Um hambúguer que é uma pastilha elástica que é um hambúrguer que é uma pastilha elástica que é um hambúrguer.



Não deixa de ser engraçado a influência que a industria dos snacks tem na alta costura alimentar. Não estou a dizer nada de novo.
É curioso também o ciclo histórico. A nossa avó fazia honeycomb, por exemplo. A minha mãe, desnaturada e condenada a viver depressa perdeu a receita. Mas a Cadbury’s até tem a solução para grande parte de todos os problemas do mundo: o Crunchie. Honeycomb caseiro processado industrialmente. Depois venho eu, que tenho tanta, mas tanta curiosidade em perceber como é feito o honeycomb, que investigo, procuro receitas e tento reproduzir de forma mais original e natural possível. A que conclusão podemos chegar para além da minha mãe ter contribuído directamente para a diminuição da minha esperança de vida? Determinadas maravilhas técnicas da industria dos snacks eram truques dos nossos avós e que Chef’s como o Heston Blumenthal, uma geração mais tarde, tentam recuperar para os seus restaurantes com 1, 2 ou 3 estrelas Michelin. 
Hoje dei por mim a comprar um mini hambúrguer que é uma pastilha elástica. Este Verão, no Ciel Blue, um restaurante com duas estrelas Michelin foi isso que nos aconteceu num amuse de bouche, que foi sem sombra de dúvida o melhor de toda a refeição. Eram três micro sobremesas de entrada. Primeira subversão. Mas depois não eram doces. Uma delas parecia um gelado de cone, mas na verdade uma espécie de tártaro de carne fumada, e um outro parecia uma tarte de limão, mas na verdade era amariscado, uma tarte de caranguejo. É quase como um homem que quer mudar de sexo só pelo prazer de depois voltar a ser homem. Retorcido.

Ludibriar, enganar, induzir sempre foram das actividades preferidas do ser humano. Quanto a isso enganar alguém para quê? 

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