O elBulli vai leiloar a sua cave de vinhos com mais de 10000 garrafas. Será o suficiente para afogar a mágoa?

Apesar de gostar tanto de vinho como o próximo, desde que o próximo não seja o Vasco Pulido Valente, para mim esta notícia na sua essência não me diz muito. O leilão será no Sotheby’s, como tal, por a mão numa garrafa, que seja, será uma tarefa tão ingrata como era conseguir um dos 8000 mil lugares por época no elBulli, no meio de milhões de pedidos de reserva. Nem a desculpa de lá nunca ter ido me dará direito à garrafa de aguardente mais rasca daquela cave, para afogar as mágoas. Esta notícia fez-me foi pensar nestes monstros que se criam e que depois ninguém consegue dominar. Seja por um motivo mais líquido, seja por um motivo mais engrossado. Tenho escrito recentemente sobre isso; Loiseau matou-se, Marco Pierre White devolveu estrelas, alguns japoneses recusaram-nas, outros abandonam os seus projetos 3 estrelas para se dedicarem a tarefas menos abrasivas, como fazer televisão e escrever livros. E agora Adrià, que arranjou a airosa saída de criar uma fundação para o desenvolvimento da ciência e técnicas gastronómicas. Qual é a parte que os contagia a construírem um monstro e que depois lhes escapa inevitavelmente ao controle? Há qualquer coisa de Frankenstein aqui. Ou seja, loucura, paixão e descoberta constantes formam uma química fantástica, que os faz chegar a conceitos inimagináveis e que só se torna letal pela exaustão física e psicológica do Chef. Uma espécie de esgotamento gastronómico. Adrià foi inteligente e aprendeu com o passado dos outros. O elBulli estava aberto apenas 6 meses por ano. Mas os seis meses, pseudo sabáticos, já não eram o suficiente para injetar a força (loucura, paixão e descoberta) necessárias para levar ao cabo a tarefa de domar o monstro que criou. Apesar disso, Adrià descreve a abertura da fundação não como matar o Frankenstein, mas exatamente como domar o Frankenstein. Para mim, O elBulli morreu e tudo o que venha agora é algo de novo. Outro monstro? Talvez. Agora, uma coisa é certa o elBulli não foi o princípio de nada, nem é o fim de nada. Apenas um importante marco num caminho. Enquanto existirem Chef’s jovens e talentosos, como o Grant Achatz e muitos outros, dispostos a serem atraídos para o mundo das 3 estrelas Michelin como moscas para a luz violeta, que ultimamente os vai matar, tenho a certeza que vai correr tudo bem. Fotos de comida pelo Chef Grant Achatz.

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