Ir às compras em São Miguel















Como começar um post condenado logo à partida a alguma contradição? Não sei, mas já começou. Por aqui ir às compras é um pouco como ir à caça. Por exemplo, se Luis Anton Ego quiser organizar um jantar de degustação para uns amigos, com ou sem limite orçamental, temos que percorrer todas as capelinhas, sem excepção. É mesmo uma coisa no limiar do religioso. E é aqui que começa a contradição. No fundo, não me importo de percorrer todos os santuários de consumo, perdendo um dia inteiro à procura dos melhores ingredientes. O problema é que a colecta final não inspira a grandes manifestações de euforia, tais como grunhidos e comemorações tribais. (Ver vídeo de segurança El Corte Inglês). A verdade é que somos uma ilha, e a diversidade à mesa não é grande. Mais de contradição: O que temos é excelente, extraordinário. Mas para quem varia entre gourmet e gourmand, como o Santana Lopes muda de opinião, quero e preciso de mais. Não estou a dizer que quero ou possa comprar toda a diversidade que encontro quando visito outros mercados. Mas é a vibração que vemos e sentimos que alimenta a paixão por este mundo. Neste momento, é irresistível não dar mais um twist de contradição: No nosso caso, ou por leituras destes exemplos paralelos, o problema não está nos nossos supermercados, mercados, quintas de amigos, etc. A oferta está adaptada ao mercado, e as coisas funcionam do ponto de vista comercial, por isso não aponto armas à oferta. Também não apontarei à procura. Parece-me bélico demais. Mas em boa conversa de mesa, diria que não somos suficientes. E este é um mal que tenho a certeza se queixarão os mais diversos sectores ligados à cozinha e à mesa. Não acredito que determinados restaurantes tenham mudado a sua filosofia de ementa porque sim. Alteraram porque não aderimos, não incentivamos. Talvez porque não criticamos na altura certa e de forma positiva e construtiva. Se gostamos, temos que nos dar ao trabalho de chatear. De tirar o fato treino. Não acredito que determinados supermercados tenham deixado de vender produtos importados por vontade própria. Se as prateleiras fossem ficando vazias com regularidade, uma coisa é certa, eles não teriam razão para deixar de ter o produto. Não acredito que não encontremos uma maior diversidade de frescos no mercado porque os vendedores o querem. Simplesmente não compensa plantar uma erva, um fungo o que seja, que lhes é estranho, mas que nem com um esforço contra natura, tem a regularidade de venda para ser rentável. Agora, no que acredito é na pop. Eu acredito nas temáticas da moda. E falar de cozinha, restaurantes, comida e receitas está nos tops. É giro dar jantares, ir a restaurantes da moda. Falar de comida, de chefs, de viagens gastronómicas, etc. (A cada passo esta coisa da contradição vai ganhando corpo, qual um bom molho. Blog criado há menos de um mês). Mas é verdade também que as horas, infindáveis, que passei atrás de tachos, de ingredientes, de livros, de documentários, de tudo o que envolve cozinha, dá-me a confiança suficiente para dizer que grande parte está a dar uma surfada na crista da onda. E quando vier a próxima, eles saltam fora. Não é recado para ninguém e isto não é um projecto de Valentim Loureiro. É só para dizer, que na realidade somos poucos. Na realidade, somos poucos a ir ao mercado, somos poucos a comprar produtos esquisitos, somos poucos a saber confeccionar de modo a comprar com regularidade, aquilo que no caixa ninguém sabe o nome. No outro dia, encontrei, num supermercado, um t-bone, coisa que nunca tinha visto num supermercado por cá. Perguntei de imediato o que era. A resposta foi costeleta, sem referência a corte. Com insistência e pergunta a uma colega, lá veio a vazia, mas que infelizmente não tinha sido muito bem cortada. Ora, aquele azar, tinha acabado de gerar um t-bone perfeito, parte vazia, parte lombo, dividido ao meio por um osso em T. Só o T, diz tudo. T de Sublime. Agora, quero servir um t-bone outra vez, para uns amigos, à última da hora? Consigo? Não somos suficientes. Enfim, mas sem desitir até termos direito a uma cabeça de espargo intacta.
* T-Bone: O lado mais curto é o lombo. Por amor de deus, uma oportunidade ao médio mal.




Comentários

  1. Carne:
    Outro tema para servir quente, se tudo correr bem no talho ( na ida pelas capelas o talho mais perto de tua casa é o melhor para comprar carne, depois de levares a carne cozinhada embrulhada, o carniceiro não se dá ao luxo de ver um embrulho no sentido contrario a entrar no talho ).
    Na tua cozinha a bela peça que nem sempre a mais cara é a melhor, como referias do lombo sem grande paladar mas marináda, diferente.
    Temos algo para cozinhar mas como ?
    Boa pergunta, simples, sem ter calor suficiente para queimar o refogado em 90 segundos é melhor fazer estufado.
    A frigideira melhor?
    A marinada , o tempo de marinada e pelo menos uns minutos antes retirar do frio para não constipar a carne.
    O Resto é á la minute.....flor de sal depois de fechada a peça, se tudo isto for respeitado ainda há um perigo.....

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  2. epá... sei de uns truques que posso partilhar. Mas o talho é daquelas coisas que só com aperto de mão secreto ;).
    Curiosamente (ou não) a melhor carne açoriana que encontrei á venda foi num talho de um hiper.
    Continente em Lisboa!!!! pois é. Mas era melhor, muuuuito melhor do que qualquer uma que já tivesse alguma vez visto por cá.
    são sortes :)

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  3. Caro anónimo, sou obcecado por usar o lombo em:
    Carpaccio,
    Tártaro,
    E como muito bem refere marinado. Uma vez deixei um bicho destes marinar mais do que 24 horas. O resultado foi incrível.
    Também ouvi falar em envelhecer a carne durante uma semana, mas para isso precisamos de uma máquina de vácuo.
    Tudo o que fique mais de 150 segundos por lado, fodeu.
    Papa e anónimo, quanto à carne não me surpreende. Primeiro porque 90% da nossa carne são vacas leiteiras. E a nossa IGP tá no limiar do mito. Leiteira ou não, mas preferencialmente Acém Redondo é uma surpresa muito boa. É preciso é saber confeccionar e aí é bem diferente do lombo.

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  4. Podes envelhecer a carne (eu prefiro chamar-lhe secar) em frio dependurada. De preferência a peça toda.... por exemplo pedir no talho a peça de alcatra que lá ficou da semana passada (de propósito ou não:) )

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