Sushi nos Açores, ou não Sushi nos Açores, eis a questão.


No outro dia ao analisar, muito superficialmente, as visitas do blog apercebi-me este post sobre o sushi dos Açores, de 20 de Dezembro de 2009 continua a ter um número de visitas fora do normal. Isto acontece porque o blog é o terceiro resultado orgânico do Google quando se pesquisa Sushi nos Açores.
Ora, mesmo numa região onde, maneira geral, a restauração é um ato falhado, muitas coisas mudam em 4 anos. A tendência não deixa de ser irónica e inversamente proporcional a qualquer lógica que pudéssemos tentar empregar: vão fechando os melhorzinhos para darem lugar a ainda piores. Neste período fechou a Lota, e o Colégio 27, que eram os melhorzinhos, se não os melhores e que deram lugar ao ressurgimento de um muito mau, o São Pedro, só para dar um exemplo. No entanto, no caso do Sushi, felizmente assistimos a uma curva inversa, fechou a Casa Velha, que convenhamos apenas chegava para matar o bicho.
Mais recentemente abriram dois locais onde se pode degustar sushi. A Colmeia e o Musaxi.
O da Colmeia veio preencher uma verdadeira lacuna. O sushi é aceitável, é competente e é simples. O fato do arroz sair todos os dias igual é também um ponto a favor da consistência. Eu gosto de simplicidade no sushi. As melhores experiências que já tive na minha vida foram aquelas que respeitaram o sabor e a integridade do peixe. E no sushi é de peixe que estamos a falar. Que se desenganem aqueles que confundem sushi com molho de soja e wasabi. Isso é como ir a um bordel para beber um copo de leite. Provavelmente, é gente que não gosta de peixe, nem jamais gostará, mas como o sushi é moda, lá passam pela má experiência de comerem molho de soja de má qualidade, diluído em água, extra salgado e que, graças ao criador, apaga por completo qualquer registo de sabor a peixe que pudesse existir. Uma coisa é certa, para essas pessoas o Musaxi é a escolha perfeita, pois é muito mais barato que a Colmeia. Para se perceber isto, basta dizer que são chineses que fazem o sushi. Como prometi não falar de restaurantes muito maus, vou falar de lojas do chineses.
Nas lojas dos chineses compramos várias vezes o mesmo artigo porque ele não tem qualidade. Mas como foi barato cria-nos a ilusão de poupança. De que poupança estamos a falar quando temos de comprar várias vezes o mesmo produto? Se fizermos bem as contas aquele artigo que considerávamos mais caro, no fundo é muito mais barato. E melhor.
No Musaxi basicamente é isso que se passa. Criam a ilusão que estamos a comer sushi, mas na verdade o que estamos a fazer é encher a barriga de arroz, soja e wasabi. Como não satisfaz continuamos a voltar na esperança de comer sushi barato.
Ao fim de umas quantas vezes, acabamos por nos aperceber que mais valia gastar um pouco mais, comer um pouco menos, mas comer um verdadeiro sushi sairá muito mais em conta. Porém, não posso deixar de dizer que é excelente negócio para quem pensa que gosta de sushi.
Mesmo assim, é com tristeza que chego à conclusão que vivo na região do mundo que terá melhor peixe e vejo-me na condição de ter de comer Salmão congelado. Desde quando é que o Salmão é obrigatório? É obrigatório só para quem pensa que gosta de sushi, não o é para mais ninguém. Desde de quando é que tenho de ir buscar peixe manteiga à Madeira? Lá está, é como ser dono do melhor bordel do mundo e decidir ir às putas de rua. Porquê? 
Sushi dos Açores não é por ananás nas combinações, embora não seja errado ou idiota. Sushi nos Açores não é mesclar produtos regionais na confeção. (Escrevo estas linhas a tremer de medo que alguém se lembre de por pimenta da terra num rolinho qualquer.)
Sushi nos Açores é ter um profundo conhecimento do nosso mar e o do nosso peixe. Aquele que temos em quantidade e regularidade. E principalmente saber trabalhar os seus cortes para criar texturas e sabores únicos, numa relação muito básica. Mar, faca, mesa. Daqui a 4 anos novo “update” sobre o Sushi nos Açores.

 Post de 2009 aqui.

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