Batata frita gourmet é, por direito próprio, um oximoro tão bom como cagalhão bem cheiroso.


Esta é uma história simples. Como tal, o objectivo é escrever este post sem o estragar, mantendo-o austero e focado. 
Até porque a génese desta história, atenta contra alguns dos pontos que tenho criticado. Se é certo que falo relativamente bem de quase todas as matérias primas alimentares dos Açore, é também certo que falo mal de quase todos os produtos transformados. Destes também sei nomear honrosas excepções, como o chá e a ventresca de atum em encabeçarem a rol de indignados.
No outro dia fui ao Hotel Marina Atlântico, a uma espécie de Happy Hour de Chá. Com scones, bolo do dia e algumas sandwich’s. Como desde o encerramento do Hotel Avenida fiquei orfão da minha adorada Club Sandwich, foi no Marina que a reencontrei. Repare-se que sendo dois hotéis do mesmo grupo, sempre pensei que as Club’s seriam iguais. Mas não, a do Avenida sempre foi muito superior à do Marina. 
Curioso foi registar que o encerramento daquela icónica unidade hotelaria fortaleceu, e de que maneira, a Club Sandwich do Marina. Tenho dificuldade em dizer se está igual, melhor ou pior do que a do Avenida. Mas está melhor do que estava, e isso chega.
A acompanhar vinham umas batatas fritas. 
Ora bem, quando trinquei uma, senti-me como o Anton Ego, a voltar atrás no tempo quando, finalmente, prova o ratatouille. Fizeram-me lembrar aquelas batatas que se comiam no Santo Cristo, feitas em casa e vendidas em sacos plástico de pipocas, selados com calor. Mais puro e simples não podia haver.
Como é óbvio não resisti e perguntei se as batatas era feitas no Hotel.
- As batatas são Pérola da Ilha.
- Pérola da Ilha?
- Sim.
Sei que sou burro. Sei que sou um burro que trabalha há muitos anos a criar, gerir e a vender marcas ao consumidor, por isso, sei que sou um burro que devia acreditar menos naquilo que as marcas dizem e acreditar mais no que as marcas fazem. Mas eu, sou burro. Anda, este burro, a comprar batatas fritas de pacote que valem 5 euros, pelas quais espero pacientemente que entrem fora de prazo de validade, para as comprar a 2,5 euros. Mas mesmo assim, muito acima dos preços médios, porque são fritas à mão, em Devon. Sei lá onde é Devon? Para mim, só pode ser o céu da batata frita, e chega. Mesmo assim, eu que sou burro, nunca fico lá muito convencido. Sabem bem? Sabem. Mas não sabem ao que valem, leia-se 2,5 euros, porque a 5 euros não as compro. Nem em sonhos. Burro, mas não tanto. 
Depois é esta verdadeira macacada das batatas gourmet. A Lay’s tem umas que também custam 2,5 euros, mas dentro do prazo de validade. O que têm aquelas batatas gourmet? Crescem num spa, em vez de crescerem na terra? São massajadas em vez de atiradas para um balde de plástico? São bronzeadas individualmente, em vez serem fritas à molhada? O tanas. Tangas. Imaginários que uma marca cria. Mas não é valor. O único valor que têm, são os que arrancam das nossas ingénuas carteiras, a quem os joelhos tremem sempre que ouvem ou lêem a palavra gourmet.
Não satisfeito com esta quase certeza, decidi ligar para a Pérola da Ilha e pedi para falar com o apoio ao consumidor. No pânico que instiguei sem qualquer propósito, creio que fui parar a uma pessoa importante na hierarquia, que também estranhou quando lhe perguntei como eram feitas as batatas. Não tivesse eu ido parar ao hospital com uma atravessada.
- Ora, a gente descasca as batatas, corta, frita em óleo vegetal, tempera com sal e põe nas embalagens.

Comentários

  1. Caro Anton ,

    eu como morador da linha abaixo do equador , onde verdadeiramente as batatas vieram entendo que não existe a menor possibilidade de as batatas da Ilha serem Pérolas ...a não ser pérolas aos porcos....batatas é um assunto sério e obrigatoriamente a discussão passa pela América do Sul ,onde existem trilhões de modelos de batatas ...onde Gaston Acurio seria a pessoa mais indicada para falar sobre ...
    abraços Jobiniamos
    Pedro Rui

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