Um brunch não passa de um buffet que colocou silicone nas mamas, pintou o cabelo de loiro e as unhas de vermelho.

Não queria começar o ano com uma revelação bombástica, porque isso são assuntos que deixo para nossa Senhora de Fátima, mas a verdade meus caros é que grande parte dos brunch que tenho visto não passa de uma profana ressurreição do buffet que matamos no final dos anos 80. Apesar de estar presente em muitos restaurantes, é claro que os hotéis foram, a reboque, buscar à arrecadação os rechauds e líquido inflamável e aproveitaram esta moda estúpida, como qualquer outra, para faturar mais uns euros. Estupidez esta que assenta tão bem a uma pessoa como eu que foi largar 35 euros para “brunchar” no Hotel Altis Belém. Com 35 euros pago um menu de degustação no Pedro e o Lobo ou no Alma e tenho uma experiência gastronómica, que pelo menos, me retira do patamar dos otários. Grupo no qual me volto a reinserir quando largo a mesma maçaroca para comer ovos mexidos, re-cozidos a vapor, barriga de porco, que lá está pelo efeito do vapor perde a sua crocância. Mas pera aí, barriga de porco com batatas e grelos? Escapa-me um pouco o conceito de apequeno almoçorar a coisa. A não ser que o objetivo seja a ideia de bacon, que por sinal, nem estaladiço estava também. Bom o croissant, agora também andamos a viver a moda dos dois tipos de croissant, o francês e o pão de leite em forma de croissant, que claro jamais será um croissant enquanto for de fato um pão de leite. No Altis, conseguiram criar uma terceira categoria, pois aquela bela merda de croissant que fizerem não se enquadrava em nenhuma das duas categorias anteriormente mencionadas. E depois, temos o sushi. Ya, o sushi. Lado a lado com o caril de peixe, também ele re-cozido. Enfim, o rol é tão grande, que já me bastou arder com 35 euros. Continuar a falar disto é só uma tortura, da qual me quero demitir e já. Vejo o brunch como a fusão entre pequeno almoço e almoço, mas as ideias devem ligar-se. Num fundo é um pequeno almoço, um pouco mais robusto. Mas a robustez não chega a feijoadas, caris ou outros que tais que por lá vi e promove uma ligação conceptual entre as duas refeições, nas quais para mim os ovos são essenciais para criar esta ponte, por exemplo. O que eu vi não tem primor, não há conceito, não há brio e principalmente, não há brunch, há isto sim, um buffet. E é brilhante, deveras genial quando antes não conseguias fazer cobrar 12 euros por um buffet, conseguires cobrar 35 euros porque agora o chamas de brunch. Eheheheheh. Isto não deixa de me maravilhar. Mas não é só Altis. A moda está de tal forma inflamada que em Lisboa é quase impossível comer um buffet, perdão um brunch sem marcação ou sem aparecer muito cedo. Digam lá que não é de mestre? E o curioso é que são quase todos tão maus, ou se preferimos desprovidos de qualquer novidade em relação a um miserável buffet, que é quase impossível destacar um que seja. Mas pronto, e só para dar um exemplo, na Bica do Sapato pagamos menos 10 euros (25) para comer um buffet irrepreensível. Com muito brio, muita dedicação, em que pelo menos os ovos mexidos se assemelham a ovos mexidos, em que os croissants são croissants, em que há mais queijo para além do flamengo, em que há uma mesa de sobremesas digna desse nome. Menos fanfarronice e mais seriedade técnica e adaptação às condições daquilo que é um buffet. Mas será alguma vez um brunch?

Comentários