A cozinha de L.A.E dava um filme?



















Como já devem ter reparado, L.A.E é um pouco como as crianças. Tem um comportamento compulsivo, obsessivo, faz birras e gosta de doces. Principalmente, gosta de uma guloseima, como a que acabou de ingerir, e repetir duas vezes (e cheira-me que a coisa não vai ficar por aqui).
O filme Julie e Julia, ao contrário do Pai Natal, tem-me me tirado o sono nestas últimas 24 horas, porque é uma verdadeira delícia. Quanto ao que a bárbaros diz respeito, e dos quais é-me impossível demarcar (aliás transporto a bandeira) é um filme ligeiro, sobre a história da Julia Child, um ícone da cozinha americana, que aprendeu a a arte do ofício na duríssima e machista escola francesa. História esta, que se cruza com a de uma escritora “wanna be”, que decide criar um blog, no qual relata a aventura de fazer todas as receitas do livro de Child (Mastering the French Cuisine) em 365 dias. São 524 clássicos. Impossível, para quem não sabe escalfar um ovo (99% de nós), quase impossível para quem recorre a take-away's e restaurantes enfarta brutos (99% de nós). E, virtualmente, impossível para quem cozinha praticamente todos os dias, com amor, criatividade e técnica (1% de nós). Repare-se que L.A.E tem muitas dificuldades a escalfar um ovo na perfeição (digo-o sentindo-me quase nú, e ainda por cima, está um frio desgraçado. O que não abona), vou a take away's, e também cozinho quase todos os dias, com muita paixão. Mas o desafio de Julie, não é para mim. Falta a componente criativa, mas é uma excelente escola. Considero o livro de leitura obrigatória. Só depois se deveria ver o filme. A minha mãe sempre me disse que os doces eram apenas para quem comesse a sopa toda.
Julia, também deixa uma mensagem de esperança a todos nós, pois começa a cozinhar bastante tarde na sua vida. Ora, se ela consegue criar uma verdadeira enciclopédia, em cerca de 8 anos de trabalho, o prezado leitor conseguirá com toda a certeza fazer um prato, comme il faut, pelo menos uma vez na vida, qual milagre de Fátima ou de Julia. Tanto faz. Este momento divinal, com a luz a rasgar do céu, está ao alcance de todos, por cerca de 56 euros. Uma pechincha, para tudo o que o livro nos dá em troca. Mas não falemos muito nisso. Os americanos são tão bons a fazer especulação, como a comer mal.
Este filme é bom, para quem vive fora do mundo de L.A.E. E muito bom, para quem vive neste mundo de inesgotável descoberta, chão gorduroso e espaço infestados com cheiro a comida. Meryl Streep é Julia Child desde o primeiro frame. Gostava um dia L.A.E de cozinhar, como Meryl interpreta. O seu trabalho tresanda a Óscar por todo o lado, como um bom fumeiro a chouriços. Já vi actores e actrizes a ganharem a estatueta por menos, ou por fazerem de deficientes, o que convenhamos, é fácil. L.A.E não faz qualquer esforço para parecer o deficiente que na realidade é.
Pena é quando Child nos abandona, deixando-nos reféns da parte actual do filme que é, assim, mais para o fraquito. Temos que aceitar o amargo, vindo de uma coisa tão doce. A parte da Julia, parece escrita por um biografo sério e competente, a parte de Julie parece escrita pelo Paulo Coelho ou pela Susana Tamaro. Quiçá uma parceria? Tudo soa muito a: vai a onde te leva a colher pau. Não há pachorra. Mas como tem “desenhos” com comida e confecção é fácil de digerir.
Quanto a comidas propriamente ditas, é manteiga, manteiga, manteiga. No entanto, não sei se é suficientemente elogioso, para aquilo que a manteiga representa no mundo gastronómico, na cozinha francesa e para L.A.E. Pode ser pessoal, mas eu ponha mais manteiga. Até porque há coisas na vida que nunca estão a mais. E manteiga está no topo da lista. Colesterol que estais no céu, santificado seja o vosso nome.

Comentários

  1. eu sempre fui mais um gajo de Barbara Streisand, mas isto das divas não é uma ciência exacta

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  2. No que a mulherio diz respeito, e ao contrário da cozinha, L.A.E tem um critério muito largo, cabem lá Barbaras, Angelicas Huston e outras que tal.

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