Mission Possible: Heston Blumenthal a fazer figura de parvo.














Eu até tinha algum respeito pelo Heston Blumenthal, quer dizer, creio que continuo a ter. Mas já não é bem mesma coisa. É como numa relação em que alguém meteu a pata no poça em grande. Brigam, zangam-se, estão 6 meses sem se falarem e como vindo do nada tentam reatar a relação. Nunca mais é a mesma coisa. É um vaso partido com mais de mil peças em equilíbrio precário. À mínima coisa, mas à mínima coisa, tudo se estilhaça. Às vezes pode ser uma coisa tão pequenina e silenciosa como daquelas bufas de pantufas.

- És o mesmo porco de sempre. Como fui acreditar em ti? Besta.

Ainda há algum amor, mas já não há amor suficiente para levar com bufas de pantufas. Foi para este nível que desceu a minha tolerância com o Heston depois de ter visto a borregada da série Heston’s Mission Impossible. Como é que um Chef que já teve o melhor restaurante do mundo, que tem 3 estrelas Michelin no Fat Duck e mais uma no Dinner, sendo que este último é considerado o restaurante número 7 do mundo se dá a esta palhaçada?

O propósito é cozinhar em sítios inóspitos e que à partida sofrem da condição de terem que servir comida menos boa. Hospitais, Aviões, Submarinos, etc.
Como princípio até é giro. Ver o que a ciência do Heston pode fazer perante a evidência e a impossibilidade de se confeccionar uma refeição de elevado nível naqueles espaços.

O que me interessou mais foi o episódio do Avião, pois já aqui escrevi várias vezes sobre a péssima comida que o Chackall cozinha para a executiva da SATA, por exemplo. Ou seja, o facto de já ter algum racional desenvolvido sobre isto pode tornar a crítica mais fácil e solta. 

Durante quase uma hora vemos o moço, categoria à qual Heston é despromovido durante a duração do episódio, a tentar acertar com um menu para a classe executiva da British Airways.
Bom, o que dizer quando começamos por ver imagens do moço a desfazer um peixe, que até está mal passado, e a dizer que está seco e que é tudo uma grande merda, é a primeira nota alta.

Depois, um chef com a experiência que este moço tem, ter a ilusão que conseguiria montar uma refeição no ar com produtos frescos é infantil, é menino, é palhaçada, nem televisão é. Como se sujeita ele a isto?

De seguida o tonto, coitadinho, tenta uma refeição cheia de molecularidades e punhetas dessas, tão complexa, mas tão complexa que mesmo só tendo que abrir pacotes no avião, foi uma baralhação tal, que parecia um puzzle que dizia na caixa mil peças, mas vistas em cima da mesa pareciam 5 mil.

Pelo meio vemos os quadros superiores da B.A preocupados com a falta de resultados, a experimentarem as refeições do moço, com a esperança de estarem a criar uma revolução na alimentação da aviação civil.

Depois conformado com as limitações, ou talvez depois de farto de fazer de tonto decide cozinhar uma refeição adaptada ao espaço e utensílios. De novo o caos. E repare-se que a aqui o moço já nem está a cozinhar nada de especial. As diferenças entre o que a Gate Gourmet fazia em terra e as trabalhadas que o tonto andava a fazer no ar eram quase a mesma merda quando degustadas.

Passada quase uma hora desta palhaçada chegamos finalmente ao epílogo. O ar na cabine é mais seco. Como tal Heston fornece uma espécie de água do mar em spray para humidificar as narinas e o palato dos passageiros.

E depois, bom e depois.... estão sentados? Com a Coca-Cola e pipocas no colo? É que vem aí a revolução da alimentação na aviação civil, toda ela propulsionada pelo talento culinário e científico do Heston e a visão estratégica dos quadros superiores da British Airways:

-Shepherd's pie.

Shepherd's pie é um prato tradicional inglês e que tem uma matriz muito semelhante a um empadão de carne.

Pronto, está feita a revolução. Podem recolher às vossas casas. 

Não há um conceito, porra, não há uma puta de uma ideia. O que retiro dali é que a B.A vai passar a servir Shepherd's pie em todos os seus vôos e tudo se resolverá.
Pelo menos, foi essa a única solução que percebi funcionar.


Pode não ter 4 ou 5 estrelas Michelin, nem dois restaurantes na lista dos melhores do mundo, mas imagino o quanto, mas o quanto não terá rido o Chef da Gate Gourmet com toda este palhaçada. 


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