Se o WD-40 não sabe bem, porque haveria o WD-50 ser melhor?

Na sequência de uma série, infame, de posts sobre a comida americana meti-me num avião e foi ver a coisa com os meus próprios dentes. De maneira geral posso dizer o seguinte: nos bons restaurantes americanos come-se muito bem. A cozinha europeia é tratada com respeito e dignidade e a um nível de brilhantismo que considero melhor que alguns restaurantes europeus. Espero me deter noutros posts sobre o serviço, as famosas gorjetas e a cozinha, enquanto serviço. Hoje queria gastar uma linhas sobre o pior. Pensei da seguinte forma, de fato os americanos são excelentes interpretes do imaginário culinário europeu. Mas e nós? Seremos bons a fazer comida americana? Não. Não a fazemos de todo. E sabem porquê? Correndo o generalizado risco de fazer uma tábula rasa em cima da minha própria ignorância, não a fazemos porque é uma merda. Foi com elevada expectativa que fiz a minha reserva no WD-50, um restaurante com uma estrela Michelin, reconhecido por fazer da cozinha americana uma experiência gastronómica. O Chef Wilye Dufresne, que começou por trabalhar no famosíssimo Jean Georges, acabando por abrir, há nove anos, o WD-50. Para comemorar a efeméride, criou o menu que experimentei. Se fosse a ele, estaria borrado de medo de perder a estrela. Não vou dizer que foi horrível, porque não foi. Não vou dizer que foi péssimo, porque não foi. Mas que teve momentos horríveis e péssimos, lá isso teve. Menu completo aqui. E podia ser pior, se o efeito placebo da conta que paguei não me estivesse a obrigar a recordar todos os pequenos e bons momentos que vivi nessa noite. O Pho Gras foi divertido, embora numa matriz europeia. O lobster roe foi comer e chorar por mais e o caranguejo também. Ambos os pratos revelaram enorme respeito pela delicadeza do marisco, sendo o mar a nota dominante. O Nigiri, o primeiro prato que nos serviram, tinha um arroz falso, creio que feito com mandioca, que não estando mau, me fez pensar sobre qual seria a intenção, o conceito ou o que fosse. E agora tiramos estes 4 pratos, que nem revelam uma matriz muito americana e ficou uma aventura recheada de surpresas menos agradáveis. Reconheço desde já: muito provavelmente não estaria preparado para tanto. Mas olhem, também não estaria agora preparado para ser sodomizado por 15 pretos da Rinchoa e não é isso que faz de mim uma pessoa mais triste ou infeliz. É tudo muito à bruta, com elevadas notas de artificialidade, muito doce, com muito salgado, com muito ácido, com muito acre. Juro que pensei que gostava de acre. Mas Wylie, que mais me fazia lembrar um Humpa Lumpa de dois metros na cozinha, ensinou-me que não passo de um europeuzinho, betinho que pensava que gostava de acre. A negatividade chega a ser mágica. No prato do frango confitado, os elementos quando provados isoladamente sabiam bem. Mas quando provados juntos, e creio que era essa a intenção, combinavam num dos piores pratos que já provei na minha vida. Uma nota acre e desagradável como quem toma um remédio. As Root Beer Ribs, que foram servidas depois, não deixaram que o frango ficasse muito tempo no lugar de pior prato de sempre em restaurantes com estrelas Michelin. Que casinha dos horrores. Era doce, mas ao mesmo tempo gorduroso à brava. Sou português, gordura é comigo, mas nada no acompanhamento promovia um corte ou equilíbrio. Uma desgraça. Escondi-me atrás do Jet Lag, para ir mandado para trás muito mais de metade do que estava servido nos pratos. A pessoa com quem fui chamou-lhe “Dog Food”. Apreciação com a qual uma empertigada menina texana, numa mesa ao lado, parecia concordar. Eu não concordo. Mas eu não tenho um cão. E se tivesse, não lhe dava aquilo. Mas eu é que não estava preparado. Desculpa Wylie.

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