Formulário de candidatura a inspector do Guia Michelin.
















O que será mais difícil? Chegar a inspector do C.I.A? Ou chegar a inspector do Guia Michelin? Para L.A.E (nome de código), pode até ser mais complicado chegar a inspector do C.I.A, mas daria muito mais gozo chegar a inspector do Guia Michelin. Pese embora, Pascal Rémy, um veterano inspector, tenha escrito o livro “L’Inspecteur se met a table”, onde desbobina todos os mistérios, dúvidas e mesmo a falta do, suposto, glamour que deveria envolver a profissão. No fundo, um bufo, uma ovelha tresmalhada, que tem todo o direito a escrever e a dizer o que pensa. L.A.E não gosta de bufos, nem de bufas. Mas, neste assunto, não se posiciona nem de um lado do rio, nem do outro. Nem tenta construir pontes. Apenas observa a briga de comadres, onde supostamente se descobrem as verdades. Será este o caso?
Rémy diz que existem muito menos inspectores do que o declarado, num rácio de 55 para 5? Existem Chef’s que só pelo seu nome não perdem estrelas? Parece-me que não teria muitas razões para mentir, mas também não me parece que possa existir algo que o iniba de exagerar. Mas nunca se sabe. O que se sabe é que Rémy foi despedido. Espero que o bufo, mas interessante livro, lhe esteja a proporcionar alimento.
O Guia Michelin teve a sua primeira edição em 1900, criado por André Michelin, para dar informações aos automobilistas, garagens, bombas de gasolina, restaurantes, hotéis e muito provavelmente os melhores bordéis de França, aproveitando uma nova tendência: o turismo. L.A.E, não se vai esticar, alongar, ou sequer fazer Yoga, sobre este lado mais biográfico. Quem tiver interesse, Google it. Até porque não tenho a capacidade, ou unhas, para num único post falar sobre esta instituição sagrada que é o Guia Michelin. Seriam precisos muitos mais posts, e pessoas mais inteligentes e cultas do que L.A.E. O que, se formos a ver, até é bem fácil.
Agora, terá o anónimo comensal, e mesmo o estafermo L.A.E, as capacidades para se tornarem num inspector do Guia Michelin? Dificilmente! Primeiro, porque nos Açores não temos matéria de facto. Em Portugal, temos pouquíssimos estrelados. E nas grandes capitais (Tóquio, NY, Paris, Londres), de certeza que os Ronaldos, Kákas e Messis do Clube Michelin, são firmes titulares. Mas mesmo assim, adorava estar convocado na lista do Carlos Queiroz para África do Sul, ou para onde o Michelin me quisesse mandar. A mala está feita.
Mas, mais uma vez, que não se pense que é uma coisa de animo leve. É uma procifissão de fé. O anonimato deve ser mantido, janta-se sozinho, os prazos são apertados, e são tantos os critérios aos quais tem de se obedecer, que é quase obrigatório escrever o relatório depois de se comer a refeição. Ingrato, solitário e exigente para quem faz deste mundo um puro prazer. Peço desculpa pelo francês, mas é quase a diferença entre gostar de sexo e fazer do sexo uma profissão. L.A.E adoraria prostituir-se. Mas só um bocadinho. Só até perder aquele brilho do fetiche e da transgressão. A partir daí, o que queria era os amigos de volta à mesa, nem que fosse para os fazer sentir verdadeiros anormais, por não conseguirem apreciar determinado conceito ou prato. Iria também, querer o direito a ser quem sou, a falar com os Chef’s e donos de restaurantes, criticando-os abertamente e numa perspectiva de diálogo construtivo.
Mudando alguma coisa? Não. Mas o Guia Michelin também não muda, não estrutura, não constrói, apenas nos passa uma opinião séria, profissional e criteriosa sobre os melhores restaurantes do mundo. E mesmo aí falha, falha como qualquer humano. Falha, porque não conhece todos os restaurantes, falha, porque é acusado de um certo laxismo, mas principalmente, falha, porque não sei quem são o raio dos “famosos anónimos” (Conceito do Guia). Até podiam ser os "eu choro quando vejo comédias românticas anónimos".
A verdade é que confio muito mais no meu instinto, critério e palato do que num tipo que não sei quem é, nem conheço de lado nenhum. É duplamente estranho para mim. No entanto, o guia, serve de GPS, num mundo onde se come cada vez pior, com uma taxa de analfabetismo gastronómico galopante. Quem sabe, no meio deste cenário de quase extinção de critério, L.A.E possa alguma vez vir a ter voz. Mas se querem uma opinião, dou já: invistam em criar a vossa própria opinião.

Qual vendedor de links porta em porta, eis algumas temáticas interessantes. Como são fascículos, pode ir pagando às prestações.

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A recompensa merecida, a mais recente lista de Nova York. L.A.E vai ao Le Bernardin. NY Michelin Guide

Comentários

  1. Amigo palhaiço, tienes tantas chances de ser un inspector, como oy de avoar! Tiene ruizo.

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  2. Este é de facto o tema que liga as rodas aos pratos.
    Sera que o guia vende pneus ou apoia accionistas de redes de fast food.
    Meu Caro amigo este guia é um pesadelo para qualquer um que tenha um restaurante. os primeiros 10 anos de actividade serão só a perder dinheiro para implementar as bases, dos pontos de observação que são muito para além do que chega ao prato, é o parque de estacionamento para se ver se os clientes usam michelan, em Portugal penso serem somente dois os restaurantes, ao pé do ginásio de Portugal e um outro na praça das flores que nem é Tavares rico nem Sobral e companhia.
    Sera que na época seria uma forma de garantir padrões de qualidade?
    o mais importante no meu ponto de vista (já do lado de lá, e de cá agora) é mesmo subir a um ponto de qualidade e serviço, e manter.
    Ser ou não ser um inspector do guia, faz tu um que seja actual este cheira a borracha queimada.

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  3. Não podia concordar mais com o cheiro a borracha queimada, isto apesar de nele constarem muitos e bons restaurantes. E pesadelo é também jogar para as ditas estrelas, o nível é de tal forma exigente e dispendioso que pode levar e levou muita boa gente à falência. Fala-se também de Chef's que abandonaram a cozinha e mesmo a vida por causa de despromoções.
    L.A.E não sabe como reagiria se tivesse 3 estrelas e passasse a duas. Como nunca vou ter sequer uma, este é um problema que não se põe.

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