O grande jantar de Luis Baena, ou porque é que eu não jantei em casa no dia do Ljubomir?

Vou começar estas breves linhas da mesma forma que as vou acabar: Obrigado Chef Luís Baena. Para além de me proporcionar uma excelente experiência gastronómica, acaba por sublinhar o que de mal eu vi, e senti, no jantar do Ljubomir. Sei que pareço uma dama ofendida, mas magoei Ljubo, ouviu? Como é óbvio, respirando o Chef Baena toda uma atmosfera de super cavalheirismo, que até parece Channel nº5, sei que o propósito dele foi só um. Conseguir conceptualizar um menu de degustação em torno de produtos regionais. Agora, que enfatiza, e de que maneira, eu ter jantado na noite anterior no franchising Cem Maneiras, Ponta Delgada, lá isso enfatiza. Não querendo entrar de forma exaustiva no menu que nos foi servido, só o fiz no post anterior para provar um ponto de vista, foram dadas a experimentar ideias muito interessantes, das quais ressalvo: - Gaspacho de meloa de Santa Maria com um picadinho de Atum e planta do gelo da Terceira. Excelente combinação. Duas notas. 1. Muito se apregoa sobre a Meloa de Santa Maria, mas não passa de uma espécie de meloa, muito comum extra muros. Até em São Miguel se faz meloa de Santa Maria. Atendendo à tenra idade que a cultura tem por cá, é um produto que mereça verdadeiramente o epíteto que tem? Não sei. Mas que as meloas são boas como um raio, lá isso são. 2. O meu cérebro desenhou uma nota mental neste prato. Melão com presunto. Daí para fumar ligeiramente o atum foi um pequeno passo. Funcionaria melhor? Não sei. Mas confio nas opções tomadas, porque correram muito bem. - O hambúrguer de lula e chicharro, este sim verdadeiramente enraizado na nossa cultura, (o meu Pai foi criado a chicharro de ontem), foi de fato a experiência mágica da noite. Não é que um focado hambúrguer de lula, passava a claro hambúrguer de chicharro quando degustado com o pepino? Fico até com medo da forma simples como se engana o cérebro. Isto sou eu a escrever? Fecho os meus sublinhados com a empada de alcatra e gelado de beterraba. Para mim, este foi o prato mais bem conseguido. Levou-me para uma terra onde há beterraba até revirar os olhos. Mas comer, nem ver. O seu sabor terra, equilibrado, trabalhado em forma de gelado, veio harmonizar os sabores fortes da alcatra e introduzir textura e diferenças de temperatura de veras interessantes. E o que dizer da engenhosa empada de alcatra? Alcatra com R grande a nível de Respeito pelos sabores originais. E depois o lado da sabedoria, da mestria e da cultura. Baena sabe que por cá comemos tradicionalmente com massa sovada. O que é interessante. Porém, dois segundos depois do contacto com o molho ficamos com uma papa. A empada, vai buscar notas da massa sovada, mas sem perder a sua consistência crocante. Para ser sincero, parecia mais uma bolacha de manteiga recheada com alcatra, mas quando as coisas funcionam bem, não se põe em causa, discute-se, conversa-se, trocam-se ideias. Já quando as coisas não correm bem ficam uma sensação de “impreenchimento” que acabamos por nos dar a pensar porque é que me serviram uma sardinha numa pedra de basalto, quando 90% da sardinha que entra nesta ilha é de avião e numa arca congeladora? É só show off, em vez de show in a plate. Esta é a proposta do 10 Fest, falar e discutir sobre a gastronomia açoriana, e com Chef Baena foi cumprido o seu desígnio. Obrigado.

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