Quando um Chef é convidado para o 10 Fest deve perceber que não o estão a convidar para o dia das profissões da 4ª Classe.


O sétimo jantar do 10 Fest ficou curto, muito curto.
Tento, tento, tento, mas não consigo por ou ver as coisas de outra forma. Lá está, posso não estar a ver bem as coisas. Uso óculos desde de muito novo, como tal não confio muito na visão. Confio mais no que sinto e isto foi o que senti.
Chegar ao Anfiteatro às 19h45 para um jantar que começa pouco depois e ver o Chef calmamente no bar, como nada estivesse para acontecer lançou a nota. Mas estava de tal forma entretido com a companhia, que nem se materializou em desconfiança. Foi um registo. Nada mais. 
Ao ouvir o Chef falar ficou outro registo.
Dois dias depois sei no que se transformaram aqueles registos: “Não me estou assim para chatear muito. Mais coisa, menos coisa é isto que faço”. De todos os outros Chef’s, com particular incidência no jantar da escola, nota-se uma preocupação gigante no desenvolvimento de conceito, na utilização de produtos regionais, no elevar do jogo e do nível. Como diz o Chef Emeril Lagasse: “Kick it up a notch”. Não conheço o André, mas sei que se ele quisesse “Kick it up a notch” tinha “Kick it up a notch”. Não sei se foi questão de não querer, ou se simplesmente não estava para ali virado.
Ora, Chef André, bem vindo ao clube de quem não está para aí virado.
Eu também não estou nada para aí virado em pagar um bom punhado de euros para ir todo entusiasmo ao 10 Fest e apanhar com filetes de veja e batatas fritas. Muito menos estou virado para ir comer a primeira barriga de atum desinteressante da minha vida. E só muito dificilmente estaria virado para comer um hambúrguer no pão num jantar do 10 Fest.
Agora talvez tenha sido rigoroso demais. Até poderia estar virado para comer um hambúrguer no 10 Fest, mas um hambúguer que desafiasse. Garantidamente que não estava virado para ir comer mais um hambúrguer.
O chef não esteve virado para sair da sua zona de conforto e como tal também nunca me fez sair da minha. Foi um jantar confortável. Dos muitos e bons que tenho no Bistro da Escola, por 12,5 euros.
Daí não estar eu virado para chef’s que não acrescentam nada ao meu querido 10 Fest.
O 10 Fest não é só enfardar 80 alminhas com comida. O 10 Fest propõe comer, falar sobre comida, explorar, descobrir, criar. Propõe, dar um passo à frente, e não dois atrás.
Propõe pensar na gastronomia açoriana. O passado, o presente, o futuro. Todos os jantares a que fui, com mais falha, menos falha, ponto alto ou ponto baixo tiveram o condão de me fazer falar e pensar e partilhar momentos gastronómicos com os meus amigos comensais.
Neste jantar, falamos do país, do Cardozo que quis bater no Jesus, mas que Jesus devia perdoar, cortamos na casaca do políticos. Enfim, tudo o que se fala um jantar quando não temos comida para falar de.
En passant, porque não estou muito virado para comentar jantares de chef’s que não saiam da sua zona de conforto. O picadinho de chicharro com as algas do chinês tiradas do pacote e atiradas para a ardósia, era uma amálgama de elementos, na qual nada sobressaía. Nem o peixe.
A Veja presta-se bem aos filetes. Qual é a novidade?
A barriga de atum flat. Em alguns países, creio que se não é crime, está para breve passar a ser. O Raviolo da ananás tinha uma ideia por trás, mas a nota dominante doce dificultou-me a vida. Vinho bem emparelhado, quanto mais não seja por lavar a boca doce. O Hambúrguer vagamente interessante por ter dois tipos de carne, uma delas de cozedura longa. Da sobremesa o que me lembro era queijo. Mais um caso em que o espumante servia para lavar boca.
Agora, se o Chef André me conseguir perdoar depois de tudo o que escrevi, será que me pode ensinar a fazer aquele lagarto fumado?

Estava extraordinário.






















Fotos EFTH

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