Inverno, Primavera, Verão, Churrasco e Outono. As cinco estações do ano.













L.A.E começa por justificar esta longa ausência com o facto de não tem que dar satisfações a ninguém.
Retomado um certo tom de arrogância, que agora prefere chamar de confiança, não fosse apadrinhado pela lógica de Mourinho. L.A.E e Mourinho dizem o que pensam. O douto Campeão Europeu cumpre, L.A.E não. Mas inibirá um incoerente confiante de ser visto como um arrogante? Nunca.
Esta lógica Fox Trot prova que L.A.E tem a pretensão voltar em grande, mas conseguirá sair da habitual e mediana mediocridade? Ainda por cima com um tema tão básico como o churrasco? É claro que não.
Mas aqui fica o esboço de um churrasco, que pode e deve ser visto como uma técnica com potencial, com muito para dar para além da abençoada, celebrada e reconhecida em cartório, mini e coxa de frango.
Churrasco está no limiar da técnica de fumar os alimentos, conferindo-lhe um sabor único. E a panóplia (palavra em estreia neste blog) de alimentos é completamente transversal. Não sei de um alimento que não se possa fazer no churrasco.
A questão prende-se de forma objectiva com a técnica a utilizar do que propriamente com o ingrediente em si. No fundo, pouco importa se é o José Sócrates ou o Passos Coelho que vai para a grelha. A questão é como pomos qualquer um daqueles tipos a trabalhar para nós.
Não é fácil. O senso comum e a arrogância (leitura que se faz de quem é confiante) dizem-nos que mais facilmente são eles a fazerem-nos trabalhar do que nós a eles. No entanto, L.A.E sabe factualmente que é possível fazer uma Couve Flor no Churrasco. Ou seja, em princípio a Couve Flor faz o que quer de nós, obrigando-nos a abrigar debaixo da convenção do cozido.
Mas nós podemos fazer o que quisermos dela. E se um churrasco é quando um homem quiser, desde que esteja bom tempo, pouco vento e haja vontade para isso, a couve flor será churrascada e ponto final.
A panóplia (Duas vezes na noite de estreia) de alimentos é por isso completa. Repare-se que podia ter usado a palavra leque, tal como podia ter usado a palavra cavaco, atum, espargos, cogumelos, beterraba, endívias só para dar alguns exemplos de malta pouca habituada a ter a cabeça a prémio no que a churrascada diz respeito.
Respeito que não pode faltar. Experimentem a atirar um cavaco vivo para a grelha e preparem-se para uma experiência muito desagradável. Ao nível dos 4 ou 5 golos que o Schweinsteiger (Filho de um talhante de nome) marcou à Selecção Portuguesa. Ao que se sabe os únicos da sua carreira.
Cozam o cavaco, sendo que não me importava de fazer o mesmo ao filho do talhante, durante 6 minutos para 500 gramas de bicho. 1 minuto a mais por cada 100 gramas. Faca na carola, racha ao meio. Não estará confeccionado. Para fazer a cozedura completa são 13 minutos por 500 gramas. Os outros 7 minutos na grelha são divididos em duas voltas. 3 com a casca para cima, carne na grelha. 4 com casca para baixo.
Não há medo. Este método cronometrado é mais seguro do que a subida do IVA. Ao fim destes 13 minutos, o Cavaco está feito. Mas o respeito não começa ou acaba aqui. Comprem marisco vivo. Não comprem congelados. Não comprem transgénicos ou alimentos processados. É preferível comer um bom cavaco por ano, que dois maus. Ou mesmo lagosta congelada, que é horrível.
O respeito também se mostra no molho que se coloca, já durante os 4 minutos finais, com a casca a servir de recipiente. Qualquer molho serve, desde que devidamente confeccionado. L.A.E perde-se particularmente por um holandês feito com azeite em vez de manteiga. Por isso, diria que será um espanhol, italiano, grego ou português. Se contarmos com a enorme falta de credibilidade dos últimos dois, ficamos entre espanhol e italiano. Como já vou ter que gramar com os Espanhóis campeões do mundo e europeu, ofereço esta abébia aos italianos.
Em qualquer bom azeite extra virgem, há sempre uma nota de relva fresca acabada de cortar. Esta característica confere ao molho italiano uma nota de frescura superior ao holandês.
E um atum marinado em azeite, alho, louro, cebolinho, bom vinho branco, limão, e muito, muito chili? Marcado na grelha, cru por dentro, servido com uma salada vestida com molho de soja e lima? Se fosse um programa de TV adorava cortar para um clip do Joe Berardo em que ele diz: Fuck you
É mesmo do fuck you. Uma espécie de churrasco, que cruza com sushi, que cruza com uma sessão de sexo ao vivo no animatógrafo do Rossio, por apenas 4 euros.
Sim, L.A.E tem profundos conhecimentos na praça. Se por um quilo de atum fresquíssimo paga 4 euros, (Sim, Senhor dono do Aya, estás a pagar o triplo pelo teu atum e pensas que estás a fazer um bom negócio), as barrigas de atum que são a melhor parte, vêm de graça. Sais de minerais para a mesa dos donos de restaurantes de sushi em LX.
Não criticamos tanto o facto de estarmos no fim do mundo no que a bons restaurantes diz respeito? Pois agora, é L.A.E a dar outra face. Cá em casa come-se barriga de atum a custo zero, enquanto vários samurais se digladiam em Tóquio, só para conseguir uma que seja e a que preço for.
O nome requintado é Ventresca. Na praça não sabem o que é Ventresca. Sabem o que é barrigas de atum e só estão à vista quando há excedente. Porque quando não há, ninguém as vê. São os pescadores que as comem. Precisa L.A.E de dizer mais alguma coisa?
A barriga pode ser comida crua. L.A.E adora tudo o que é cru. No entanto, sendo, por exemplo, o bacon a barriga do porco, preferimos comê-lo como?
Ninguém devia comer bacon cru. E um concelho sério que aqui se deixa. Isto se não quer ajudar a baixar a média de esperança de vida do pais. Uma barriga de atum confeccionada no ponto certo é quando a gordura intercalada destila, conferindo um sabor e textura extraordinária à peça.
A posição preferida do Kamatum de L.A.E é horizontal e em cima de uma tosta, também feita na grelha e com molho de tomate caseiro por cima. Joe Berardo é quem melhor sabe descrever a degustação de tal coisa.
O churrasco é de facto uma temática vasta e poderá vir a dar azo a uma segunda parte deste post, o que é muito provável que não venha a acontecer.
Agora, uma coisa é certa: deixem a galinha em paz. E se não quiserem deixar, experimentem marinar no dia anterior antes de atirar para a grelha. Logo de seguida podem riscar a palavra seco do dicionário. Por mais asneira que façam, não vão conseguir estragar um frango marinado durante 24 horas.
Se for o Sócrates ao comando do churrasco já não digo nada.


Comentários

  1. Caro L.A,

    confesso que andava com saudades ...
    mas percebo que pelo elevado tom inicial o "nosso missivista" já está em ritmo de copa do mundo ...os animos estão elevados , e cá entre nós isto é muito bom ...
    Por aqui como deve imaginar o Pais literalmente pára e por conta , esquecemos que vivemos abaixo do equador em condições ...bom ..deixa para lá ...e já que o assunto inicial foi o churrasco , não posso deixar de registrar a praga chamada picanha , fatiada, no kilo, esturricada , enfim de todas formas possiveis e imaginárias aqui vive-se a picanha...e convenhamos , excelente para fazer um bom hamburguer (por conta da gordura...)
    gostei do post, pois fomos do churrasco ,passamos pelo Tuna Toro e acabamos em Raw Food ...e ainda tevimos o Mourinho de cortesia ..
    uma verdadeira Disneyland para um gastronomo ...

    abraços

    Pedro Botelho

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  2. Caro Pedro, incluido o caro Bogard, muito obrigado por seguirem este Blog. É um prazer contar com as leituras, comentários e opiniões. Coisa, que nem eu próprio era capaz de fazer por mim.
    Um grande abraço,
    L

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