A boca da minha mãe parece um saco do lixo, já a minha parece um cofre num banco suíço.

- Já vi que estão de dieta.

Chutou a minha mãe, que deve andar a pesar entre os 40 e os 50 quilos. De cada perna.

É como tal, uma voz que merece todo o crédito no que a dietas diz respeito.

Mãe, a palavra dieta já não se usa. Está fora de moda e de tempo.

Nós agora chamamos a isto uma alimentação saudável e não fazemos um esforço para comer desta forma. Gostamos e muito.

Gostamos de saber que estamos a comer um tomate acabado de comprar na Praça e um queijo fresco de Santo António, em folha de conteira. Abençoada seja a criatura que conseguiu esterilizar a folha de conteira. Foi como dizer à ASAE, que está a matar por asfixia lenta a cultura gastronómica deste país, chupa aqui na folha de conteira, a ver se eu deixo. Muito bom.

Depois é ir ali ao quintal e arrancar umas folhas de majericão, que são esmagadas no almofariz, com um pouco de azeite extra virgem, Vila do Bispado.

Um pouco de flor de sal e pimenta acabada de moer.

Estou-me perfeitamente a borrifar quantas calorias tem ou deixa de ter. Sei que são poucas, mas como não estou de dieta não me preocupo.

Normalmente ficamos bem com um almoço leve e não nos custa. Primeiro porque já estamos muito habituados a não comer muito mais do que precisamos. E em segundo lugar porque os nossos patrões ficam todos satisfeitos com os nossos níveis de produtividade da parte da tarde. Já a malta que come o bife à Alcides com meio copo de vinho ou uma cerveja também se farta de produzir. Então gases, nossa senhora. 

Para a minha mãe dieta é uma coisa chata e aborrecida. Tem que comer salada, imagine-se. E sem poder por lá dentro mão de vaca, ou dobrada.

O peixe, a batata e a cenoura são cozidas, mas para lhe dar uma graça, uma colher de maionese light não faz mal algum. É light.

A morcela é proibida, a não ser que seja grelhada. Grelhada até é saudável.

A dieta é uma questão geracional e vai morrer com a geração que a criou.

Para a minha mãe é um esforço enorme, gigante, homérico fazer uma dieta, porque aqueles não são os seus princípios alimentares. Então vive num ciclo engorda - hospital - dieta.

Ela não vai mudar.

Por outro lado, nós não fazemos dieta. Temos uma alimentação regrada, saudável, à base de produtos frescos e sem exageros. Não temos doenças, não temos peso a mais, não temos colesterol e muito menos arfamos ao segundo degrau de uma escada. Não somos glutões, nem gananciosos.

E que não se pense que temos pouco prazer quando preparamos e comemos de forma saudável. Talvez mais do que um glutão, que sorve comida como se não houvesse amanhã, nós apreciamos o sabor das coisas. 

Gostar de comida, não é comer mais.

É comer menos.

Para teu sempre,

Luís  

P.S - Salada Caprese com ingredientes regionais. Sumo de Melancia fresca. Gaspacho da Quinta dos Sabores do Paulo Decq.