A segunda crítica :: O Alcides




















Lancei a primeira e fiquei à espera de represálias. Tirando um cocó de pombo no vidro do carro, tudo bem. Por isso, decidi avançar com a segunda critíca, até porque pode ser que me apareça qualquer coisa diferente no vidro. Pelo menos vou fazer por merecer nas próximas linhas. (O pombo podia deixar, por exemplo, uma lagosta, ou um frasquinho de caviar Beluga no vidro do carro. Só uma sugestão)
O Alcides é uma verdadeira instituição em Ponta Delgada. Um restaurante com mais de 50 anos de história e afamado pelos seus bifes. E vamos ser sinceros, nenhum restaurante chega a 50 anos sendo mau. Mas o nome e a dita fama podem ajudar a perpetuar um mito. Não sei se será exactamente o caso. Com uma nova sala e decoração, até certo ponto com bom gosto, a desgraça começa quando num vislumbre, avistamos as bilhas de gás numa espécie de quintal, que arquitectos e proprietários fazem questão de nos mostrar. É assim, caseirinho. O serviço é metido ao amigável, descontraído, tipo Bistro. O que é simpático até começar a falhar, aí os nossos amigos transformam-se numa espécie de querido inimigo. Com alguns equívocos, o humor vai desaparecendo e a familiaridade transforma-se num verdadeiro pain in the ass. Que a minha avó se distraia e traga sopa, quando tinha dito que não a queria, é uma coisa.
Mas este, no meu entender, não é o pior, nem é o problema mais difícil de resolver.
O pior é que das três vezes que lá estive, desde que reabriu com a nova decoração, não conseguiram acertar com o meu bife mal passado, uma única vez. Pergunto-me se mais de 50 anos não chegam para aprender os diferentes pontos de bife? Mesmo que a resposta seja negativa, porque não usar um truque?
Gordon Ramsay ensina-nos 50 anos de pontos de bife, em aproximadamente 10 segundos. (info técnica ao 1'20")

http://www.youtube.com/watch?v=MtIiR7DBAqY&feature=channel

Portanto, outro ponto fácil de resolver. O que não será tão fácil de resolver, porque não sei apontar a solução, é a falta de alma do bife. Todos sabemos que apesar de ser das carnes mais apreciadas e caras, o lombo não tem muito sabor. Portanto, ao invés de um restaurante que nos serve meio quilo de bife e esfregamos as mãos de contentes, no Alcides dá vontade de chorar perante aquele meio quilo de carne do lombo. Mas a culpa não é da carne, é da falta de alma do molho. Insípido e sem nenhuma das propriedades de um bom molho de bife à regional, que é tão, tão simples de fazer e que ao mesmo tempo ajuda a criar um dos melhores bifes do mundo. Portanto, lá fico eu agarrado àquelas tiras de pimenta da terra e aos bons bocados de alho, para ver se faço uma reanimação assistida à mesa. Mas nunca o suficiente para esconder que não há amor a fazer o bife.
Se fosse amigo do dono do restaurante diria que tem ali um excelente negócio. Simples.
Mas precisa de um cozinheiro com amor pelo que faça. Amor este que tem que ser transmitido pelo donos, pela tradição, pela história e tudo mais. Quanto aos empregados de mesa, podem continuar a ser o que são, pois se se enganarem menos vezes, não virão ao de cima nenhum dos problemas apontados.
Como esta é uma área de grande interesse para Luis Anton Ego e temos muitos amigos a trabalhar na área, acabo com um facto curioso: Muitos donos de restaurantes queixam-se que o seu negócio já foi melhor, muitos deles até dizem que não entendem o que se passa. A resposta até é simples, apesar de generalista. São pormenores como estes que descrevi que fazem com que uma pessoa, quase inconscientemente, deixe de ir a determinado restaurante. Por exemplo, Luis Anton Ego nunca mais foi ao Alcides. Mas não é uma vontade manifesta, é inconsciente. Pura e simplesmente saiu da lista e caiu no esquecimento.
Esta é uma área de actividade muito delicada e tenho a certeza absoluta que todos os pormenores contam.
Vamos embora Alcides. Aperta contigo, fazes falta.

Comentários

  1. Meu amigo
    Relatar uma ida a um restaurante, numa ilha que as tascas eram a onde se comia algo que não ficava nada no fundo da panela nem para o jantar, infelizmente não foram reajustadas as normas em vigor, ( tema para segundos devaneios).
    Eu abordava o problemas dos Gastgaber que em português significa; dar ao convidado.
    Não é fácil ter um negocio do género sem tropeçar no Frendshasing
    delegar é fechar os olhos e bater com a lamina de uma faca de legumes na mesa em que esta a mão a segurar 3 preciosas folhas de manjericão
    Dai que 49 anos depois falar no assunto só nos resta degustar o que nos atiram para cima da mesa ou de uma forma aceitável, não sendo necessário ser um serviço á Russa, claro esta se o "Patrã " gosta de branco não ha tinto ou no outro sentido.
    Isto para não falar no "bailin furàde " que a garrafa de 12 anos no dia de aniversario que se envelhece mais 69 dias a ver aquela garrafa aos saltos.
    Sera melhor pensar em comer enlatados pois foi tudo feito como os livros escrevem ou então ir á tasca.
    O turismo é uma industria social, as tascas teem clientes, preço qualidade e comida autentica mesmo que ,,,,,

    No vidro do teu carro quando chegares delisboa tens uma pasta verde amarelada a escorrer e ao olhares vais pensar em tantas coisas o mareta vomitou no meu para brisas e outras coisas ou então ... deila prover ...
    hummmm belo guacamole
    abraço

    Ir a um restaurante é ir por á prova o estomago.

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  2. foudasse, esse gajo aqui em cima tava emocionado, não?

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  3. E o guacamole estava bom?

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  4. L.A.E gosta de emoção. Obrigado anónimo número 1. Partilho de algumas das verdades. Só não queria partilhar as porcarias no vidro. Espero que não saiba onde está estacionado o meu carro ;-) Quanto ao guacamole, não sei responder também. Mas é uma coisa que L.A.E até faz com uma certa facilidade. Abacate bem maduro, e temperar a gosto. Este é o melhor Guacamole do mundo. Se passar por um copo misturador ou por uma varinha mágica, já chega a marte.

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