Refeição Nº1 em Paris.













L.A.E chega a Paris, após uma longa noite de Santo António. O sono foi uma espécie de bife mal passado. Barriga para cima, barriga para baixo e toca o despertador. Não sei até se o conceito de sushi não se aplica melhor. A dança começou às sete da manhã e o riverdance só acabou às 16h30 em Montmartre.
Escusado será dizer que L.A.E não come comida de avião, até a comida da executiva é de torcer o nariz. O Chef da SATA é o Chakall. Por aí tudo dito. Só posso agradecer o pessoal de bordo e pilotos não usarem turbante.
O da TAP é o Vitor Sobral, Chef pelo qual L.A.E nutre alguma simpatia, admiração e até inveja. Só não invejo mesmo a comida de bordo da companhia da bandeira. Não é má. Mas sejamos sinceros, também não é boa. Há ingredientes que se podem compadecer com uma confecção prévia, mas maneira geral o que estamos a comer é comida requentada.
Vai daí que completamente cego de fome, e em total desobediência aos rigorosos critérios de escolha de um restaurante, mas em total coerência com a sua incoerência, L.A.E deu duas a três voltas, espreitando o que se comia no prato alheio. Aquele que mais me convenceu mereceu o direito de ser retratado aqui: Le templier. Na Rua de Abbesses em Montmartre
Pedi uma salada à fiorentina. Os mais cultos gastronomicamente vão atirar logo: ovos e espinafres, no mínimo. E atiram muito bem. Tinha também mozarella, beterraba, pepino, alface e algumas batatas salteadas.
A salada estava muito convincente, sem nunca estar extraordinária. Mas o que aborreceu L.A.E foi constatar que nos Açores não se cozinha. Fazem-se umas coisas. E nada há nada que deixe L.A.E mais furioso do que ter razão. L.A.E nasce para palhaço, não nasce para senhor doutor juíz. L.A.E nasce para se divertir, rir, brincar com palavras e comidas. Não nasce para provar um ponto de vista.
Mas provado está. Qualquer macaco por aqui faz uma salada aceitável. Estudei cuidadosamente as ementas dos botecos, mais botecos. As coisas mais rascas. Quase todos têm clássicos como a salada César ou a Waldorf e também têm estas degenerações engraçadas. L.A.E já tinha provado ovos à fiorentina e a adaptação não me parece mal feita.
Basta um bocadinho. Um bocadinho que seja de amor, de carinho, uma pontinha de conceito e algum trabalho para se fazer uma boa salada. Pelos vistos, não temos nenhuma daquelas qualidades. E os Franceses, pais da cozinha moderna, têm para dar e vender.
E repare-se na honestidade, quando ao mesmo tempo digo que não estava nada de especial. Notou-se claramente que cortaram nos ingredientes e claro perderam no sabor.
A mozarella não sabia a nada. A beterraba era daquelas que se compra já cozida, o ovo não estava escalfado na perfeição, os espinafres podiam ter passado menos tempo na frigideira e as batatas estavam na batata. Primeiro porque não eram congeladas (mais um sinal de poupança, mas neste caso, bela poupança).
A salada também saiu com uma rapidez impressionante, nem deu tempo para comprar o Le Monde. Isto numa sala dominada por duas pessoas e um cozinheiro. Estavam cheios. Quando L.A.E chegou estava a sair o empregado com a salada para a colocar na mesa.
Só para se ter um termo de comparação, ontem estive no Deli Deluxe, que pelo menos tem a fama de ser um local com qualidade. A única coisa que vi e já sabia, das muitas vezes que L.A.E já lá foi é que os empregados têm muita pinta. Aquilo esbanja estilo, ténis da moda, óculos da moda, calças da moda. A única coisa que pensei é que não tinha espelhos suficientes para eles conseguirem dar um jeito ao cabelo ou mesmo retocar a maquilhagem.
A sala terá dimensões semelhantes ao do restaurante do almoço de hoje e ambas estavam cheias. No Deli levaram mais tempo a servir um sumo de laranja e um Croissant (andava já em testes), do que a salada de hoje. A grande diferença é que de um lado estavam 3 franceses e do outro uns 6 portugueses muito fashion.
Porém, se fosse o dono daquele negócio não mandava instalar mais espelhos, comprava era um pau para escorraçar aquela gente do meu negócio. L.A.E jamais formaria nódoas negras por usar as próprias mãos. Aquela miudagem que toda sofre claramente do duplo mal dos in’s. Incompetência e insolência.
Por isso, dá no que dá. Uns têm serviço e saladas aceitáveis e outros têm ténis da Onitsuka Tiger.
O primeiro teste foi bom, dentro de um contexto aleatório e esfomeado. Os almoços serão sempre mais light e o jantares merecerão um maior investimento.
Ao fim da tarde L.A.E cruzou a porta de uma boutique de pão. Já sabia o que esperava. Todo ele era ansiedade. Ansiedade boa. Daquelas que dão para comer. Os éclairs eram perfeitos, por coincidência a Bica do Sapato, do qual o Deli Delux faz parte, tinha uns éclairs de café maravilhosos e reparem: a 1 euro. Quando começou a sair muito, mataram o bicho.
Mas o que fez L.A.E subir ao sétimo céu foram os croissants. Perfeitos. L.A.E não tem muito a acrescentar porque se não, e como é tendência, estraga uma coisa bonita. Era perfeitos.
O Jantar de hoje é num restaurante mesmo ao pé de casa. O Mon Uncle, que surpreendentemente consta na lista dos melhores restaurantes franceses de 2010 pelo Guia Gault Milau. L.A.E usa o verbo surpreender porque, claro, já foi por o nariz.
O espaço é pequeno e bem decorado. A chefe de Sala, que parecia ser a dona, não conseguiu articular uma palavra de inglês, nem sequer percebeu o que eu disse: Opening hour? À luz disto tudo L.A.E, que mais parecia Moliére, sacou a informação e foi para casa a pensar: não vão turistas àquele restaurante? Boa.


O melhor amigo de L.A:E:

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