O Cais 20, que para mim é um 10















Quero que saibam que escrever este post custa muito mais a L.A.E do que ao prezado leitor, que só tem que o ler. E se quiser (eu, optava já por não ler). Apostado na insistência, ou na falta do que fazer no momento, reitero que apesar das constantes alegorias a pancadarias e a cenas de faca e alguidar, a verdade é que não é o objectivo de L.A.E bater por bater.
Apenas como humano, que tão depressa vai de Brega a Chique como de Gourmet a Gourmand, preocupo-me com o estado da nossa restauração, cultura alimentar, agricultura, pescas, tudo o que tenha a ver com alimentação. E na minha opinião, estamos muito mal. É só uma opinião. Não pretendo “evangelizar” o próximo, tal como não quero que o próximo me faça o mesmo.
O exemplo de hoje, ferve em pouca água, até porque 99% das pessoas que conhecem o Cais 20, gostam de lá ir. E o contraditório L.A.E está incluído naquela maioria, que quase dava para formar governo no Luxemburgo. O Cais 20 foi o primeiro a servir refeições até tarde. Tão tarde, que tinha que se passar por uma video vigilância para entrar. Na altura, Introduziu uma filosofia nova, embora nunca tenha encontrado o foco ou corrente, tal como se encontra noutros grandes filosófos. Mas era novo, boémio, com muito fumo, pouca luz, tudo o que se pede às quatro da manhã de uma Sexta-Feira. O aspecto improvisado e exíguo acabava por se aceitar à luz de tudo isto.
Ora a novidade é a novidade. E uma instituição é uma instituição. O Cais 20, doravante Cais 10 (Por demérito e para ver se puxa pelos cordelinhos), está um pouco perdido entre já não ser novidade e andar a milhas de ser uma instituição.
Acreditei que as novas instalações fossem ajudar a encontrar um rumo. O projecto, do ponto de vista empresarial, é muito empreendedor. Mas a novidade, desta vez, morreu à nascença. Um óptimo terreno, com vista privilegiada para o ilhéu de São Roque, mas que da qual cerca de 80% dos clientes fica impossibilitado de contemplar. Um caso de cegueira semelhante ao que assistiu o arquitecto. Se é que esteve um arquitecto envolvido. Porque mesmo cego, pagaria do seu bolso a demolição e até a reconstrução. Os arquitectos que conheço têm consciência. Como acredito que L.A.E também a tem, ou pelo menos, nesta breve passagem pretende ter:
Os amigos de pessoas que estão ligadas à restauração devem passar a sua opinião com a maior sinceridade e sentido critico. Só assim os nossos amigos poderão evoluir.
E o momento é agora. Não é quando os negócios e as boas ideias vão ao ar. Aí é fácil, comer um pastel de Belém com os Velhos do Restelo.
Posto este acto, espero que temporário, de sanidade mental, L.A.E volta à carga, após um entrada num espaço decepcionante, labiríntico e com umas janelas falsas, que não lembram a nenhum arquitecto que faça uma obra de raiz. Do péssimo gosto na decoração ao péssimo serviço é um passo. Mas um passo perdido, porque o serviço, nem ver. Atenção, há lá empregados com uma enorme simpatia. Não se confundam as duas coisas. A minha vizinha também é bem simpática (entre outros atributos), mas se não souber servir à mesa, prefiro me encontrar com ela noutras divisões da casa, ou mesmo áreas comuns do prédio.
O serviço não é estruturado, os procedimentos não estão formalizados, a comunicação entre eles é fraca e pior dos piores: Pura e simplesmente, não somos atendidos. Eu é que me atendo a mim próprio, a calcular pelas vezes que os tenho que chamar, procurar com os olhos, com mãos, até já tive a brilhante ideia de passar uma rasteira. Mas contive-me.
Insisto: são simpáticos, até têm uma piadas giras e manha não lhes falta. O que falta mesmo é prestar um serviço de mesa minimamente aceitável. É claro, que para os outros 139 mil e tal, que comem para viver, isto é igual ao litro de vinho que bebem em jarros de barro e o muito pão, com queijo fresco, de São Jorge, com manteiga e com alho. Empanturrar a barriguinha, com muito pão, é a única maneira de sair com uma conta abaixo da média para o que se paga por cá.
E é tudo mau? Não. (De alguma forma tenho que sobreviver à contradição de lá ir)
Qual aldeia de irredutíveis gauleses, o Cais 10 tem as suas “pièce de resistence”. A começar pelo queijo fresco que é absolutamente divinal. O melhor. Mas para não me perder no fastio de descrever o que gosto, digo que há coisas muito boas, que já foram bem melhores. Aqui, declino-me apenas sobre execução, mais nada. Não estou a deixar que o vírus se espalhe. Aliás, L.A.E reconhece no Sr.Leal mão para a cozinha. Muita. Ali, estamos ao nível de dom. Tivesse ele outra estrutura e suporte. Mas um homem não é uma ilha. Muito menos será um restaurante. Este é o verdadeiro cerne da questão.
Tenho a certeza que o Sr.Leal sabe cozinhar mexilhões melhor do que L.A.E, mas o que vem para a mesa e por uma questão de princípio, não se deviam chamar mexilhões. É um péssimo quadro de um bom artista. Só para dar um exemplo. O Sr.Leal, também sabe, de certeza, que quanto mais cozido o marisco for, pior a sua textura. Mas a doutrina, quase Bíblica, não passa à pratica. Defendo, há coisinhas boas, que enquanto a dimensão era menor, já foram melhores e há muitos equívocos na ementa. Há muitos pratos, o que ajuda a perder o foco, até porque uma marisqueira, que é tasca, mas também tem bifes, tem petiscos, tem comida regional, o peixe mais fresco, as carnes importadas de paragens exóticas, tem que falhar nalgum lado. O Bill Gates deve ser uma nódoa a jogar Solitaire e a lavar peúgas à mão.
No caso do Cais 10, grande parte dos problemas parecem começar na concepção. Concepção de arquitectura, concepção de preparação de cozinha, concepção de serviço e concepção como sinónimo de confecção. Tal como dizia, L.A.E vai continuar a lá ir, com toda a cara de pau, porque a vida, os amigos, e mesmo o prazer de caçar uma refeição, valem muito mais que um bom post. Sendo que isto ser um bom post só pode ser um claro exagero, saio sempre a ganhar.


Grande promoção. Siga o exemplo do nosso seguidor Papio e torne-se um também. Ganhe um faqueiro de Prata, em Inox, de Plástico, assim que se tornar seguidor.
E ainda se habilita ao sorteio de uma viagem a Fátima, com partida de Leiria.

Comentários

  1. Grande Post.
    Dissecante, although cidadoso.
    Bravo!

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  2. Poça…

    …grande post, sim senhor!

    Depois disso, muito dificilmente publicarei um Candilhes Cuicine. A fasquia ficou muito alta.


    Eu dispenso a viagem mas será que ganhei o direito aos talheres de plástico?

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  3. Caro Jordão, muito obrigado pela referência no blog. E só me posso envergonhar de ter corrigido os valores referentes à população de São Miguel, sem ter dito que foi com a ajuda do Jordão. As minhas desculpas!
    Quanto ao Candilhes Cuicine, arrasaria desde o primeiro post. Para bem de L.A.E espero que o projecto fique mais uns tempos na gaveta. A mesma gaveta que irá receber os talheres de prata, em inox, de plástico.
    É só enviar morada. ;-)

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  4. Caro Carlos,
    Adorei o quase cândido.
    Tens que compreender, são os meus primeiros nus artísticos.
    Obrigado como sempre pelo apoio. Será que podemos chamar a isto a construção de uma frente de ataque?

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  5. Bien sure mon ami. Un impérative
    Nonobstant, fais attention au nom de la ligne. C’est un petit peu difficile a déglutir. Tu ne crois ?

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  6. era só para avisar que vou cobrar o faqueiro. tenho dito

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