Boas novas vindas da terra do bife com batatas fritas.


E principalmente boas notícias para todos os imbecis que acreditam ter que se submeter a um escrutínio maior do que ser astronauta da NASA para comer uma boa pizza em São Miguel, e que esta boa pizza só existe no lado escuro da lua, que é onde fica a pizzaria Fantasia, nos Mosteiros. O Ponsi, ali para os lados da Dom João III, o sonho de subúrbio construído pelos visionários Marques, teima em não fechar as portas. E é verdade que lhe falta muita coisa. É quase como aquela avózinha que já quase não tem dentes, de tanto que lhe falta e de tão básico, como uma carta de vinhos ou mesmo um multibanco, mas o raio da avózinha ainda tem mão para fazer o massa de pizza como ninguém. Descobri que há um rapaz que lá trabalha, com ar bruto, não fosse da Ribeira Grande, mas que tem a sensibilidade de um poeta para fazer pizzas, subtis, equilibradas, com o molho de tomate a sair no ponto, com poucos ingredientes e poucas confusões. Mas o melhor ponto é mesmo o ponto de queijo. Nas pizzas que como para aí não existe qualquer diferença entre pedir muito queijo, pouco queijo ou queijo nenhum. É montes de queijo, mais quilo, menos quilo. A sensibilidade de que falava é esta do ponto de queijo. Por natureza, não é demais, mas se pedirmos para ser menos é visível, perceptível e degustável que é menos. E só isso isso faz meia pizza.
Integra-se um pouco na categoria de bordel. A bebida é má, o ambiente é mau, a localização é má, quase tudo é mau. É ir lá, fazer o que temos a fazer e fugir o mais depressa possível.



Outro pequeno raio de luz é o Mimo, que agora virou italiano. Imagino a confusão que deve fazer aos imbecis supramencionados o facto de termos em Ponta Delgada um restaurante italiano que não serve nem pizzas, nem massas objectivamente. Porra, então não é italiano! Basicamente é a isto que a falta de conhecimento, para não lhe voltar a chamar de imbecilidade, reduz a gastronomia e até cultura italiana. Mas repare-se que a fé e crença de que Itália são pizzas e massas é tão grande, mas tão grande que provavelmente o casal de italianos que re-abriu o Mimo, de facto não é italiano. São extra terrestres que vieram dominar a terra e decidiram começar pelos Açores. De facto, para servir uma ementa tão tradicionalmente pura, genuína e familiar na terra do bife com batata frita só podem ser extra terrestres. Isso, ou muito estúpidos. Creio que qualquer um dos adjectivos lhes assenta bem. Primeiro porque a comida é estupidamente boa e o espaço da mais fina estampa. Como tal o Mimo irá durar mais uns meses até que a tirania do bife com batata frita lhe feche as portas. E que pena. É aproveitar enquanto dura e principalmente porque ainda não se desmotivaram e cozinham com tanta alma e paixão. Isto só se pode dever ao facto de perceberem muito mal o português. Que sorte.



Para fechar gostaria de dizer que se eu criasse um prémio de empreendedorismo iria chamar-se Catarina Ferreira. E a vencedora da primeira edição seria a Catarina Ferreira. Vá mulher de armas que ressuscitou o Cazzif. Repare-se que não está a fazer nada de novo, fazendo tanto de novo. O espaço está igual, com dois ou três apontamentos muito à Rotas. Inteligente. A ementa, ou as cenas variadas, como lhe chamam, são simples e mais uma vez inteligentes. Uma salada com conservas Santa Catarina. Um prato do dia e uns hambúrgueres que podem ser em bolo lêvedo ou então, num casting muito bem feito, pão de água. Que desconfio ser exatamente o pão de água da Colmeia. Retorcido e inteligente mais uma vez. A Catarina não se levanta às 6 da manhã para fazer pão ou ir apanhar peixe ao mar. Mas não é por isso que deixa de ter um bom pão e uma boa conserva.
O resto o espaço e as pessoas fazem. Simples e descomprometido. Os hambúrgueres são bons, as combinações parecem-me felizes e bem estudadas. O que ainda não está bem estudado são os pontos, entre o mal, médio mal, médio, médio bem há muito, mas muito pouco que os separe.


Médio mal, médio ou médio bem são noticias medianamente boas.

Comentários

  1. Da última vez que fui ao Ponsi comi uma massa que qualquer estudante universitário embriagado poderia fazer e uma pizza com umas ridículas salchichas enlatadas em cima, mas concordo: a massa da pizza e o molho estavam muito bons. Apesar disso, aquilo tudo é de fugir. Os restantes dois não fui.

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