldo ter se dirigido a todos aqueles que o ouviam em directo, e aos outros que andam para trás no tempo na televisão, em Português. Puro, simples e cintilante português de Portugal.
Não foi uma homenagem a Eusébio. Foi uma homenagem a Camões, a Pessoa, a Eça, mas também à senhora que apregoa na praça e ao taxista que chama filha da puta ao peão que se atravessou à sua frente. Foram pouco minutos, mas foi um luxo. Um luxo que há muito eu não me podia dar. O luxo de ser português. 
 

Comentários

  1. Caro Anton ,

    por acaso andas pelo facebook ?
    pois tenho procurado e não o encontro .

    um abraço direto dos trópicos
    Pedro Botelho

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  2. Mais uma pergunta de um ignorante cibernético ...
    como faço para compartilhar teus artigos nestas redes que nos aprisionam ?

    Pedro

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