Falsa perna de vaca soa a um prato feito por quem ponha aquelas placas a dizer GTI no Fiat Uno.




O que é uma falsa perna de vaca? Uma vaca com uma prótese? Uma vaca com uma perna de pau? É uma perna de uma senhora que está exposta de tal forma que a tomamos por uma vaca?

Também podia ter chamado a este prato falsa perna de frango, mas aí estava a desvendar muito mais do que queria na realidade. Porque ao vermos ser apresentada uma coxa de frango sob o rótulo de falsa perna de frango, ponho-me logo a pensar na possível falsidade. Parto deste princípio.
Ao passo que quando falo em falsa perna de vaca e nos deparamos com uma coxa de frango aumento, imediata e exponencialmente o nível de intriga. O quê? Parece uma coisa impossível ou injustificável. Quando é que em dias de vida isto vai virar vaca? 

E virou. À primeira dentada descobre-se que o que está dentro da perna de frango não é, nem mais nem menos, que carne de vaca picada com um pouco de chouriço de porco preto.

Toda esta ideia começou no conceito de que a pele de frango estaladiça funciona um pouco como o bacon: é crocante, tem muita gordura e sabe bem todos os dias, várias vezes ao dia. Daí para a ideia de enrolar um pedaço de carne em bacon, para ganhar sabor e para que a carne mantenha a sua humidade foi um passo pequeno.
Quase tão pequeno como ter a santa paciência de tirar a pele a uma galinha como quem despe um baby grow a um bebé, para depois a usar como receptáculo da carne de vaca. E não se fica por aqui, este prato que se faz em coisa de 5 minutos, mais hora, menos hora, pois ainda temos que limpar coxinhas de frango até ficarmos só com o osso. 
É também necessária muita pouca paciência e engenho por forma a cortar 6 bolsas perfeitas de pele de frango onde entra a carne de vaca temperada e sobre a qual espetamos o osso. De seguida, esticamos a pele a amarramos à volta do osso, reconstruindo assim a coxa de frango que tínhamos destruído.
E agora vem a parte mais complicada e que mais nos roubou tempo, paciência e energia: - Aquecer um pote com óleo a 160 graus e fritar as falsas coxas de vaca.
Eu avisei. Este último passo é muito complexo. Só estará ao alcance de um chef que já tenha feito muitos douradinhos e batatas fritas. 
Acompanha com duas saladas numa. Rabanetes com azeite de trufa que servem de cama para receber 4 tipos de feijão frescos (Verde, Amarelo, Vermelho e Raiado) temperados com uma redução de soja e caldo de frango. Acima desta salada temos pó de sorvete de tomate com picante.
Diferentes texturas e temperaturas ajudaram a construir um prato bem consistente para além da ilusão inicial.


Ainda pensei em panar a coxa com um pouco de farinha, ovo e pão ralado. Mas aí pensei, não compliques mais. Isto do panar é uma tarefa que requer muita coordenação motora e psicológica. Quem é que pensas que és? O Michel?

Comentários